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Vivien Rosso: em defesa da gestão humanizada

Construir pontes entre as pessoas é o mecanismo que a executiva Vivien Rosso privilegia para cravar decisões equilibradas e gerar prosperidade por meio de seu trabalho.

Vivien Rosso, superintendente geral do A.C. Camargo Cancer Center

Foi com olhar firme e afetuoso, roupa discreta e gestos contidos, que Vivien, uma das principais executivas do País, iniciou sua fala na última edição do “Encontro com CEO”, evento realizado pelo IBEF Mulher em setembro. Há quase três anos à frente do A.C. Camargo Cancer Center, o terceiro maior centro de tratamento de câncer do mundo, ela projetou sua voz calma e determinada para defender um modelo de gestão baseada na construção de pontes entre as pessoas.

Entender a perspectiva de outros indivíduos foi um dos primeiros aprendizados que Vivien começou a tecer antes mesmo de escolher sua profissão. “Nasci na África do Sul. Tive a oportunidade de viver em vários lugares, o que me fez entender as particularidades de cada sociedade. Assimilei desde muito cedo que a forma de pensar está moldada em nossa cultura e levei para a vida essa sensibilidade, para entender como as pessoas se comunicam”.

Carreira

Tal percepção é um dos principais guias da sua carreira. Vivien defende a habilidade de promover diálogos como uma ferramenta essencial para possibilitar a tomada de decisões equilibradas. Depois de trabalhar por nove anos na TecToy, e emendar mais 14 no Grupo Fleury – o qual assumiu a presidência no fim de 2013 – a executiva com 25 anos de atuação, mãe de dois filhos, encara agora a missão de dirigir o A.C. Camargo Cancer Center.

Ao comparar o setor de tecnologia com o de saúde, a profissional destaca que alinhar as expectativas é um dos maiores desafios encontrados no segundo. “Contamos com 6 mil profissionais, 450 leitos visitados a cada dia por ao menos cinco profissionais de diferentes especialidades. Mesmo com os controles de processos, não é possível garantir 100% de acerto. Aqui a questão da confiança nas pessoas é mais forte”, diz Vivien, ao acentuar a importância de manter a todo tempo a gestão por influência.

O poder de influenciar, de acordo com sua percepção, é conquistado dia após dia e tem como premissa a confiança que as pessoas têm no seu trabalho, reflexo de seu esforço para estar sempre muito bem informada e atualizada. “Quando comecei a exercer minha função no A.C. Camargo, sabia basicamente dados numéricos sobre o câncer. Tive de aprender, ler tudo o que pude sobre o assunto e conquistar a bagagem para promover o diálogo qualificado entre os profissionais. Sempre busquei em minha honestidade intelectual referências para promover alinhamento em benefício de todos”.

Executiva ressaltou a importância da gestão por influência e de construir relações de confiança com os profissionais

Responsabilidade social

Graduada em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Vivien tem MBA em Economia da Saúde e especialização em Marketing, Finanças e Governança Corporativa.

Para se manter sempre atualizada, além de pesquisar referências teóricas de qualidade, também busca se conectar com pessoas que tenham o mesmo foco de interesse. “É importante conversar com profissionais de várias gerações para refletir sobre os diversos pontos de vista relacionados aos mesmos temas. O autodidatismo é sempre bom para gerar reflexão. Às vezes, me deparo com profissionais super capacitados em relação à formação, mas que demonstram dificuldade em antecipar as consequências de suas ações”.

Em sua avaliação, os executivos têm de compreender e questionar os impactos de suas ações, levando em consideração as consequências das decisões para a vida das pessoas potencialmente afetadas e para o planeta. “Somos indivíduos com valores e dedicamos nossas atividades para a sociedade. Temos o dever, a responsabilidade e o privilégio de construir algo para os nossos filhos. É sempre importante entender a quem você está servindo quando age de uma maneira e não de outra”.

Participantes do evento

Futuro

Em relação ao planejamento da carreira, a executiva considera a maneira de avaliar o mundo como um dos aspectos mais importantes quando o tema é o futuro. “Devemos nos questionar sobre qual será a dinâmica deste mundo daqui a 10 ou 20 anos. Muita coisa deve mudar em meio à transformação tecnológica que estamos passando”.

Vivien acredita que irá ocorrer um processo de automação também nas atividades liberais, e destaca uma importante transformação já em processo: o enfraquecimento da hegemonia norte-americana nos negócios, dinâmica que prevaleceu nos últimos 50 anos. “Hoje observamos uma multilateralidade no contexto de liderança global, com a crescente consciência em relação às ameaças climáticas e também a maneira como funcionam os sistemas (capitalista ou outros). É importante colocarmos tudo isso no nosso contexto pessoal e profissional para saber como nos projetamos no futuro”.

Gênero

Um dos pontos mais relevantes em relação a gênero nas altas cúpulas das empresas é a ausência de mulheres nos Conselhos de Administração. Com a bagagem de quem tem quase 30 anos de profissão e a experiência de ter sido vice-presidente do Conselho do Fleury, Vivien se dedica desde 2008 a incluir mulheres nesse ambiente por meio de um trabalho voluntário na Women Corporate Directors (WCD), Organização Não Governamental norte-americana presente em diversos países.

Vivien promove mentoria e aproximação entre agentes com o intuito de preparar executivas para posições em Conselhos de Administração

“Nos dedicamos a promover mentoria e aproximação entre os agentes com o intuito de preparar as executivas para participarem de Conselhos de Administração”, destacou.

Vivien disse ouvir com frequência, em fóruns de investidores, que é difícil encontrar mulheres com formação suficiente para assumir uma cadeira, mas ela acredita que a questão real é a falta de comunicação, conhecimento e compreensão.

“Para ajudar a mudar esse quadro, tenho realizado um trabalho de aproximação com agentes, pautado em conversas pessoais. Proponho-me a indicar executivas com os requisitos necessários para ocupar uma vaga aberta. Esses esforços tendem a colaborar para a construção de uma base de conselheiras qualificadas nas empresas. É o primeiro passo para promover um movimento que tende a se desenvolver, com seus bons resultados, por si mesmo”.

(Reportagem: Priscilla Arroyo / Fotos: Priscilla Arroyo, Magna Oliveira e Elaine Romero)

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