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S.O.S. câmbio

Por Sergio Tauhata | De São Paulo

O engenheiro civil Fabiano Romanel: controle de gastos e cartão pré-pago garantiram lua de mel em paz com o bolso

A alta do dólar tem deixado as viagens de muita gente mais distantes. Além de aumentar os custos em reais, a instabilidade da moeda traz aos brasileiros o risco de verem as faturas de cartão de crédito alçarem voo após uma temporada de compras no exterior. Nesse cenário, fazer um roteiro das despesas e estabelecer limites para os gastos se tornam proteções necessárias contra eventuais surpresas financeiras trazidas na bagagem. “Ninguém olha noticiário econômico nas férias e nem deveria. Por isso, é melhor estar preparado antes de embarcar e saber controlar o orçamento lá fora”, afirma Antonio De Julio, especialista em finanças pessoais da consultoria MoneyFit.

A volatilidade expõe os viajantes a riscos difíceis de antever. No histórico de cotações, o sobe e desce do câmbio pode acelerar subitamente. Em setembro de 2011, por exemplo, a moeda americana ganhou forte impulso: saiu de R$ 1,61, no primeiro dia, até chegar a R$ 1,88, no último, ou seja, uma valorização de 16,77% naquele mês. Depois de um período de variação menor, de outubro de 2011 a março de 2012, quando as cotações oscilaram entre R$ 1,70 e R$ 1,85, o movimento de alta recomeçou em abril, quando o dólar passou a romper níveis mais altos até alcançar R$ 2 no dia 15 de maio.

No curto prazo, a tendência do dólar deve ser a de orbitar ao redor de R$ 2 ou mesmo registrar um ligeiro aumento, segundo o professor da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP), Keyler Carvalho Rocha. “A alta do dólar é um pouco artificial, provocada pelo governo. O real deixaria de se desvalorizar, se o governo decidisse mudar a postura”, afirma Rocha, lembrando que a possibilidade de nova redução da taxa Selic no fim do mês reforça o cenário de enfraquecimento do real.

O diretor de Câmbio do Grupo Fitta, Fabiano Rufato, partilha da análise do especialista da FEA/USP. “A instabilidade da Europa tem deixado o mercado mais nervoso e o risco da moeda ter picos no curto prazo é grande”, diz.

Mas como se prevenir nesse período de incertezas? Na opinião de De Julio, da MoneyFit, o primeiro ponto é evitar o cartão de crédito, que converte o câmbio no fechamento da fatura e não no dia da compra, sem falar no IOF salgado, de 6,38%. “Como a conta do cartão só chega após dias e até semanas depois do gasto, a incerteza pode se tornar uma loteria”, afirma. Na hora de comprar moeda para viajar, De Julio aconselha a diluir o risco da volatilidade ao longo do período que antecede o embarque. “Comprar dólares ou euros um pouco a cada mês, como se fosse uma poupança, ajuda a ter uma cotação média mais equilibrada”.

Foi o que fez o engenheiro civil Fabiano Romanel entre setembro e novembro do ano passado, período marcado pela alta volatilidade. Quando começou a planejar sua lua de mel em Paris, na França, o dólar estava em torno de R$ 1,60. “Por sorte já tínhamos comprado o pacote, com hotel e passagens aéreas. Mas assustamos, porque, de repente, a cotação disparou”, conta. Em meio ao aumento de volatilidade, o casal decidiu adquirir moeda aos poucos. “A cada janela de baixa comprávamos uma parte dos € 2 mil que queríamos levar. No fim, conseguimos ter uma cotação média bem satisfatória.”

Quando os recém-casados Fabiano e Gisele Romanel embarcaram rumo à Europa, em 13 de novembro, o dólar estava na casa de R$ 1,74 e o euro, a R$ 2,39. Decididos a controlar os gastos e não correr o risco de serem surpreendidos pela instabilidade do câmbio, os dois levaram cartões pré-pagos com 60% dos euros que tinham comprado e o restante em papel. Evitaram também usar o crédito. “Tive um amigo que viajou aos EUA em setembro do ano passado com o dólar a R$ 1,50 e fez todas as compras no cartão de crédito. Quando veio a fatura o câmbio tinha subido para R$ 1,80”, conta o engenheiro. Para ele, administrar o dinheiro ficou mais fácil porque podiam acompanhar o saldo restante a cada dia. A disciplina compensou: na volta ao Brasil, a moeda americana tinha alcançado R$ 1,85 e o euro, R$ 2,50.

No curto prazo, porém, se a viagem for ocorrer em até um mês, travar o câmbio dos valores a serem levados elimina a chance de ser surpreendido por uma alta. “Os mercados estão tensos, então quem está perto de viajar que faça logo a compra da moeda”, aconselha Rufato, da Fitta.

Para travar o câmbio, o usuário pode adquirir papel moeda ou carregar, com a divisa desejada, os cartões pré-pagos, usados para pagamentos ou saques no exterior. No Brasil, produtos de três bandeiras, Visa Travel Money, Mastercard Cash Passaport e American Express Global Travel, são emitidos pelos principais bancos e corretoras de câmbio. “A melhor estratégia é dividir a quantia total a ser levada nas duas modalidades. Isso porque dinheiro pode ser perdido ou roubado e o cartão pode, eventualmente, falhar”, diz De Julio.

Em tempos de sobe e desce do dólar, o turista costuma ficar obcecado com a cotação. Mas, para o autor do blog “Viaje na Viagem”, Ricardo Freire, o foco não deve ser levar vantagem na compra de moeda. “O viajante precisa pensar diferente do investidor porque o objetivo não é lucrar e sim se proteger. É mais importante se planejar e ter à mão os meios de pagamento que te ajudam e salvam na hora certa”, afirma. O especialista explica que, além do papel e do pré-pago, cartões de crédito e de débito também devem entrar na lista do usuário, porque ajudam em diversas situações.

Na modalidade dinheiro eletrônico, os cartões pré-pagos ganham cada vez mais espaço nas carteiras dos viajantes. Esse tipo de pagamento consegue substituir tanto os de crédito quanto os travellers checks, que têm aceitação limitada fora dos EUA e, muitas vezes, precisam ser trocados por papel moeda em instituições financeiras. “Esses cartões conseguem atender totalmente as expectativas de quem usava o traveller”, diz Alexandre Fialho, diretor de Planejamento do Banco Rendimento. Segundo o executivo, a modalidade já representa 60% das transações de moeda para viagens feita pelo grupo.

Depois de carregados, os pré-pagos funcionam, na prática, como cartões de débito comuns. Usam as mesmas maquininhas tipo POS (Point of Sales), encontradas em supermercados, lojas, hotéis, restaurantes e até táxis.

E saques podem ser realizados nas ATMs de bancos internacionais, que integram as redes Cirrus (Mastercard), Plus (Visa Electron) ou American Express – mas as retiradas têm tarifas de US$ 2,50, € 2,50 ou 1,75 libras.

Além da vantagem operacional, os cartões do gênero são isentos de tarifas de manutenção e anuidades, o saldo não vence e podem ser recarregados à distância – em alguns casos até por meio do internet banking. Existem produtos que aceitam vários tipos de moedas – dólar, euro, libra, peso argentino e dólar canadense.

Com isso, o usuário consegue escapar da taxa de conversão, de 3% a 5,5%, cobrada nos cartões de crédito, quando a compra não é feita em dólar.

Fonte: valor.com.br

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