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O almoço da Diretoria Vogal do IBEF SP é um “termômetro” privilegiado da economia real. Neste evento, CFOs e gestores das maiores empresas brasileiras constroem um panorama setorial e trocam experiências, em um bate-papo leve e informal. A primeira reunião de 2018, realizada em 13 de abril, contou com as boas-vindas do presidente da Diretoria Executiva do IBEF SP, Marco Castro, e do 1° vice-presidente, Rogério Menezes. Mais de 50 executivos participaram.
PANORAMA SETORIAL
A maioria dos CFOs que vocalizaram no almoço ressaltaram que o 1° trimestre de 2018 foi marcado pela recuperação do crescimento em seus setores. Para algumas indústrias, inclusive, a expectativa é crescer acima de 3% no ano – superior ao ritmo do PIB brasileiro, que deve crescer 2,7%, segundo o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central em 16 de abril.
Segundo o termômetro do setor de embalagens e papel ondulado, que atende a uma gama de indústrias tão diversa que vai da alimentícia à automotiva, a economia está retomando, observou Rogério Menezes, CFO da Smurfit Kappa Brasil. O nível de crescimento setorial está em 3%, segundo a ABPO – Associação Brasileira Papel Ondulado. Para este ano, a projeção é crescer de 4 a 5%, em comparação a 2017.
O reaquecimento da economia também foi percebido na indústria farmacêutica, notou Andrea Negrão, CFO da Zambon Brasil. O setor projeta crescimento estável 6 a 7% no ano de 2018. “Vemos um ano mais positivo de retomada, inclusive com a aquisição de novas tecnologias, digitalização, buscando melhorias em termos de custo e performance.”
Para o mercado segurador, a estimativa é crescer entre 6,5% a 9% em 2018, de acordo com dados da CNseg. Com relação ao 1° trimestre, janeiro surpreendeu, mas fevereiro e março foram mais difíceis para o setor. ¨Ainda há o reflexo da retração no consumo das famílias, ocorrida nos anos recentes”, notou Cristiano Furtado, diretor financeiro da Assurant Seguradora, que trabalha com seguros massificados nos ramos elementares e pessoas.
No compasso do PIB, o setor de engenharia e construção civil projeta retomada mais lenta: crescimento de 1.5% para 2018. “No ano passado, já sentimos o mercado melhorar, o setor começou a experimentar um pouco mais de projetos”, notou Daniel Godoy, diretor financeiro para a América Latina da CH2M. “O setor está saindo da inércia dos últimos anos e começando a ganhar tração”, avaliou. Intensivo em mão de obra, o segmento está atento à perda de postos de trabalho na economia brasileira.
O volume de veículos que trafegam nas rodovias também é um indicador da atividade econômica do País. E a leitura é de recuperação no fluxo de veículos leves e pesados, indicadores correlacionados à dinâmica de consumo das famílias e à atividade empresarial, respectivamente, observou Gilson Carvalho, CFO da Entrevias. No trimestre de janeiro a março de 2018, houve aumento de 3% em relação ao período anterior, segundo o índice da ABCR – Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias. “Apesar da velocidade menor, a economia brasileira tem se recuperado. Contudo, o Rio de Janeiro em particular ainda sofre bastante nesse índice”.
A área de tecnologia, que também é um bom termômetro econômico por permear diversas indústrias, registrou aceleração no 1° trimestre de 2018, nas vertentes de equipamentos e serviços ligados à infraestrutura de TI, observou Fabio Castelucci, CFO da HPE (Hewlett Packard Enterprise). A previsão de crescimento setorial é de 6% para o ano. “Todos os indicadores apontam que a economia começou a girar e as empresas têm percebido isso. Já estão renovando a parte de tecnologia para acompanhar esse crescimento.”
