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Crédito para empresas esboça recuperação sustentada

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Por Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC

Costumo afirmar que, do ponto de vista do mercado de crédito, durante a recente crise econômica pela qual passamos, as empresas sofreram muito mais do que os consumidores. Não que não tenha havido uma piora generalizada na capacidade de pagamento e consumo por parte das famílias, mas o ambiente de negócios para as empresas levou-as a um beco sem saída.

Enquanto as famílias mudaram radicalmente seu comportamento em relação ao consumo, as empresas não puderam utilizar-se de tal estratégia. Os consumidores pisaram fortemente no freio. Com o orçamento reduzido evitaram a tomada de crédito e os gastos com compras no varejo. O indicador de demanda por crédito do consumidor da Boa Vista SCPC chegou a cair mais de 10% (na variação acumulada em 12 meses) no auge da crise entre 2015 e 2016, e o movimento do comércio chegou a recuar mais de 6% na mesma base de comparação.

As empresas, por sua vez, não tiveram a mesmas chances para adaptaram-se ao novo ambiente. A redução da atividade econômica levou a uma redução no ritmo de crescimento das receitas ou mesmo a uma queda em relação a períodos anteriores. Os preços ainda em crescimento aumentaram os custos de produção (a mão-de-obra-, principal componente dos custos na maior parte das empresas, são normalmente reajustadas a taxas próximas do aumento de preços (IPCA). Receita e custos entraram em desarmonia, reduzindo os fluxos de caixa. Nesse caso a saída mais natural vem do mercado de crédito, via financiamentos para capital de giro, mas com o aumento da rigidez do setor bancário perante os riscos de inadimplência, os custos e dificuldades para os empréstimos aumentaram bastante.

Esse cenário se refletiu no mercado de crédito. As concessões (novos empréstimos) que permaneceram anos em patamar de crescimento negativo no período entre o início de 2015 e o início de 2017 voltaram a crescer, inicialmente para as famílias, que mais desalavancadas e menos inadimplentes retornaram ao mercado de consumo.

O retorno das concessões de crédito para as empresas para o patamar positivo aconteceu com quase12 meses de defasagem. E o ambiente econômico foi vital para essa retomada, mesmo que de forma lenta e gradual.

Com a melhora no consumo, as receitas das empresas voltaram a crescer, ou pelo menos pararam de cair, e com a inflação baixa os custos das empresas ficaram menos pressionados. Com isso os fluxos de caixa melhoraram e a capacidade de pagamentos também melhorou. Os números de solvência e de inadimplência são fortes indicadores desse movimento. As falências estão recuando mais de 20% no acumulado em 12 meses e a inadimplência das empresas medido pela Boa Vista SCPC está recuando desde o primeiro trimestre de 2017.

Esses dados mostram que a saúde financeira das empresas vem se recuperando e caminhando para um patamar bem mais sustentável do ponto de vista financeiro.

As Estatística monetárias e de credito do Banco Central, divulgadas em 28 de maio, referentes ao mês de abril confirmam essa tendência.

Depois de um longo período de recuo as concessões de crédito para as empresas voltam a crescer em ritmo mais forte. Em 12 meses as concessões já estão crescendo 6,7% (recursos livres). A mudança é bem significativa, até fevereiro os novos empréstimos ainda amargavam valores negativos, passaram a positivo em março e agora mostram um fôlego bem maior. Nada comparável aos 11,5% de crescimento da mesma modalidade para pessoas físicas, mas com um ritmo maior de variação nos últimos meses.

E o mais importante é que esse crescimento dos empréstimos vem acompanhado também de um significativo recuo das taxas de inadimplência. Em 6 meses a taxa recuou quase um ponto percentual, passando de 5,1% em novembro de 2017 para 4,2% em abril de 2018. Lembrando que essa mesma taxa em maio de 2017 se encontrava em 6,0%.

A despeito da piora recente nas expectativas em relação à economia, o mercado de crédito mostra claros sinais de melhora, com concessões de crédito em crescimento e inadimplência em queda. Os principais concedentes de crédito, os bancos, têm manifestado em seus balanços trimestrais que as preocupações com os riscos de emprestar aos consumidores vêm recuando a cada trimestre, e que o maior risco, na verdade, é a possibilidade de um recuo na demanda de consumidor por crédito em um momento em que a economia volta a passar por incertezas. Mas esses mesmos balanços mostram o aumento significativo na expectativa de empréstimos para as empresas, depois de longo período de apreensão.

Mesmo que ainda conturbado, o cenário para as empresas se apresenta bem melhor do que em anos anteriores. Se antes tínhamos recuo na atividade econômica com crescimento nos preços e juros mais elevados, hoje a economia voltou a crescer, os preços e os custos sobem bem menos e as taxas de juros estão em queda.

Somada a esse ambiente, inadimplência entre as empresas, que chegou a figurar como o grande obstáculo ao aumento dos empréstimos, deve manter sua tendência de queda, possibilitando que uma expectativa de recuperação para o setor bem mais sustentada do que em períodos anteriores.

 

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