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Desafios do Mercado de Capitais são discutidos em Seminário

A Comissão Técnica de Mercado Financeiro e de Capitais do IBEF-SP realizou um Seminário no dia 26 de novembro para tratar dos desafios do mercado de capitais em uma análise do perfil de investidores, empresas e também de oportunidades para ambos. O evento foi conduzido pela coordenadora da CT, Rosangela Santos, e teve patrocínio da Deloitte com a presença de Felipe Minelli que na abertura apresentou resultados da 12º edição da pesquisa anual realizada em parceria com o IBRI sobre a atuação da área de relacionamento com investidores, trazendo  impactos do novo ecossistema.

“Notamos que há uma lacuna de percepção de valor da empresa e de analistas. Nesse cenário, os profissionais passam a receber uma demanda por maior proatividade na comunicação com os investidores, com potencial de impacto direto no valor das empresas. E no mundo conectado e de hiper exposição, a função ganhou maior relevância dentro das empresas para lidar com o dinamismo das notícias, de possíveis fake news e, também, para captar novos investidores. O uso de tecnologia tem aumentado, mas grande parte ainda não adotou tecnologias como analytics, robótica e inteligência artificial nas áreas de relação com investidores”, destacou Minelli.

Rosangela Santos alertou para a defasagem que o mercado brasileiro ainda tem em relação ao número e representatividade das empresas listadas em bolsa. “Para crescimento das empresas e geração de renda, é necessário ter recursos, e o mercado de capitais tem esse poder relevante para o desenvolvimento do país. O somatório do valor de mercado das empresas listadas no país em relação ao PIB, no Brasil, está abaixo de 40%, nos EUA é de 150%, na China 70% e no Chile 89% “, ressaltou.  Em seguida, ela convidou os painelistas, Rafaela Araujo, da B3, Vicente Camilo, da CVM, e Patricia Moraes, da Unbox Capital, para discutir o assunto.

Rafaela Araujo, responsável pelo relacionamento com empresas e estruturadores de ofertas na B3, fez uma apresentação de dados de mercado, levando, assim, o pano de fundo para as discussões do Seminário. “Estamos em um momento histórico em termos de baixa taxa de juros. Somado a isso, temos batido recordes de liquidez. No ano passado, a média da negociação diária na B3 foi de R$ 12 bilhões, e hoje esperamos R$ 16 bilhões”. Ela ressaltou o crescimento de pessoas físicas em bolsa. “Em setembro de 2018 tínhamos mais 700 mil CPFs ativos cadastrados, este ano batemos 1 milhão em abril e os últimos dados chegam a 1,5 milhão. É um número baixo, mas há um crescimento expressivo”.

O potencial de crescimento desse número é promissor. O total de investidores no país é de 6,6 milhões, dos quais 70% estão em renda fixa e apenas 15% estão diversificados com mais de uma categoria de produto em carteira. Rafaela apontou ainda para ofertas de dívida e equities, que evoluíram. Ela apresentou a quantidade de empresa listadas em bolsa no Brasil, que soma 339, enquanto Canadá e Estados Unidos possuem mais de 3 mil empresas listadas. “O volume médio dos IPOs no Brasil é o maior: US$ 602,3 milhões. É preciso diminuir esse tíquete para trazer mais empresas e possibilitar que empresa menores acessem o mercado. No crescimento do volume das operações do ano tem uma parcela de contribuição de investidores locais”, complementou.

Cultura – Vicente Camilo, analista de mercado de capitais na CVM, levou uma visão pessoal sobre o mercado brasileiro, pontuando que há uma questão cultural do Brasil, que não é um país concorrencial. Ele ainda falou sobre segurança jurídica e governança. Rafaela destacou que a questão histórica do país, com papel do BNDES em financiamentos, acabou gerando mudanças tardias. “A participação do BNDES em termos de captação de recursos vem diminuindo, e o mercado de capitais está pegando essa fatia. Agora vemos uma tendência de melhoria”, destacou.

