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Capacidade do novo presidente de executar propostas será colocada à mesa em novembro e dezembro, destaca economista-chefe do Santander

Se o Brasil tiver uma liderança econômica e política que enfrente os temas difíceis, mas fundamentais para o desenvolvimento, haverá mais crescimento em 2019. A análise é de Mauricio Molan, economista-chefe do banco Santander Brasil, convidado para o encontro do IBEF Global. O evento foi realizado na última semana, com o patrocínio da PwC Brasil.

O presidente que tomará posse em janeiro de 2019, a ser eleito no próximo domingo (28), deverá começar a trabalhar já a partir de novembro para sinalizar e conquistar credibilidade junto ao mercado, observou Molan, ao conduzir palestra sobre o cenário macroeconômico e a perspectiva pós-eleições.

Desafios à frente – Há várias missões para o novo governo: a necessidade de fazer uma reforma política, o ajuste fiscal, mudanças no sistema tributário que tragam mais simplificação e progressividade e a reforma do sistema previdenciário – hoje considerado uma ¨bomba relógio¨.

Como pano de fundo, haverá um ambiente internacional mais desafiador. “O mundo está menos complacente”, ressaltou o economista, ao notar que o ciclo de taxas de juros mais baixas e excesso de liquidez mostra sinais de seu esgotamento. Os Bancos Centrais ao redor do mundo, que injetaram no mercado, nos últimos anos, o valor médio de US$ 1.4 trilhão ao ano, começarão a enxugar esse fluxo. Os investidores, por sua vez, estarão menos tolerantes a ativos de maior risco, como os de países emergentes em desequilíbrio fiscal.

“O que está em jogo é a capacidade e a vontade do novo governo de fazer o ajuste fiscal”, destacou Molan. Já é dada a alta da dívida bruta do governo geral em relação ao PIB, que atingiu o nível de 77% em relação ao PIB neste ano. Se o ajuste fiscal for feito, o ponto de inflexão virá apenas em 2023. “Precisamos fazer com que os investidores acreditem que isso acontecerá e reconquistar a credibilidade em um mundo que terá menos injeções de liquidez”.

Retomada do crescimento – Pelo lado positivo, o economista ressaltou que o Brasil conta com fortes fundamentos internos, como uma dívida líquida do setor público em um dos menores níveis desde a década de 1950, e também um baixo déficit em conta corrente. “O Brasil não precisa de moeda estrangeira para fechar as contas. Ele tem uma conta externa extremamente ajustada”.

A situação de inflação no País também está confortável e dentro da meta (4,53% IPCA acumulado nos 12 meses), analisa Molan, considerando-se que neste ano houve impacto de fatores excepcionais, como a greve dos caminhoneiros, que bloqueou estradas do País por 11 dias no mês de maio, além dos efeitos da volatilidade do câmbio. ¨Mas se você olhar para segmentos como alimentos e produtos industrializados, a inflação está baixa, com crescimento de 1.4% e 1.6%, respectivamente¨.

Talvez o desafio de retomar o crescimento não seja tão difícil quanto parece, observou o economista, ao ressaltar que no início de 2018 o Brasil avançava para um crescimento projetado de 3,5% neste ano, o que não concretizou em função, em parte, de situações excepcionais, como a greve já citada. Ele destacou ainda outros indicadores que apresentam recuperação, como os níveis de confiança dos empresários, o aumento nas concessões de crédito para consumidores e nas vendas do varejo.

Ao citar palavras do economista Paulo Guedes, que assessora a campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL), Molan destacou a importância de trazer o déficit primário para zero e fazer uma reforma da previdência razoável. “Se houver sinalização disso em novembro, vai melhorar a confiança (no País). Caso contrário, não. Se for um governo que chegue com o pé na porta e não se comprometa com essas metas, a confiança não vai melhorar”.

“A grande mensagem é: qualquer um que seja eleito (para a Presidência da República) tem incentivos para fazer o que é certo”, notou Molan. “Porque isso vai gerar dividendos políticos muito rápido”.

“Efeito lua de mel” – O economista disse estar otimista em relação ao cenário que se cria no final de 2018 e no primeiro trimestre de 2019. “Teremos um período de lua de mel, de expectativa, que será bom para gerar o impulso da retomada”, notou.

