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Para economista da Bloomberg, o pior já passou

As promessas de reforma, em especial a reforma da previdência, contribuem para um maior otimismo do mercado financeiro, disse Marco Maciel

O período conturbado, de grandes incertezas no cenário econômico e na política brasileira, ao qual o economista sênior da Bloomberg Intelligence para o Brasil, Marco Maciel, chama de “trem fantasma”, teve no impeachment seu ponto final. O País, no entanto, ainda enfrenta os mesmos velhos desafios nesse “novo” governo: o elevado déficit primário.

Evento atraiu grande público de executivos

A convite da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do IBEF SP, o economista apresentou as perspectivas para o cenário econômico brasileiro, em café da manhã realizado no último dia 23, na sede do Instituto. Participaram do evento 48 executivos de finanças e profissionais relacionados ao setor.

Com projeções de 9,25% em 2017 para a taxa Selic e inflação medida pelo IPCA de 4,2%, abaixo da meta de 4,5%, Maciel credita às promessas de reforma, em especial à reforma da previdência, seu otimismo. Segundo ele, a responsabilidade na gestão macroeconômica pode reestabelecer o equilíbrio das contas públicas.

Marco Maciel, economista sênior da Bloomberg Intelligence para o Brasil

“Hoje, o governo tem pouca margem de manobra, com rigidez rondando 90% dos gastos totais do governo central. Só os benefícios previdenciários e as despesas com o funcionalismo público consomem perto de 62% das despesas totais do governo central. A despesa com subsídio, uma das poucas que ainda podem ser comprimidas, vem caindo do patamar de 5% do total em 2016 e, estimo, alcance 0,5% até o final de 2017”, diz Maciel.

Para o economista, com participação declinante do BNDES, o banco deixaria de subsidiar gradualmente investimentos para atuar mais intensamente no mercado de debêntures de infraestrutura. Mas isso dependeria em larga escala da diminuição do ramo mais longo da curva de juros futuros.

Acesse aqui o PODCAST “Cenário econômico, o que esperar de 2017 e 2018?¨, com o economista Marco Maciel

O economista da líder global de informações financeiras e de negócios e notícias Bloomberg realça também que as despesas discricionárias, hoje em 22,8% do total do governo central, têm também elevado grau de rigidez. “Pelo lado da despesa, além dos financiamentos via BNDES, os cortes no PAC – Plano de Aceleração do Crescimento – e em subsídios não seriam suficientes para interromper o viés de alta da relação dívida pública/PIB que deve fechar 2017 acima dos 70%”, sustenta.

Eleições presidenciais podem surpreender em 2018

O debate levantou, ainda, outras questões, como a possibilidade de crescimento das receitas. Nesse quesito, Maciel avaliou que o crescimento das receitas estaria condicionado ou a um aumento de impostos – o que vê como uma alternativa recessiva, sobretudo em relação à retomada do investimento -, ou ao aumento de receitas extras, a exemplo da repatriação de capitais, que terá uma segunda fase este ano. Em 2016, o governo arrecadou quase R$ 60 bi com a primeira rodada de regularização. Este ano, a expectativa é repatriar outros R$ 30 bi.

Quanto aos impostos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já sinalizou um provável aumento, ao anunciar um rombo de R$ 58,2 bi no orçamento deste ano e uma meta fiscal de déficit da ordem de R$ 139 bi. A previsão de queda das receitas, segundo o Ministério do Planejamento, chega a R$ 55 bi. As despesas, por sua vez, são estimadas com acréscimo de R$ 3,4 bi.

Os números fizeram o governo recuar a expectativa de aumento do PIB, de 1% para 0,5% em 2017. Longe do ceticismo da recuperação, Maciel afirma que o PIB cresce, mas o investimento não acompanha esse crescimento, porque é grande a ociosidade na indústria.

Palestrante e time da Comissão de Tesouraria e Riscos

No que toca ao câmbio, o economista da Bloomberg acredita que o mercado financeiro está experimentando certa euforia e que, a partir das reformas, o real deve apreciar-se, mesmo frente ao “Trumponomics”, referindo-se à incerteza da política econômica do governo de Donald Trump.

Segundo Maciel, os desdobramentos da reforma trabalhista não serão sentidos de imediato. “Há uma defasagem aí que é difícil estimar.”

Para 2018, embora o economista considere um crescimento de 1,7% do PIB – a projeção do governo é de 2,5 % –, prefere manter a cautela: “muita coisa pode mudar dependendo das urnas, do plano de governo, da equipe econômica. A queda no risco político dependerá do candidato que estiver à frente nas pesquisas”.

(Reportagem: Natália Fontão / Fotos: Mario Palhares)

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