No segmento de software, a recuperação está claramente acontecendo, acrescentou Gilsomar Maia Sebastião, CFO da TOTVS. Segundo ele, as empresas estão mais otimistas, e o início de 2018 foi bem melhor em comparação ao início de 2017 no segmento. “O setor têm ajudado a modernizar mais companhias. Temos reforçado muito tendências como indústria 4.0, automatização e internet das coisas, interligando com sistemas de gestão”. Somando tudo isso, a expectativa é de crescimento de 2 a 3 pontos percentuais acima do ritmo do PIB no ano.
No setor de saúde, a inclinação claramente mudou e a derivada está positiva, relatou Luis Blanco, CFO da Odontoprev. Após um ritmo irregular em 2017, o setor de medicina começa a apresentar crescimento estável em 2018, ainda que em ritmo mais lento do que o esperado. O número de beneficiários dos planos de saúde cresceu pelo terceiro mês consecutivo em fevereiro, com alta alavancada pelo segmento empresarial, segundo dados da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar. O setor médico está na vitrine e dois grandes players realizam IPOs: Intermédica, nesta segunda-feira (23), e HapVida, previsto para quarta-feira (25).
Já o segmento de planos odontológicos, mercado que apresenta grande potencial de expansão por cobrir apenas 11% da população, apresentou crescimento mais acelerado, com ingresso superior a 150 mil beneficiários no período.
O setor de telecomunicações, por sua vez, tem enfrentado desafios para a recuperação das receitas. Formado por conglomerados brasileiros e altamente concentrado, está muito ligado ao consumo das famílias – indicador que está em lenta recuperação: o consumo cresceu 1% em 2017 em relação a 2016, após 2 anos seguidos de queda, segundo o IBGE.
Outro desafio é a entrada de novos players no mercado, como as empresas de streaming de vídeo, que têm apresentado forte performance. “É um futuro desafiador para o setor, mas a grande aposta nesse cenário são os eventos ao vivo”, observou Magali Leite, CFO da Band. A expectativa para 2018 é de mais investimentos em segmentos que possuem boa perspectiva de retorno para o setor, como jornalismo e eventos esportivos – incluindo periféricos, no caso das emissoras que não vão transmitir a Copa do Mundo.
O setor de serviços relacionados a recrutamento, seleção e alocação de mão de obra observa o reaquecimento do mercado. Ainda que o ritmo de recuperação de empregos formais esteja lento, a tendência é que novas formas de prestação de serviços vão surgir para suprir a demanda das empresas, observou Paula Raya, CFO da Randstad Brasil.
A grande novidade que trouxe impactos para 2018 foi a publicação da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), que abriu caminho para novas formas de contratação de mão de obra. O grande desafio para as empresas, na avaliação de Paula, será como otimizar e aplicar os aspectos positivos trazidos pela reforma, ainda que se mantenha bastante cautela sobre pontos que ainda precisam se consolidar juridicamente. Atualização: a MP 808/2017 (que alterou dispositivos da reforma) perde sua validade hoje (23), deadline em que deveria ter sido votada no Congresso.
O setor de educação também apresenta perspectiva positiva, com crescimento esperado de 5% a 6% em 2018, analisou José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios. O segmento em ebulição é o de escolas de ensino médio e fundamental, que somam R$ 25 bilhões de faturamento em mensalidades e mais R$ 20 bilhões em atividades complementares, como natação, inglês, artes marciais etc. – totalizando um mercado de R$ 45 bilhões. Apenas para efeito comparativo, os segmentos de pós-graduação, MBA e educação executiva somados correspondem a R$ 10 bilhões no País.
TEMAS NO RADAR EM 2018
IED segue em alta – Próximo de R$ 12 bilhões foi o volume total de investimentos chineses feitos no Brasil em 2017, observou AuryErmel, diretor financeiro do China Construction Bank, especialmente em segmentos como infraestrutura e energia. “Para 2018, a previsão é que a entrada de recursos continue firme”, observou. Na avaliação do executivo, os investidores estão atentos ao cenário político que se desenhará nas eleições presidenciais de 2018, com relação aos candidatos que irão se firmar.
