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Vivianne Valente compartilha experiência profissional e atuais desafios diante da crise em mentoring do IBEF Jovem

Ocorreu na quinta-feira, 26 de março, o mentoring do IBEF Jovem via videoconferência. O encontro teve como convidada a CFO da Tigre, Vivianne Valente, que foi ganhadora do último Prêmio O Equilibrista do IBEF-SP, no ano passado. Com a presença de mais de 30 participantes on-line, o mentoring foi realizado totalmente de maneira remota por conta do cenário de contenção da disseminação do novo coronavírus (COVID-19).

 

Vivianne iniciou sua apresentação contando um pouco sobre sua trajetória profissional. “Sou CFO há 10 anos e executiva de finanças há 26 anos, iniciando sua carreira na Brahma em 1995 (que posteriormente virou Ambev) onde atuei por 10 anos. Foi minha escola. Por cinco anos trabalhei em uma fábrica na Bahia em função financeira, iniciando como analista e depois coordenadora. Vim para São Paulo em um momento rico, quando a Brahma comprou a Antártica e formou a Ambev. Boa parte da formação que construí na área financeira foram nesses dez anos”, contou.

 

Sua próxima experiência foi na VisaNet como gerente de planning. “Fiquei pouco tempo lá, e fui para o Grupo Ultra, completando minha carreira com conhecimentos de hard finance, controles internos, exportação, controladoria, e trabalhei em duas divisões do grupo, de químicos, que tinha operação no Brasil e México, e depois fui para a Ultragaz, na mesma posição de controller”. Após quase três anos no Grupo Ultra, Vivianne passou a atuar na CBC – Cia Brasileira de Cartuchos, como controller. “Depois de seis meses, ascendi à cadeira de CFO na CBC”.

 

Sempre buscando novos desafios, Vivianne passou a atuar na Ipsos Brasil, uma empresa francesa que vende serviços de marketing. “Foi essencial viver experiências diferentes, pois tive em empresa com capital aberto, empresa familiar brasileira, e quis vivenciar a cultura de uma empresa global”. Lá, Vivianne recebeu a proposta de fazer parte de uma startup, a Elavon, onde atuou por quase cinco anos, até a venda da empresa para a Stone.

 

Grupo Tigre – Em 2016, Vivianne foi convidada a fazer parte do time do Grupo Tigre, empresa através da qual recebeu o Prêmio O Equilibrista, do IBEF-SP. “Tem sido uma experiência rica trabalhar no grupo. A Tigre é uma empresa de 80 anos, conhecida pelos tubos e conexões, porém com vários outros negócios. Tem sido também uma experiência incrível de multiplicidade, a companhia é bastante internacionalizada e atua em outros nove países além do Brasil, é multi-américa, com filiais em toda América do Sul e também nos Estados Unidos. O Brasil continua muito significativo representando 60% da margem”, relatou.

 

Vivianne entrou no grupo com um desafio: enfrentar a crise do mercado de construção, que iniciou em 2015 e fez com a Tigre perdesse receita. “É uma empresa centenária que foi líder a vida inteira e teve uma perda de receita de grande dimensão. Minha jornada, além de outras iniciativas – mas que deu mais visibilidade no ano passado e proporcionou a alegria do Equilibrista –, foi na participação fundamental de criar uma disciplina e educação financeira na companhia em todos as camadas, times, e gestores de negócios, do financeiro ao operacional”, explicou.

 

Vivianne destacou que sua área criou um business plan de longo prazo, integrando as decisões de negócios, estratégia e aspectos financeiros, e educando as áreas de negócio para convergirem de forma integrada a construção de valor. “Não paramos de investir na crise, compramos empresas que estavam consistentes com as estratégias da companhia, e modernizamos nossa plataforma de tecnologia. Hoje, nossa empresa é 100% digital”. Ela disse que além de ser responsável pelo setor financeiro da Tigre, cuida também da área de tecnologia, centro de serviços corporativos, e mais recentemente, estratégia.

 

Vivianne destacou a importância da busca de eficiência alavancada pelo uso de tecnologia, bem representada pela instalação do Centro de Serviços Compartilhado (CSC). “Todos os projetos nasceram dos objetivos do plano estratégico de longo prazo, e o CSC foi instrumental para fechar o gap da parte de custo administrativo, além de possibilitar a mim ter mais controle sobre a parte financeira e contábil das operações internacionais”. Como fruto dessas inciativas, a margem da Tigre dobrou de 2017 para 2019.

