O CFO da IBM Brasil contou os aprendizados que fizeram a diferença para o sucesso profissional em encontro de mentoring promovido pelo IBEF Jovem
Serafim de Abreu queria ser surfista profissional. Como bom carioca, nasceu praticamente com o pé na areia, e desde os cinco anos de idade já pegava ondas nas praias do Rio de Janeiro. Na juventude, alimentava o sonho de abrir um restaurante de comida natural e uma loja de artigos para surfe. Contudo, as reviravoltas do destino acabariam por mudar decisivamente a sua trajetória. Hoje ele é CFO de uma das maiores empresas de tecnologia no Brasil, a IBM.
O caminho que levou às mudanças de carreira e as principais lições extraídas dele, Serafim de Abreu contou em um bate-papo animado e informal com jovens profissionais no mentoring promovido pelo IBEF Jovem, na última terça-feira (21). O CFO destacou três elementos decisivos para o sucesso em sua carreira. Confira a seguir!
1) Saiba quem você é e seja honesto com você mesmo
Mesmo sendo um bom surfista na juventude, Serafim de Abreu percebeu que isso não seria suficiente para seguir a carreira de atleta profissional. Decidiu então abrir um negócio relacionado ao esporte e viu na faculdade de administração e marketing uma oportunidade para se preparar. ¨Naquela época, eu queria empreender, enquanto os meus colegas de faculdade queriam ir trabalhar em bancos¨. Era a década de 1990, e o Rio de Janeiro acolhia um palpitante mercado financeiro.
No meio da faculdade, Serafim teve que fazer o estágio obrigatório. Iniciou sua experiência na área de compras de um laboratório farmacêutico. Começou a mudar processos internos e, em apenas seis meses, foi efetivado na companhia.
Em busca de novos aprendizados – Pouco tempo depois, um amigo que estagiava na IBM o incentivou a tentar um estágio por lá. Serafim fez a prova, a entrevista…e não foi o selecionado. Já desencanado com o processo seletivo, dias depois recebeu uma ligação da área de RH da corporação: o candidato selecionado havia desistido e a vaga era dele.
Após 1 ano de estágio na IBM, Serafim foi efetivado na área financeira. Mas não parou por aí, um ano depois, foi convidado pelo CFO da empresa, para encarar uma designação internacional na área de auditoria interna da Corporação em Nova York. ¨Sempre busquei aprender algo novo, ir para uma função que não conhecia ainda, mesmo sabendo que não estava totalmente preparado. Eu me tirava da zona de conforto o tempo todo ¨, observou o executivo.
Reconhecer e superar limitações – A preparação para a área de auditoria interna da IBM exigia um treinamento inicial de 2 semanas em Nova York. Serafim aceitou o desafio, mesmo ciente de suas limitações: inglês básico e pouco conhecimento sobre a área e sua linguagem técnica. Apesar de todo o esforço e noites sem dormir, estudando para superar essas barreiras, as lacunas foram logo identificadas por seu instrutor.
As cartas foram colocadas na mesa. O instrutor o chamou para uma conversa, o alertou sobre seus gaps, e perguntou se ele realmente queria a posição. Mesmo ciente da grandiosidade do desafio, Serafim disse que sim e se comprometeu a melhorar seu inglês e estudar com ainda mais afinco para continuar no programa. Foi então designado para fazer parte da equipe de auditoria interna da IBM Corporation. No primeiro ano, teve desempenho razoável. No segundo, foi bem. No terceiro ano, recebeu o prêmio de melhor auditor da corporação.
A atuação de Serafim foi decisiva para a descoberta de falhas em processos importantes da empresa. Dez anos depois, curiosamente, ele veio a se tornar gerente daquele profissional que um dia foi seu instrutor, o que foi motivo de orgulho e emoção.
Para Serafim de Abreu, ¨ser quem você é¨ envolve tudo aquilo que um profissional carrega em seu ¨pacote¨ pessoal: a sua personalidade, sua família, seus valores, o que estudou, como se preparou para os desafios, e, principalmente, a forma como se relaciona com os outros. Dentre as características pessoais que o ajudaram na carreira, destaca o fato de ser muito observador e equilibrado. Outra característica importante foi que sempre buscou deixar um legado nas áreas por onde passou.
¨Sempre procurei deixar uma marca para que as pessoas lembrassem de mim nos lugares em que trabalhei. Mesmo que eu fosse ficar apenas seis meses em uma área, eu me programava para deixar algum legado nesse período. Isso faz a diferença no currículo do profissional, e, pessoalmente, é muito gratificante ver seu esforço materializado em algo significativo¨, ressaltou o CFO para os jovens profissionais.
2) Cultive o networking de valor
O perfil profissional e o conhecimento profundo sobre os negócios da companhia, aprimorado pela experiência de auditor interno, abriram as portas para várias evoluções na carreira de Serafim de Abreu. Com apenas 24 anos, ele assumiu sua primeira posição de gerência, na área de Desembolsos/Tesouraria, liderando um time de 46 pessoas. Aos 30 anos, se tornou um dos executivos mais jovens da empresa.
Em duas décadas na IBM, Serafim gerenciou a área de preços no Brasil e na América Latina, passou por diversas áreas de negocio e serviços como CFO na região, dirigiu a área de negócios de BPO da IBM na América Latina, e também foi responsável pelas operações do negócio de consultoria da IBM na região. Em 2016, assumiu o cargo de CFO da IBM Brasil, aos 40 anos de idade.
