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Ele já foi CFO em grandes empresas como Laureate International Universities, Novelis e Brink’s, mas seu começo de carreira não foi em finanças. Assim começou o bate-papo com Alexandre Di Sesso, convidado para o encontro de mentoring do IBEF Jovem no dia 14 de março.
Criado na Mooca, bairro da zona leste paulistana, seu primeiro emprego foi de office boy na Companhia Antarctica Paulista, na década de 1980. Com apenas 15, 16 anos de idade, ele cursava o segundo grau técnico em Informática. E foi por essa área que começou a crescer na empresa cervejeira: tornou-se operador de mainframe, depois programador e analista de TI.
O primeiro contato de Alexandre com finanças foi estimulado por uma peculiaridade daquele momento histórico do País. “Era uma época em que a oferta de bebidas era menor que a demanda do mercado interno, então o preço era controlado pelo Governo. Era um outro Brasil, o Brasil da hiperinflação, da pouca capacidade produtiva”. O sistema de tabela de preços, um dos mais importantes para o negócio, pois praticamente determinava a receita da companhia, era uma das responsabilidades de Alexandre na área de TI. “Foi assim que me aproximei de finanças e comecei a gostar da área”.
Investimento em formação – Percebido como um dos profissionais de grande potencial da Antarctica, a empresa o selecionou para integrar o grupo de colaboradores que faria um MBA na área de Administração pela FIA/USP. “Foi um acréscimo muito importante para a minha formação. Eu não tive a oportunidade de fazer uma graduação em uma universidade do jeito que eu queria, mas pude complementar isso com o MBA em uma instituição muito boa”.
Na visão do mentor, buscar a melhor formação no início da carreira é uma escolha que ajudará o jovem profissional a moldar seu futuro. “A experiência complementa, é verdade, mas ela só vem com o tempo. Quando você está começando no mercado, a sua principal credencial é a formação. E, após algum tempo liderando equipes, percebo claramente que dependendo da qualificação do profissional, ele começa diferente, produzindo e entregando mais”, notou. Para Alexandre, a preparação nos melhores cursos é um alavancador para a carreira e para a remuneração, pois permite que o jovem escolha as melhores oportunidades no futuro. “É um investimento que tem retorno”.
Com apenas 27 anos, Alexandre tomou uma das decisões mais importantes de sua vida. Ele recebeu o convite da Antarctica para mudar de área e teve que definir: ficar em TI ou ir para finanças? Em tecnologia da informação, ele já conhecia os caminhos, contava com um time e havia avançado para o cargo de gerente júnior de sistemas. Migrar para finanças implicaria em voltar alguns passos na hierarquia corporativa e começar como analista. Alexandre optou por valorizar mais a oportunidade de aprendizado do que o status do cargo, e decidiu migrar para a área financeira. Ele começou em Planejamento (FP&A), acompanhando o orçamento, e percebeu que a decisão não poderia ser mais acertada. “Essa é talvez a área mais apaixonante de finanças, por que você olha para a empresa inteira. Eu não diria que é a mais importante, mas é a mais apaixonante”.
De Antarctica para Ambev – Um ano depois, Alexandre se viu diante de outra oportunidade de ouro. A Antarctica e a Brahma iniciaram o processo de fusão que daria origem à Companhia de Bebidas das Américas, a Ambev, aprovado pelo CADE em 2000. O executivo participou do time que negociou e modelou a nova empresa. Era um Brasil diferente. O sistema de tabela de preços havia ficado para trás. A capacidade da indústria de bebidas transbordava e a competição havia aumentado. O ambiente de trabalho na Ambev refletia esse espírito. Dentre as principais realizações dessa época, Alexandre ajudou a implementar na Antarctica a abordagem de Orçamento Base Zero, já praticada pela Brahma, e desenvolver uma modelagem para a definição das fábricas que iriam fechar.
Da bebida para a lata: um novo aprendizado – Após 15 anos na indústria de bebidas, Alexandre aceitou o convite para trabalhar em outro elo da cadeia. Em 2001, ele ingressou na Alcan (hoje Novelis), indústria responsável por produzir a chapa de alumínio que compõem as latinhas, maior produtora mundial e recicladora desse metal. Ainda em Planejamento, ele teve a oportunidade de participar de seu primeiro projeto internacional: a revisão de portfólio dos ativos da companhia.