“Mas 2019 será um ano desafiador, porque a realidade vai se impor. Não é fácil fazer coalizões, não será fácil fazer reformas”, acrescentou o economista. Ele avaliou que esse cenário poderá ser mais fácil com um governo comandado por Jair Bolsonaro, por este já ter sinalizado que terá política liberais. Em sua análise, a eleição do candidato Fernando Haddad (PT) traria um cenário de maior dificuldade para a conquista da confiança junto ao mercado, em função do histórico do partido no governo e a defesa de uma agenda de maior controle do Estado.

“A capacidade do novo presidente de executar as propostas será colocada à mesa ao longo de novembro e dezembro”, completou Molan.

Debate

O economista respondeu várias perguntas da plateia sobre as perspectivas para o País.

Teto dos gastos – Com relação à eventual tentativa do novo governo de fazer uma mudança na lei do teto de gastos —que impede que as despesas cresçam acima da inflação do ano anterior—, Molan avaliou que derrubar o teto será muito difícil, tendo em vista que a matéria necessitaria de aprovação de pelo menos três quintos dos parlamentares e o Congresso estará muito fragmentado politicamente em 2019. Contudo, é possível o novo governo faça uma tentativa de flexibilização, tendo em vista que no atual ritmo, se nada for feito, o teto estourará em dois anos.

Investimentos estrangeiros – O economista destacou que o Brasil continua sendo um país bastante atrativo para os investidores estrangeiros em função do seu tamanho, ainda que os aspectos do cenário de negócios não tenham evoluído substancialmente. Molan ressaltou que a preocupação com a violência no País, por parte dos estrangeiros, chama atenção por surgir com mais frequência, existindo casos de investidores que começaram a pedir carros blindados em suas visitas – mais uma ineficiência gerada pela falta de confiança.

“Se tivermos um mínimo de credibilidade no ambiente macroeconômico, o investimento tende a melhorar. O investimento estrangeiro não vai cair, mas poderíamos estar vendo o dobro do fluxo atual”, ressaltou.

Renovação no Congresso – Molan ressalta que o alto índice de renovação no Congresso a partir de 2019, fruto das eleições para deputados e senadores realizada em setembro, é um tema sensível. “Eu não sei dizer ainda se essa renovação será positiva. O novo presidente precisará fazer as reformas rapidamente, e há muitos parlamentares que estão chegando”, observou. O cenário de fragmentação política, especialmente no Senado, poderá dificultar o avanço de pautas críticas.

Indicadores

O economista fez algumas previsões sobre o comportamento dos indicadores econômicos no final de 2018 e para 2019, em um cenário conservador. Câmbio: R$ 4,10 (2018) e R$ 3,80 (2019); Inflação: 3,90% (2018) e 4,10% (2019); Taxa de juros – Selic: 6,50% (2018) e 7,50% (2019); Crescimento do PIB: 1,5% (2018); 3,2% (2019).

Sobre o IBEF Global

O IBEF Global busca atrair ao Instituto executivos internacionais, CEOs e CFOs, que estão atuando no Brasil e precisam entender melhor o ambiente econômico local. “Nosso objetivo é estimular a discussão de temas relevantes ligados ao ambiente de negócios internacional”, destaca George Cavalcante, vice-presidente do IBEF-SP responsável por liderar a iniciativa.

“É uma alegria para a PwC patrocinar esse evento e manter a parceria com o Instituto”, afirma Marcelo Cioffi, sócio da companhia para a área de Capital Markets. Ele ressalta que o debate promovido pelo IBEF Global acontece em um momento crucial para o cenário econômico brasileiro. “Há uma grande expectativa sobre o que acontecerá. O País poderá ter uma grande janela de oportunidade pela frente”.

Marco Castro, presidente do IBEF-SP, compartilha a visão que tem colhido junto a tesoureiros e investment bankers ao redor do mundo. “Estando o cenário definido, tudo é precificado. Assim que tivermos o resultado da eleição presidencial, nosso país terá numa visão clara de crescimento e retomará a sua trajetória de inovação, de desenvolvimento, de uma nação que tem futuro. É isso o que esperamos e foi reforçado na palestra: precisamos apenas de uma definição e, a partir daí, vamos em frente”.

VISÃO DOS PARTICIPANTES

“A oportunidade de conhecer pessoas do segmento de finanças é muito importante e a apresentação de hoje foi muito enriquecedora sob o ponto de vista de cenário macroeconômico do País pós-eleição. É uma visão diferente que o Banco Santander traz para que possamos avaliar com nossas perspectivas, dentro da empresa, e fazer um benchmark para o futuro do País. Valeu muito a pena ter vindo”, dito por Ricardo Massa, CFO da GE Power.