 

Atuação em crises – Vivianne compartilhou com os participantes do mentoring sua vivência e diferentes atuações em diversos cenários de crise pelos quais passou durante sua carreira. “A crise do coronavírus é a mais sistemática e complexa que vivi, pois uma coisa é viver crises no seu segmento, ou uma crise financeira, muito focada na Tesouraria ou concentrada na ausência de dinheiro e liquidez. Mas hoje temos uma crise generalizada de liquidez, força de trabalho, etc.”, disse.

 

No caso da crise financeira, Vivianne destacou que o essencial é ter uma situação de caixa sólida, com uma boa gestão de recebíveis, do fluxo de caixa diário e do caixa mínimo. Em crises específicas ou de momento de grande estresse no negócio, o importante é manter a estabilidade. “A crise do coronavírus é tão séria quanto o crash da bolsa ou a Segunda Guerra Mundial. Em um sentido de urgência absoluto, é preciso reconhecer que a crise está aí. A negação é a pior coisa”, destacou.

 

Vivianne contou que a Tigre começou a dar um alarme grande em relação à gestão de crise duas semanas antes do início da quarentena. “O papel do CFO e da administração como um todo, é dar o tom de urgência, e construir cenários do que pode acontecer com Ebitda e a receita dependendo de determinados cenários, e com isso definir ações de mitigação”, disse.

 

Na área de finanças, Vivianne destacou que é preciso assumir um certo grau de incerteza e flexibilidade. “Neste cenário, entra em ação o líder no mundo VUCA. O equilíbrio entre curto prazo e longo prazo é essencial, precisamos focar em identificar e mitigar o buraco e definir ações, mas ao mesmo tempo não podemos matar o nosso futuro. Não podemos parar de fazer tudo ou continuar fazendo tudo, mais do que nunca precisamos de equilíbrio”. Ela ressaltou a importância das medidas contingenciais e de mensurar os impactos o tempo todo, em um rotina diária.

 

Estratégia e análise de cenários – “Meu papel é fazer perguntas difíceis para testar a sanidade e consistência das medidas, no nível adequado de detalhes e visão do todo. O CFO na essência é um detalhista estratégico, não podemos perder a habilidade do Excel e dos cálculos, mais temos que ver a big picture todo o tempo, nunca a ambidestralidade foi tão importante. Precisamos ter velocidade de visualização dos cenários, focar em liquidez e pensar na retomada”.

 

Vivianne destacou, contudo, que é preciso ter sangue frio para criar um reforço de caixa e tentar minimizar o impacto de falta de liquidez. “Anunciamos medidas duras, implementando redução de jornada, colocando fábricas que tiveram que fechar em férias coletivas, e estamos simulando cenários com 50% a 70% sobre a receita. Com essa possibilidade, precisamos reduzir os custos fixos. Adotamos a transparência com todos os funcionários sobre as ações, e ao mesmo tempo equilibramos a atuação com nosso time e a comunidade em que estamos inseridos, priorizando ações de impacto ligadas ao nosso propósito, que é água e saneamento. Nas fábricas que continuam funcionando, adotamos medidas de higiene, espaçamento de turno e checagem de temperatura. Tentamos ao máximo não parar, a comunidade precisa de material de construção, mas avaliamos parar onde nossos clientes estão parando. Como temos um nível de estoque razoável, é possível”, contou.

 

Vivianne ressaltou que é importante manter os princípios da gestão de crise priorizando a força de trabalho, caixa, sustentabilidade e medidas sanitárias. “Manter o caixa, garantir a atividade dos clientes, buscar liquidez no sistema financeiro e reduzir gastos fixos. A intenção é ter grande flexibilidade em ajustar o negócio rápido para poder garantir a retomadas”. Vivianne demonstrou preocupação com a recuperação da economia, prevendo um PIB zero ou negativo este ano devido ao impacto da crise. “O momento é de incerteza, então temos que ter gestão de crise e riscos de classe mundial. As palavras de ordem são equilíbrio, flexibilidade e foco no detalhe”, complementou.

 

 

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