“Foi um período muito bom. Eu já tinha certeza de que finanças era o meu caminho e queria me tornar diretor financeiro. Mas eu sabia que para avançar, precisava me aprofundar mais tecnicamente”, destacou o executivo. Após uma conversa de avaliação com seu chefe, Alexandre definiu que o próximo passo seria Controladoria. Ele abraçou o desafio e se mudou para Pindamonhanga (SP) para assumir a função de controller. Ganhou uma equipe de 30 a 40 pessoas, e passou a ser responsável por impostos, contabilidade e custos. O novo desafio profissional se somou ao pessoal: enquanto ele foi para o interior paulista, sua esposa foi trabalhar em Brasília. Para conciliar as agendas, eles se viam aos fins de semana.
Para Alexandre, além do talento e dedicação, às vezes é preciso contar com a sorte. E isso também aconteceu na Alcan. A empresa tinha capital aberto nos EUA e caiu no colo do executivo a missão de implementar o padrão contábil US GAAP e a adaptação à Lei SOX (Sarbanes-Oxley Act) na filial brasileira, em apenas dois anos. E, como resultado do projeto global de revisão de portfólio, em 2005 a Alcan fez o spin-off de alguns produtos de laminação, o que deu origem à Novelis. “Fomos dormir como uma empresa rica e acordamos com uma empresa bastante alavancada, com dívidas com perfil de curto prazo”, lembrou.
Liderança por influência – Recém-criada, a Novelis teve um começo difícil: precisava gerar muito caixa e reduzir custos rapidamente. Utilizando sua experiência na Ambev, Alexandre implantou o orçamento matricial de despesas no Brasil, projeto que recebeu o apoio do presidente. “Deu certo e o CEO virou fã. Eu participava de reuniões mensais com os diretores. Eu exercia a liderança dessa iniciativa, mesmo sem ter um cargo formal de líder. Foi o projeto que eu mais me orgulho de ter feito ”.
Ao mesmo tempo, Alexandre teve que exercer a liderança por influência junto às outras áreas, para viabilizar a redução de custos. Viagens sem planejamento, paisagismo, elevados custos de manutenção para máquinas acessórias, entre outras rubricas, entraram na revisão. “Desafiamos costumes, não foi fácil fazer as pessoas toparem isso. Mas eu tinha o apoio do CEO, e quando o presidente da empresa quer, é possível”, destacou. “No primeiro ano, o resultado que não iria fechar, ficou R$ 20 milhões melhor. Não havia mais argumento contrário: era fazer acontecer. Mudamos a forma de gestão”.
Da Controladoria para a Tesouraria – A estrutura da Novelis mudou e Alexandre passou a responder para um CFO, que o convidou para cuidar da área de Planejamento na capital paulista. O timing era perfeito com o da vida pessoal, pois a esposa de Alexandre também estava saindo de Brasília para voltar a morar em São Paulo. No final de 2006, o CFO fez mudanças internas e abriu uma posição na área de Tesouraria. Alexandre pediu a vaga e, mais uma vez, colocou o aprendizado em primeiro plano: ele obteve a posição, mas sem elevação de salário e acumulando o Planejamento. “Não tive remuneração maior, mas ganhei uma oportunidade. Como eu era novo em Tesouraria, o CFO fez o coaching necessário para que eu entendesse a função. Esse foi o meu aumento”.
Nesse período, Alexandre recebeu a missão de aproximar a empresa de todos os bancos do mercado e fez vários negócios. “Dois anos depois, um dessas instituições sabia tanto da nossa indústria que tínhamos limites gigantes, praticamente sem garantia”. Outra realização foi a implantação do hedge de moedas, em 2007, quando a Novelis foi vendida para a Indalco, o executivo se utilizou da experiência da indiana para implantar o hedge de alumínio para proteção de estoques no Brasil.