Charles Putz, sócio da Rio Bravo Investimentos, que tem como controladora a empresa chinesa privada Fosun, acrescentou que a Fosun tem analisado e aportado recursos em diferentes setores – já somando R$ 1 bilhão investidos – e continua com apetite para o Brasil. Também membro do Conselho de Administração para o Brasil da empresa indiana Sterlite Power, Charles notou que a companhia arrematou o maior lote do leilão de linhas de transmissão realizado em dezembro de 2017 pelo governo brasileiro, e já está se preparando para participar do próximo leilão, em julho deste ano.
M&A acelera no 1° tri – As operações de fusão e aquisição estão aquecidas. Já somaram, considerando as negociações públicas, quase R$ 40 bilhões nos primeiros três meses deste ano, afirmou Augustos Martins, diretor do Banco Alfa. A expectativa do mercado é para que esse volume atinja R$ 100 bilhões no ano de 2018. “Temos recebido consultas de investidores chineses sobre operações de M&A. Deve ter mais volume e investidores estrangeiros olhando para mercado local”.
Reforma do ISS – O tema ganhou novos desdobramentos. Em 24 de março de 2018, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5835 para suspender dispositivos de lei complementar federal relativos ao local de incidência do Imposto Sobre Serviços (ISS) de planos de saúde e atividades financeiras – que mudaria do município do prestador para o município do tomador do serviço, gerando mais complexidade fiscal para as empresas. “Estamos (empresas do segmento) com essa liminar e esperamos conseguir derrubar essa mudança do domicílio fiscal”, atualizou o executivo Luis Blanco.
A reforma do ISS também abriu espaço para conflitos entre municípios e estados pela tributação das empresas que trabalham com bens digitais, complementou Gilsomar Maia. A alteração na Lei deixou as companhias sujeitas ao risco de dupla tributação por ISS e ICMS, a depender da interpretação de cada fisco. “É uma guerra aberta, que vai subir para tribunais superiores.”
Transformação digital – A democratização da tecnologia está mudando os modelos de negócios e também impactando a educação e as competências do futuro, observou Luiz Zaragoza, diretor do Banco IBM. Ele notou que as escolas já começaram a incluir na grade de ensino a disciplina de programação (coding) para as crianças. “Coding será como uma terceira língua, tão importante quanto o aprendizado do inglês”, notou também José Cláudio Securato, ao acrescentar que MBAs para executivos da Saint Paul já inseriram essa disciplina.
Outro fato curioso citado por Luiz está relacionado à nova geração de clientes que tem chegado ao Banco IBM. “Já vemos jovens de 10, 12 anos que querem montar suas próprias startups e precisam de financiamento”. A forma de lidar e entender essa nova geração empreendedora, aliada à emergência de tecnologias disruptivas como o blockchain, são temas que precisam estar na agenda dos executivos – de todas as indústrias -, frisou Luiz. Inclusive, já existe o mentoring reverso – no qual crianças são convidadas às empresas para ajudar os adultos a reverem padrões fixados e abrirem a criatividade para mudanças de processos. “O principal desafio será mudar nossos modelos mentais para nos adaptarmos a esse novo contexto.”
INTERCÂMBIO DE CONHECIMENTOS
Victor Martins e Haroldo Santos Filho, diretores do IBEF Espírito Santo, (o primeiro líder do IBEF Jovem e o segundo vice-presidente da Diretoria, respectivamente) estiveram presentes no evento. ¨A ideia é conhecer o formato da Diretoria Vogal e levar a experiência para um evento do IBEF ES, aplicando nossas características¨, afirma Martins. ¨É também uma relevante oportunidade de aproximação entre os dois IBEFs¨, completa Santos Filho. A unidade capixaba conta com cerca de 250 associados.
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