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Perspectivas para o mercado de criptomoedas é tema de evento do IBEF Jovem

A moeda que caiu no gosto de investidores inovadores foi elucidada por executivos do setor.

Decifrar o universo do Bitcoin e os seus impactos na economia mundial foi a missão entregue a quatro especialistas convidados para o seminário “Criptomoedas e Blockchain, perspectivas para 2019”, realizado pelo IBEF Jovem, no dia 25 de março, no espaço Cubo Itaú. O encontro foi uma oportunidade de demonstrar experiências com a polêmica criptomoeda e tirar dúvidas sobre a sua usabilidade nos negócios.

Um dos pioneiros desse mercado no Brasil, João Canhada, CEO e cofundador da Foxbit, maior corretora de Bitcoins do Brasil, abriu o evento narrando a sua experiência com a moeda virtual. “Iniciei a minha atuação com Bitcoins ainda em 2014 com a corretora. Antes disso, eu fazia transações financeiras com clientes via Facebook. Umas das vantagens das criptomoedas é poder fazer essa transação direta sem ter que ter um intermediário”.

Canhada exaltou a simplicidade como uma das maiores características do Bitcoin. “O processo consiste em sacar o celular, solicitar a compra e colocar o dinheiro na minha conta. Essa operação acontece em escala muito rápida”.

O executivo narrou o forte impacto que a criptomoeda causou em sua própria vida financeira. “Na época em que comecei a trabalhar com Bitcoin, eu tinha uma dívida e não conseguia recursos nos bancos. Resultado: eu estava falando muitos nãos para clientes no Facebook devido à falta de capital de giro”, contou o CEO.

A solução para o imbróglio financeiro de Canhada veio da internet. “Eu descobri um site onde se conseguia fazer um empréstimo em Bitcoin para usar como capital de giro no meu dia a dia, com qualquer pessoa do planeta: chinês, americano, indiano… Pois bem, essa espécie de banco emprestava dados na quantidade que eu estava precisando. Então, me deu um estalo: era um negócio global, sem regulador, as pessoas cedendo investimento… Eu conseguia lastrear minha tomada de crédito em alguma moeda que eu definisse, Bitcoin, dólar, ou o próprio real, e pagava juros nessa moeda. No final do mês, eu comprava os Bitcoins equivalentes e pagava”, explicou.

Conseguir recursos para seus empréstimos oriundos de inúmeros investidores foi um marco para deslanchar o negócio de Canhada. “Foi uma das coisas que mais me deixou fascinado com Bitcoin. Às vezes, havia 200, 300 pessoas investindo frações até atingir o total que eu precisava. Esse foi o meu primeiro grande passo no mundo das criptomoedas”, considera.

Canhada enumerou as vantagens da criptomoeda mais popular da internet. “A operação ocorre em escala muito rápida. Não tem fronteiras, não tem geografia. O cara do outro lado do mundo está me emprestando dinheiro. Montei a corretora e o mercado vem crescendo muito de lá para cá. Em 2014, a gente negociou R$45 milhões, 2015 foi para R$113 milhões, 2016, R$ 360 milhões. Em 2017, teve aquele boom e todo mundo ouvia falar em Bitcoin. Aí nesse mesmo ano já havia umas 30 corretoras aqui no Brasil. Hoje o mercado está bem pulverizado. Para se ter uma ideia, não tem ninguém acima de 22% de market share”, observou.

Fernando Ulrich, analista-chefe da XDEX, Exchange de Criptomoedas da XP Investimentos, também citou a influência marcante que o Bitcoin exerceu na sua vida profissional. “Comecei neste mercado em 2013, inicialmente como cético, descrente. Falavam na época que era dinheiro de internet, que não daria certo. Mas depois de tentar parar para entender de fato, concluí que esse negócio, inventado pelo Satoshi Nakamoto, é espetacular. Até hoje estou aprendendo como funciona, quais as repercussões, e quão genial ela é”.

Ulrich comentou também as vantagens de se fazer transações com a moeda virtual. “Quando a gente se dá conta de que é um negócio que funciona sem autoridade central desde 2009, 24 horas por dia, e não há ninguém coordenando esse trabalho todos os dias da semana e que tem um nível de confiabilidade de 99,98%, sem ter nenhum tipo de fraude nesse livro contábil, o Blockchain (tecnologia de registro), é realmente impressionante. E ainda há uma força computacional hoje embutida na rede, que supera em milhares de vezes todos os servidores do Google, financiando e ajudando a construir a historia”.

Rodrigo Benez, criador da Neo, que tem como parceiros dois ex-diretores da Microsoft, com foco em criação de bibliotecas open-source para desenvolvimento em Blockchain, também trouxe um pouco da sua experiência. “Somos um grupo de desenvolvedores, economistas, designers e gestores e temos uma plataforma de investimentos. A gente acumula experiências em alguns lugares do mundo”, explicou.

Benez descreveu os primeiros passos de seu negócio. “Em 2016, quando o Banco Central liberou pagamentos feitos por instituições não financeiras, nós tínhamos um modelo que lá fora se chama de square, um hardware que conecta no P2 e esse era o nosso ensaio. Em 2017, um dos nossos sócios foi conhecer o funcionamento do Blockchain lá fora e voltou alucinado. Então, começamos a estudar as plataformas intensamente, cada uma delas, e aí nasceu a Neo. Em 2018, ganhamos um prêmio em Amsterdã, o sprint internacional deles. E, recentemente, inauguramos a sede da Neo em Seatle, nos EUA”, contou.

Para Ulrich, uma das façanhas mais surpreendentes do Bitcoin é a confiança que a criptomoeda estabeleceu em transações via internet. “O nível de confiabilidade não é apenas extraordinário em relação a qualquer outra tecnologia, mas entre outras criptomoedas, o nível de credibilidade do Bitcoin, entre os outros softwares, está entre os melhores. Ou seja, ele está em 1º lugar e o resto vem depois”.

O executivo destacou as principais características que a moeda virtual reúne: “Primeiro, não tem um criador, um dono ou um pai, a não ser a figura mítica do (Satoshi) Nakamoto, que desapareceu e não se sabe quem é. Segundo, não tem ninguém com poder de influenciar pensamentos ou a comunidade”.

Depois de intensa rodada de perguntas variadas da plateia, o moderador Luiz Roberto Calado, presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcCipto) deu seu parecer sobre a evolução do interesse dos executivos financeiros na moeda virtual. “Esse é o terceiro evento que organizamos no IBEF-SP sobre Bitcoin e é o que mais teve quórum sobre esse tema”, concluiu.
(Reportagem: Rosa Symanski)

 

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