Enfim, CFO – Em 2008, o presidente da operação brasileira foi para a Europa, o CFO foi promovido a CEO e Alexandre obteve a posição de líder de finanças. A mudança foi seguida por outro marco: o nascimento de sua filha. Em seguida, o cenário internacional foi sacudido com a quebra do banco Lehman Brothers, estopim da crise de confiança que se alastrou pelos mercados. “A empresa passou por sérias dificuldades para obtenção de crédito nos Estados Unidos. No Brasil, estávamos bem, pois aquela estratégia de aproximação com os bancos, iniciada anos antes, mostrou-se acertada”. Para Alexandre, a atuação como CFO agregou vários conhecimentos, por ser mais estratégica. “Eu precisava sentar com a equipe de vendas, montar contratos… E fazer gestão de pessoas, meu maior aprendizado”.
Duplo desafio – Em 2011, ele saiu da Novelis para entrar em um mercado completamente novo: serviços de segurança. A Brink’s Company, empresa americana de proteção e segurança privada, encontrou seu perfil no LinkedIn e Alexandre foi contratado pelo HQ nos Estados Unidos para assumir a posição de CFO no Brasil. O desafio foi imenso: o departamento de finanças precisava de uma reorganização em impostos e contabilidade.
Ao mesmo tempo, os colaboradores mais antigos viam o CFO com receio, com a possibilidade de demissão. “Nas primeiras semanas, eu almoçava sozinho. Percebi o que estava acontecendo e tive que trabalhar para me aproximar e ganhar a confiança da equipe”. Um dos primeiros passos foi dar voz às pessoas: “Tenho como característica ouvir meu time. E, quando cheguei, as pessoas não debatiam. Eu dei espaço para que eles falassem, discordassem, e aos poucos as pessoas foram se soltando”. Quando saiu da empresa, em 2013, Alexandre havia conseguido não só equacionar questões de auditoria e impostos que estavam pendentes na empresa, como liderou a mudança de ERP e a implantação de um Centro de Serviços Compartilhados (CSC).
Da segurança para a educação – Em novembro de 2013, Alexandre encarou o desafio de mudar radicalmente de indústria. Ele foi convidado para ser o CFO no processo de aquisição da universidade paulistana FMU pela rede americana de ensino Laureate International Universities. Até então, era a maior compra já feita pela Laureate no mundo: negócio de R$ 1 bilhão. “Minha missão era entrarmos em janeiro de 2014 integrando as empresas, o que só se concretizou meses depois”, contou. Para ele, a grande motivação foi a liberdade para a operação da nova companhia. “Era quase uma startup. Tinha tudo por fazer, mas a autonomia era total”.
Ele considera que este foi seu maior desafio de carreira, pois a empresa adquirida não tinha área financeira. “Os pagamentos eram feitos pelos estudantes em dinheiro e para isso era montado um bunker no campus, um risco imenso. Tivemos que mudar o sistema completamente”, lembra ele. Em 2015, com a mudança de regras no FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, a receita não veio no volume esperado. Alexandre então recebeu a missão de otimizar a operação, unindo as áreas administrativas da FMU e da Anhembi Morumbi. O resultado foi tão positivo que ele foi promovido para CFO da região de São Paulo da Laureate, com a missão de integrar as demais instituições em uma operação única.
Futuro e conselhos para os jovens – Após três décadas de trabalho, Alexandre fez uma pausa na carreira no segundo semestre de 2018, época que aproveitou para organizar sua cidadania italiana. Ele disseque tem interesse em fazer mais um ciclo no mercado, talvez em uma multinacional. “Depois, gostaria de contribuir para startups”.
Para os jovens que estão começando sua jornada, o conselho de Alexandre é sair da zona de conforto. “Para avançar na carreira de finanças, você precisa se movimentar, trabalhar em outras áreas. Todo mundo tem uma zona de conforto, que é a sua âncora. Já vi pessoas promissoras, com potencial para me suceder, que não avançaram porque não queriam sair dessa zona”. Outra dica do mentor é reconhecer as oportunidades para ganhar experiência e não mudar de empresa no primeiro obstáculo. “É preciso sempre olhar para o longo prazo. Se você está em uma companhia que desenvolve pessoas, vale a pena esperar”, concluiu.
(Reportagem: Débora Soares)