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A sustentabilidade nas organizações

O desenvolvimento sustentável, nos últimos anos, adquiriu uma importância no cotidiano tanto do indivíduo quanto das organizações, principalmente no que concerne às limitações de recursos naturais a serem utilizados.
Nesse contexto, as pessoas deverão ser sensibilizadas e conscientizadas da importância do desenvolvimento sustentável, cuja definição, segundo o Relatório Brundtland1, é:

“o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer as habilidades das gerações futuras em atender suas próprias necessidades.”

No caso das organizações que possuem o conceito de criação de valor, planejam a longo prazo e procuram de maneira contínua as necessidades de bens e/ou serviços que atendam à sociedade, sem destruir a natureza e sem prejudicar o social, o enfoque no desenvolvimento sustentável não é um conceito novo, porque elas já possuem os fundamentos de sustentabilidade.

Nesse sentido, o inglês John Elkington(2), em 1994, criou a expressão Triple Bottom Line (TBL), que para ele significou: people (social), planet (meio ambiente) e profit (economia), os 3Ps, as três dimensões que contemplam o desenvolvimento sustentável.

A ideia do Triple Bottom Line (TBL) é que o sucesso e desempenho das empresas não deveriam ser avaliados somente pelo tradicional bottom line financeiro, mas também pelo seu desempenho social e em relação ao meio ambiente.

Esse conceito, em negócios, pode ser ilustrado, conforme a SOL (2000)3, na Figura 1.

A figura mostra que a biosfera, o planeta Terra, deve ser maior para ter a capacidade de abastecer a população do planeta. A sociedade, por sua vez, deve ser superior aos negócios, caso contrário não haverá mercado para os negócios. Isso significa que os negócios nunca poderão superar a população, com o objetivo de adequar a produção ao mercado consumidor, que por sua vez não poderá superar o planeta, caso contrário não haverá espaço e recursos suficientes. Dessa maneira, haverá equilíbrio e o planeta será sustentável.

Tanto para Elkington (1994)2 quanto para a SOL (2000)3, a empresa, para atender ao desenvolvimento sustentável, seja na elaboração de produtos e/ou na prestação de serviços, deverá atuar nas três dimensões ao mesmo tempo, em que:

• deverá ter rentabilidade (a rentabilidade deve ser maior do que o custo de capital total), atendendo à dimensão econômica;

• deverá trazer benefícios sociais; e

• deverá ocasionar risco zero ou mínimo ao meio ambiente, procurando utilizar recursos naturais renováveis, reuso, reciclagem, evitar desperdícios e outras formas de minimizar o impacto.

A organização que esteja inserida nesse contexto assegura a rentabilidade da empresa propiciando que todas as operações contemplem o valor do dinheiro no tempo, isto é, que as operações de venda tenham taxas que sejam maiores do que o custo de capital total da empresa e as operações de compra tenham taxas inferiores ao custo de capital total, ocorrendo diariamente, e ao mesmo tempo proporcionem benefícios sociais e ambientais.

Em razão do conceito de desenvolvimento sustentável estar sendo incorporado por diversas organizações, muitas começaram a introduzir na sua missão esse conceito, fazendo parte das estratégias formuladas. Quando isso acontece, significa que toda a organização deverá estar alinhada às estratégias para que sua implementação seja facilitada, como vimos na apresentação da Rhodia durante o café da manhã realizado pelo IBEF SP em 26 de janeiro último.

Da mesma forma, para a implementação do desenvolvimento sustentável nas organizações, há necessidade de envolvimento do tomador de decisão no processo de sensibilização e conscientização.

Cabe salientar que a organização é conduzida por pessoas, e elas terão que estar sensibilizadas e conscientizadas na implementação do conceito de desenvolvimento sustentável, porque esse é um conceito que as pessoas deverão incorporar para praticar no dia a dia. Conforme o CEO da Rhodia mencionou em sua apresentação, essa reflexão foi possível porque o CEO mundial da Rhodia expressou o desejo e motivou a empresa a incorporar esse conceito, introduzindo-o na missão da organização.

Outro fator importante na gestão é administrar de forma participativa, que é a política em que as pessoas formam um time, para o qual foram preparadas de maneira emocional para se entenderem e se complementarem. É por meio dela que as pessoas participam do contexto empresarial e se alinham para contribuir com a execução das estratégias a fim de atingir os fins propostos. Esse é um trabalho de médio e longo prazos.

A liderança deverá motivar os indivíduos que trabalham na organização, para que eles se sensibilizem e se conscientizem dos conceitos de sustentabilidade a fim de que os apliquem no seu dia a dia e no da empresa. Segundo Black & Gregersem (2008)4, para mudar estrategicamente a organização, o líder deve mudar primeiro os indivíduos.

A partir dessa sensibilização, a organização e as pessoas estarão alinhadas às estratégias formuladas e os riscos serão minimizados. Por outro lado, o que propiciaria a redução de risco para a organização, com a incorporação dos conceitos de sustentabilidade? Propiciaria às pessoas que trabalham na organização pensarem as diversas dimensões (econômica, social e meio ambiente) ao mesmo tempo em suas tarefas diárias. Dessa forma, os riscos serão atenuados, a partir do momento que a organização incorpore o conceito de sustentabilidade na sua missão, nos seus objetivos, na sua estratégia, na estrutura organizacional e no comportamento humano das pessoas que nela trabalham, conforme a Tabela 1.

O conceito de desenvolvimento sustentável é inter e transdisciplinar, isto é, a interdisciplinaridade representa o grau mais avançado de relação entre as diversas áreas da organização. Se considerarmos o critério de real entrosamento entre elas, na verdade espera-se que surjam novos conhecimentos e posturas dos envolvidos nos diversos processos existentes da organização, conforme Amboni et al. (2009)5 modificado. Quanto à transdisciplinaridade, trata-se de um nível superior de interdisciplinaridade e de cooperação, em que os limites entre as diversas áreas da organização desaparecem e se constitui um sistema total que ultrapassa o plano das relações e interações entre as diversas áreas, gerando uma interpretação holística dos fatos e fenômenos, o que significa, também, ir além dos muros da organização e interagir com os diversos stakeholders (agentes sociais).

1 Relatório Brundtland, Our Common Future, London: World Commission on Environment and Development, 1987.
2 John Elkington, Towards The Sustainable Corporation: Win-Win-Win Business Strategies, For Sustainable Development, California Management Review, em 1994.
3 SOL (The Society for Organization Learning) Sustainability Consortium – Visteon, Integrating Frameworks for Sustainability, may 1, 2000, disponível em: http://www.solsustainability.org/documents/toolkit/Integrating%20Frameworks%20for%20Sustainability.pdf. Acesso em: 20/11/2008.
4 Black, J. Stewart & Gregersen, Hal B. It Starts With One: Changing Indivuduals Changes Organizations. Pearson Education, Inc. New Jersey, 2008.
5 Amboni, Nério, Andrade, Rui Otávio Bernardes de e Lima, Arnaldo José. Programa de Integração Vertical e Horizontal de Conteúdos Programáticos – um Olhar Interdisciplinar nos Cursos de Graduação em Administração frente ao Paradigma da Complexidade. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Administração – ISSN 1984-5294 – Edição especial – Vol. 1, n. 2, p. 131-158, julho/2009.

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