Patricia Moraes, sócia fundadora da empresa de investimentos Unbox Capital, falou também que há um processo de maturação das empresas e dos investidores. “Há um aumento de pessoas físicas no mercado de capitais, e o caminho de queda de juros impacta tanto investidores quanto empresas. Precisamos da ajuda dos reguladores para facilitar esse processo”, ressaltou. Os participantes ressaltam que há muitas empresas que simplesmente não querem abrir seu capital. Preferem não dividir o controle de suas decisões estratégicas.

Processo de abertura – Patricia disse também que abertura de capital pode ser uma alternativa de financiamento para as empresas, ou no momento de uma fusão pode ser interessante, com base em uma negociação estratégica. “Destravar valor também é uma opção quando se faz um IPO, comentando o exemplo da BB Seguridade”. Ela citou alguns outros IPOs feitos durante sua vivencia como executiva no JPMorgan no Brasil. “Temos um futuro brilhante, mas há algumas mudanças a serem feitas”, pontuou.

Privatizações podem ser uma oportunidade de destravar mercado, segundo Rafaela Araujo, destacando que private equity é um grande fornecedor de empresa para a bolsa. “Com o crescimento da indústria, private equity ou venture capital ajudam no desenvolvimento do mercado de capitais. Nos últimos 10 anos, representaram 40% das operações, indo para 65% nos últimos 5 anos”.

Emissões altas – Os dados apresentados por Rafaela Araujo sobre os altos tíquetes de IPOs chamaram a atenção de Vicente Camilo, que disse que emissões muito altas não são positivas, inibem entrada de empresas menores, entre outros. “Isso precisa ser reduzido, e a regulação é um grande impulsionador disso. Como já divulgado pela mídia, há estudos na CVM para implantar um sistema matricial, de relevância nos requisitos regulatórios pelo perfil de risco, tamanho do emissor e da oferta. Emissões menores poderão ter descontos regulatórios. Há uma discussão também na B3 sobre a Categoria C de acesso ao mercado”, ressaltou.

Rafaela falou também sobre a conjuntura do mercado, que sempre foi pautado no investidor estrangeiro, fundos que demandam ofertas de tíquete alto, por priorizarem liquidez e não quererem comprar percentual relevante acionário nesses investimentos. “Se os investidores locais começarem a entrar mais no mercado, viabilizará potencialmente tíquetes menores, reduzindo assim a dependência de investidores estrangeiros”.

Nos Estados Unidos, Patricia Moraes disse que há um segmento totalmente focado em ofertas de pequenas e médias. E o número de pequenos investidores propicia a liquidez necessária no mercado “Temos muito a desenvolver na especialização do nosso mercado. Vejo uma evolução no mundo de venture capital que está começando”.

Agenda Regulatória e Segurança Jurídica – A começar pelo tema da segurança jurídica, Vicente ressaltou estudos que indicam que mercados desenvolvidos contam com segurança jurídica para os investidores que podem requerer indenização em casos de expropriação de valor pelos acionistas ou administradores. Casos ruins recentes fizeram levantar esse debate no Brasil e encontra-se atualmente em audiência pública uma nova regulação para endereçar o tema.

A possibilidade de listagem em dois mercados, ou seja, no Brasil e em outro país, foi debatida, com visões de impacto na liquidez desses papéis. E para melhor viabilizar, a necessidade de rever o conceito de emissor estrangeiro para os BDRs, bem como a abertura para investidores do varejo.

Direct listing foi outra alternativa discutida e casos de sucesso no exterior. Essa estrutura que não requer intermediários, faz mais sentido para empresas que já tem apelo no mercado, não necessitando de esforços de marketing. Essa entrada gradual com listagem inicial e posterior oferta facilita a implantação da estrutura de governança corporativa requerida nas empresas.

Bovespa Mais, direct listing, equity crowdfunding, aspectos de governança, incluindo super ONs, formulários de referência resumidos e sua periodicidade, prospectos resumidos, o papel dos formadores de preços, a atuação dos intermediários, agentes autônomos, entre outros, foram debatidos pelos painelistas. E com esse rol de medidas em discussão com engajamento dos agentes do mercado, Rosangela Santos encerrou o painel com palavras de otimismo com as oportunidades existentes na pauta para destravar o mercado.

 

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