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Nova plataforma de cobrança dificultará fraudes com boletos

Quais os grandes impactos da Plataforma Centralizada de Recebíveis (PCR) para as empresas? Representantes da Febraban, de um ecommerce e de um banco discutiram a questão em evento realizado pela Comissão Técnica de Instituições Financeiras no dia 17 de outubro.

Painel com convidados, mediado por Maria José Cury, líder da Comissão Técnica de Instituições Financeiras do IBEF SP

Desenvolvida pela Febraban em conjunto com a rede bancária, a nova plataforma de cobrança funciona como uma base centralizadora de boletos bancários. Ela permite às instituições participantes compartilhar e acessar dados dos boletos registrados a qualquer momento.

“A forma de compensação bancária contratada pela empresa emissora junto ao banco não mudou. O que está sendo alterado é apenas a maneira como o boleto entra no sistema”, esclareceu Walter Tadeu de Faria, diretor adjunto de operações da Febraban.

A PCR começou a operar em julho de 2017 para boletos registrados com valor igual ou acima de R$ 50 mil. Hoje já é aplicada a boletos com valor igual ou acima de R$ 2 mil.

A expectativa da Febraban era incluir na plataforma os boletos abaixo desse valor, que representam volume de 96,4% do total emitido no Brasil, até o final do ano. Contudo, em função do volume gigantesco – serão 4 bilhões de boletos em circulação no País até dezembro – e para assegurar a transição sem falhas realizada até agora, esse cronograma está sendo revisto para meados de 2018.

Walter Tadeu de Faria, diretor adjunto de operações da Febraban

Mais segurança – O objetivo da plataforma é consolidar a credibilidade do produto cobrança e trazer mais segurança e agilidade para o sistema financeiro, destacou o diretor da Febraban.

O diretor lembrou que desde a implantação do código de barras, na década de 1990, não houve mudança significativa na tecnologia dos boletos. Os criminosos, por outro lado, desenvolveram variadas formas de fraudar os códigos: troca de boleto no trajeto da correspondência, invasão por vírus no computador do emissor, e até mesmo ciberataques na nuvem no momento da comunicação entre o emissor e o banco.

Como resultado, as fraudes cresceram significativamente, atingindo valores aproximados de R$ 500 milhões ao ano. A criação da plataforma é uma resposta das instituições financeiras para uma solução para esse problema.

O cerco se fechará para os boletos sem registro. Quando estiver em pleno funcionamento, as instituições financeiras participantes da plataforma – atualmente 74, que representam 90% do volume do sistema – irão aceitar somente carteiras registradas das empresas emissoras.

Kleber Teixeira, coordenador responsável pelo produto de cash management do Itaú BBA

Mudança profunda – “A Nova Plataforma resultará em ajustes e avanços em todo o sistema, não só na Cobrança, mas também no Pagamento”, destacou Kleber Teixeira, coordenador responsável pelo produto de cash management do Itaú BBA.

Por isso, as companhias terão que preparar seus sistemas ERP para lidar com situações geradas pela nova plataforma, como a eventual recusa de boletos e a forma de registro contábil. “Trata-se de um processo que envolve diversos elementos novos, e justamente por esse motivo, está sendo feito por etapas e com muito cuidado para continuar garantindo a melhor experiência ao cliente”, acrescentou Kleber.
Para os bancos, o desafio de transformação não é menor em termos de operação e tecnologia. A cobrança é um dos sistemas mais antigos das instituições financeiras, e houve uma grande mobilização para viabilizar a mudança.
“Antes, quando o cliente fazia compras no ecommerce no sábado, aquele boleto entrava em um ambiente seguro do banco e só era registrado na segunda-feira. Agora os boletos estão sendo processados aos sábados e domingos. O emissor manda o arquivo e, em milésimos de segundos, ele é registrado na base centralizada permitindo o controle e a segurança sobre toda a vida do boleto”, disse Teixeira.

Fernando Maskobi, diretor financeiro do Walmart.com responsável por planejamento financeiro e tesouraria

Passado este período normal de implementação, a plataforma vai trazer um ganho muito grande para o mercado financeiro brasileiro, avalia o executivo. “A experiência de pagamento do boleto vai virar praticamente uma TED, em termos de agilidade, consistência e conciliação da cobrança”, ressaltou Kleber.

Visão de longo prazo – “Nossa expectativa é que a nova plataforma possibilite uma melhora na taxa de conversão e na experiência do usuário”, avaliou Fernando Maskobi, diretor financeiro do Walmart.com responsável por planejamento financeiro e tesouraria. O ecommerce já utiliza a plataforma para os boletos acima de R$ 2 mil.

Do ponto de vista de meio de pagamentos, o boleto bancário é visto como um dos principais pilares para alavancar o comércio eletrônico. Isso porque tem prazo de recebimento mais curto, quando comparado ao crédito, e não gera problema de descasamento de fluxo de caixa, como os pagamentos parcelados.
Espera-se que a plataforma reduza o número de fraudes que impactam o P&L das empresas, observou Maskobi. Isso possibilitará ao setor alavancar o boleto e oferecer mais promoções e descontos para os clientes que optarem por essa modalidade.

Já para o consumidor, o principal benefício da nova plataforma é a comodidade de pagar o boleto em qualquer banco, mesmo após o vencimento. Com isso, espera-se que as empresas também se beneficiem com uma maior taxa de conversão.

Participantes

Custos e benefícios – Ao responder pergunta da plateia sobre o impacto que as taxas bancárias cobradas pelo boleto registrado terão sobre o lucro das empresas, Maskobi destacou a importância de pesquisar e mirar o longo prazo. “Obviamente, assim que soubemos dessa demanda fomos ao mercado fazer uma cotação com os principais bancos. Existe um custo alto e a conta tem que fechar. Mas estamos visando lá na frente, e a expectativa é que os benefícios cubram os custos.”
Maria José Cury, líder da Comissão de Instituições Financeiras do IBEF SP, acrescentou a avaliação de que apesar das dificuldades iniciais, os benefícios de controle e segurança irão se tornar evidentes para as empresas.

Só quem talvez tenha dor de cabeça com a mudança são as empresas que, sem autorização dos clientes, enviam grande quantidade, como 1 milhão de boletos, para tentar capturar uma pequena parte, talvez 1 mil pagamentos, notou o diretor da Febraban. “O cliente que tem uma emissão de boleto normal, consistente, para venda de produto ou serviço, não terá nenhum tipo de problema. Agora aquele que fazia sem permissão dos destinatários, 1 milhão de boletos para receber 1 mil, esse vai continuar reclamando”, adicionou Teixeira.

(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Mario Palhares)

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