“Primeiramente, foi um prazer muito grande participar deste evento porque eu tive a oportunidade de reencontrar o meu amigo (Ricardo Massa), que trabalhou comigo no passado. E também conferir a visão de um banco tão grande como o Santander de quais seriam as perspectivas desse momento que vivemos hoje – de uma extrema direita e de uma extrema esquerda – e qual será o impacto disso para o futuro do Brasil e como isso se reflete nos negócios. Então, é sempre bom termos essa oportunidade, além de, obviamente, poder aumentar o networking, conhecer pessoas diferentes. Foi minha primeira participação no evento e considero muito gratificante, espero participar das próximas”, dito por Marcelo Anhesini, CFO da Orphan Drugs Consulting.

“A palestra foi muito válida, pois reafirma a confiança que precisamos ter no Brasil. Eu sou estrangeiro, moro aqui há muitos anos. Sou sócio de uma firma local e continuo acreditando no País. Então, (a apresentação) reafirma um cenário que está mais para positivo do que para negativo. Os números trazem algumas evidências. E o evento tem participantes que trabalham com números o dia todo, então é super interessante. Isso reafirma a capacidade que o País tem de continuar recebendo investimento estrangeiro, e a capacidade que está em todos nós, empresários, de mostrar qual o Brasil que queremos”, dito por Juan Pablo Correa, sócio da Exec.

“É importante ouvir esse cenário positivo de uma economista-chefe de um grande banco, isso faz com que acreditemos mesmo que teremos pela frente bons ventos, bons negócios para as empresas… Estou bastante otimista, acho que a partir de 2019 o cenário vai ser muito positivo, diferente dos últimos anos que temos vivenciado. Dá um certo ânimo, fôlego, um certo senso de que vai dar certo, vamos crescer, o negócio expandirá, ganhará mais mercado. Isso é positivo”, dito por Deivison Cocuzza, gerente financeiro da Gama Italy.

“O Mauricio Molan passou uma visão muito interessante sobre o que poderá ser a economia brasileira em 2019. Ele mostrou um otimismo amadurecido, fundado em percepções bem adequadas sobre como está a economia brasileira e as potencialidades que temos. Acabei de retornar ao Brasil, após morar por dois anos e meio no exterior, e é a minha primeira vez participando do IBEF Global. Gostei bastante do networking, da qualidade das pessoas e da qualidade do evento”, dito por Carlos Coutinho, sócio da PwC.

“Foi uma visão bem otimista apresentada o economista-chefe do Santander, o mercado todo está assim, esperando um bom motivo para voltar a investir. Então, foi uma ótima oportunidade para ouvir o que os bancos estão dizendo também, para tentar amalgamar esse sentimento de todos os executivos. Acho que é minha quarta ou quinta vez no IBEF Global, é um fórum muito bom. Todos os eventos do IBEF-SP têm sempre os executivos mais importantes do universo de finanças, em São Paulo, pelo menos, e acho que é um ótimo ambiente para trocar ideias e melhores práticas, saber o que as outras empresas estão fazendo. E tem um mix legal de profissionais, executivos de empresas, de Big Four, headhunters, consultores”, dito por Marcelo Giugliano, CFO da Amazon Brasil.

“Acho que este é o terceiro IBEF Global do qual eu participo, é um evento bastante interessante. No evento encontramos colegas, conhecemos novas pessoas. A comunidade financeira se reúne aqui. A palestra trouxe uma visão complementar ao que já estamos vendo, lendo nos jornais, de um otimismo com relação ao que pode acontecer em relação à economia. Vemos que existe uma vontade de investir no Brasil, e os investidores estão esperando os resultados das eleições para fazer isso. Então, acho que essa visão nos trouxe um pouco mais de otimismo e veio complementar o que já estamos acompanhando no mercado”, dito por Alexandre Di Sesso (em transição de carreira).

“Foi muito interessante a mescla de convidados do evento porque não tem só associados, mas de profissionais que estão próximos no dia a dia do CFO. Há muitos headhunters, o que é legal para sentirmos o termômetro do mercado. A palestra apresentou um ponto de vista super inteligente, eu já tinha ouvido outros economistas falando sobre o cenário pós-eleição, mas esse tem um approach diferente. Então, para o dia a dia de quem faz orçamento, de quem trabalha planejando dentro das empresas, foi uma visão que vai agregar bastante”, dito por Magali Leite, CFO da Band.

 

 

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