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Convidada pelo IBEF Mulher para o Encontro com CEO, no último dia 03 de junho, Andreia Dutra compartilhou algumas de suas principais estratégias para alçar posições na carreira. Há quase dois anos, a executiva é diretora-presidente da divisão Serviços On-site da companhia francesa Sodexo.
Nascida no interior do Rio Grande do Sul, Andreia Dutra passou a infância cercada por homens. Além do pai, militar, ela convivia com três irmãos no município de Bagé. Ao contrário da maioria das casas com essa configuração, o machismo não fez parte da sua criação. “Todos lavavam pratos e pintavam paredes”, conta. Esse incentivo realçou um importante traço de sua personalidade: a autonomia.
Início da carreira – Ela começou a trabalhar aos 14 anos, com o apoio do pai. Ao atingir a maioridade, ela saiu em busca da independência – decidiu cursar nutrição em uma cidade maior, Pelotas. Contou com o apoio irrestrito da família, que mudou de cidade para acompanhá-la. Estudar na Universidade Federal de Pelotas abriu as portas para a profissão e para o coração.
“Foi lá que conheci o meu marido, pai da minha filha. Decidimos morar em Santa Catarina”. À época, ela começou a trabalhar na Puras, uma das maiores empresas de alimentação do País naquele período. Passou a supervisionar 15 restaurantes, depois uma centena deles. “Foi quando me tornei diretora”, diz. No cargo, Andreia pôde exercitar a aptidão natural de liderança com os ensinamentos do MBA em Gestão Empresarial, que ela cursou na Fundação Getulio Vargas.
Crescimento e família – Como gerente, foi convidada a mudar para Belo Horizonte (MG) para assumir o controle da operação mineira da companhia. Ela aceitou o desafio mesmo sabendo que a mudança de cidade viraria de ponta-cabeça a rotina da família. “Minha filha tinha quatro anos. Meu marido acabara de prestar um concurso, não podia ir comigo”, conta.
Não foi o que aconteceu. Diante das dificuldades, a relação se fortaleceu e ela entendeu que poderia contar com o apoio total do marido para alçar voos mais altos na carreira.
Incentivo a outras mulheres – Foi na época da sua mudança para Curitiba que Andreia percebeu um tratamento diferente em relação às mulheres no mercado de trabalho. “Ouvi muitas histórias das mulheres sobre discriminação. Então esse mundo do machismo, que não conhecia, foi descortinado”, diz. Diante do cenário, decidiu usar a sua posição de executiva para melhorar a condição das mulheres na empresa e na sociedade.
Uma das suas estratégias era ensinar tudo o que sabia às companheiras de trabalho, replicando o modelo no qual foi educada. Sua atitude acabou impulsionando a própria carreira. “Tive grandes oportunidades de crescimento. Minhas promoções ocorreram porque tinha a preocupação de preparar meu time para ter alguém pronto para assumir a minha posição “, diz. “E minhas substitutas sempre eram mulheres”.
Novos desafios – Em 2011, a francesa Sodexo fez a aquisição da Puras, trazendo para a executiva novos desafios em sua carreira – entre eles atuar em uma multinacional, líder no mercado brasileiro de alimentação. Três anos depois, Andreia foi convidada a assumir o cargo de vice-presidente de Recursos Humanos. O seu desempenho firme e potente foi recompensado. Em meados de 2017, recebeu o convite para ocupar a cadeira de diretora-presidente da operação de serviços on-site da Sodexo no Brasil.
“Mas a vida nos traz sempre os aprendizados necessários e, na semana seguinte, descobri que estava com câncer de mama”, diz.
Para enfrentar o tratamento e as obrigações do novo cargo, ela reuniu todas as suas forças. Isso a fez rever conceitos. “Percebi que a profissão não é o mais importante. Precisamos viver um dia de cada vez, aproveitando os momentos”. Com essa postura ela superou o momento mais difícil da sua vida. Os desafios que venceu a fazem buscar hoje maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Igualdade de gênero – Quando assumiu a liderança do departamento de RH, Andreia passou a olhar mais de perto os dados sobre a dificuldade que as mulheres enfrentam no meio empresarial. Surpreendeu-se quando entendeu que vai levar 217 anos no atual ritmo, segundo dados do Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2017, do Fórum Econômico Mundial, para que a igualdade de gênero se concretize. Outro número preocupante é a diferença na remuneração. Estudos apontam que o salário das mulheres é 23% inferior ao dos homens. Desapontada com a realidade, a executiva entende a importância de dar a sua contribuição para melhorar este cenário. Nessa missão, ela conta com o apoio de sua empresa, que tem a diversidade e inclusão em seu DNA e, principalmente, entende que cada indivíduo é único, independente de gênero, idade, educação, classe socioeconômica, raça, etnia, deficiência, orientação sexual e identidade de gênero, nacionalidade, língua, religião e habilidades físicas e mentais.
Atualmente, dos 40 mil colaboradores da Sodexo no País, 67% são mulheres – sendo que 89,6% da liderança e 50% no Comitê de Liderança Regional (comitê executivo da companhia) são compostos por mulheres. “Nossa meta é atingir uma proporção 40-60% de equipes femininas/masculinas em todos os níveis da organização no mundo”, diz. Para a companhia, que realizou globalmente o Estudo sobre Equilíbrio de Gênero, esta proporção traz uma maior equidade com metas bem definidas que visam o desenvolvimento de suas colaboradoras para a consequente promoção de cargos de gestão até 2025, trabalhando assim ativamente para criar um ambiente mais inclusivo.
O equilíbrio de gênero e a diminuição do desperdício de alimentos são dois pontos essenciais da estratégia da empresa. Ambas frentes também estão no topo de prioridades de Andreia. Ela preside o Instituto Stop Hunger Brasil, instituição independente, sem fins lucrativos, que atua no ecossistema da Sodexo – entre funcionários, colaboradores e fornecedores – para promover ações e campanhas sociais no combate à fome e má nutrição.
Passos futuros – “Não sou diretora-presidente. Estou diretora-presidente”, afirma a executiva, ao ressaltar que os cargos são passageiros para todos os profissionais. Por isso, sua busca vai ao encontro do aperfeiçoamento pessoal em meio às oportunidades que se apresentam. Ela acredita que, no futuro, pode usar a sua experiência para contribuir com a operação de outras empresas. Por isso, se prepara para ser conselheira.
Dessa maneira, Andreia vai marcar presença em um ambiente onde os homens predominam. Hoje, somente 7,3% dos assentos dos conselhos de empresas brasileiras são ocupados por mulheres, segundo estudo da consultoria Enlight. “Sou a favor das cotas. Só assim podemos encurtar esse prazo para conquistarmos a equidade. 217 anos é muito tempo”, completa.
(Reportagem: Priscilla Arroyo)