¨Ser CFO era meu trabalho dos sonhos na IBM. Desde a época de estagiário, sempre fiquei muito perto do líder de finanças e sabia que queria sentar nessa cadeira um dia. Saí da área de finanças, me envolvi na área de negócios, mas sempre soube que precisava passar pela cadeira de CFO, e me preparei para isso¨, destacou Serafim de Abreu.
Cultivar bons relacionamentos profissionais foi um elemento importante para a ascensão na vida executiva, observou Serafim ¨Muitas pessoas de dentro e fora da IBM me ajudaram na carreira¨, destacou o CFO. ¨Estar aqui neste mentoring, compartilhando minhas experiências com vocês, é também uma forma de retribuir um pouco do muito que recebi¨.
Serafim de Abreu destacou que a tecnologia é uma grande ferramenta a favor do networking, pois permite acessar qualquer pessoa em qualquer lugar. Contudo, alerta, bom networking não se resume a ter 2.000 contatos em uma rede social ou profissional na internet. ¨O verdadeiro networking é poder ligar para aquela pessoa a qualquer hora e saber que ela vai te atender, você poderá falar com ela sobre um problema ou pedir um conselho. Esse é o relacionamento que realmente agrega valor¨.
O networking precisa ser uma via de mão dupla, acrescentou o CFO. ¨É dar e receber. A outra pessoa deve enxergar valor na relação com você e também ter interesse em cultivá-la, nem que seja pelo aspecto da troca de conteúdo profissional ou a perspectiva de fazer negócios¨.
3) Trabalhe duro, mas com equilíbrio
¨Não conheço ninguém que construiu uma carreira de sucesso sem ter trabalhado duro¨, destacou Serafim de Abreu. Trabalhar duro não significa trabalhar excessivamente, ponderou o CFO, mas focar a atenção e a energia para executar as tarefas no horário de trabalho. Ser eficiente não é sair da empresa sempre às 22 horas, trabalhar todos os sábados ou enviar e-mails às 2 horas da madrugada. Eventos especiais podem requerer um período maior de dedicação, mas a exceção não pode virar a regra.
¨Costumo alertar os profissionais sobre a importância de ter limites e equilíbrio no horário de trabalho. Se isso não está acontecendo, provavelmente há alguma coisa errada no processo ou o desempenho está deficiente em algum aspecto¨, observou o CFO.
Conciliando vida pessoal e trabalho – Serafim de Abreu destacou que a boa gestão do tempo é uma de suas prioridades, e a busca pelo equilíbrio é uma filosofia de vida. Só assim é possível balancear as diversas ¨caixas¨: família, trabalho, saúde, estudos e amigos. ¨Mesmo com os altos e baixos da vida, você precisa se esforçar para equacionar todos esses aspectos, e ser uma pessoa plena e feliz¨.
O executivo trabalha em São Paulo, mas sua família mora no Rio de Janeiro. E, apesar de a ponte aérea ser comum nos fins de semana, a tecnologia também é uma grande aliada para diminuir a distância e a saudade. ¨Eu acredito em qualidade do tempo e não em quantidade. Quando estou com a minha família, minha dedicação é total. Sempre buscamos conciliar as agendas para ficarmos mais tempo juntos¨, ressaltou Serafim.
Postura equilibrada – O equilíbrio não diz respeito só ao tempo, mas, principalmente, às emoções. Esse aspecto é fundamental para quem for se candidatar à cadeira de CFO, destacou Serafim de Abreu. ¨O CFO é o profissional de quem todos esperam a decisão correta. Todas as questões importantes da empresa passam pela agenda dele, seja porque envolvem recursos ou pois afetam a estratégia e a perpetuidade da empresa. O profissional que senta na cadeira de CFO tem que ter uma vida balanceada. Ele não pode se dar o luxo de tomar uma decisão errada por uma questão emocional¨, disse, após chamar atenção também para a responsabilidade estatuária de quem assume o cargo, respondendo legalmente com o seu CPF, incluindo muitas vezes, seu próprio patrimônio.
Outra habilidade importante do CFO é capacidade de negociação. Isso envolve dizer alguns ¨não¨ (bem fundamentados), mas, principalmente, encontrar formas de dizer o ¨sim¨, pensando fora da caixa e sendo parceiro do negócio. ¨Você esta negociando o tempo todo, seja com o time, com os chefes, clientes ou fornecedores. E, não basta aplicar uma boa técnica de negociação, mas é fundamental ser honesto com a outra parte. É isso que faz a reputação do executivo¨.
No entanto, talvez o conselho mais importante de todos para a carreira é simplesmente ser feliz com o que você escolher fazer. ¨É preciso se divertir no trabalho, sentir alegria. Não há coisa pior que um CFO triste (risos)¨, disse Serafim, sempre bem-humorado. ¨A vida é preciosa e você precisa fazer dela o melhor possível. O mais prazeroso de tudo é você fazer o que gosta com um propósito, olhar para trás e ver o seu legado, pois você sabe o quanto ralou para chegar lá¨.
E como ficou o sonho antigo de ter um restaurante de comida natural e uma loja de artigos de surfe? Serafim ainda pega onda nas praias cariocas, mas disse não ter se arrependido das escolhas que fez. ¨Eu era muito jovem e inexperiente, provavelmente se tivesse empreendido naquela época teria me frustrado cedo demais¨. Contudo, ele não descarta a possibilidade de, após a vida executiva, construir uma segunda carreira ou até mesmo abrir seu próprio negócio. ¨Ainda não sei como será, mas tenho uma certeza: quero fazer a diferença na vida das pessoas, e ser feliz com o meu trabalho¨.
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: IBEF SP)
