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As questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) impactam a estratégia de negócios de diversas áreas. Para discutir o tema, o IBEF Mulher realizou, no dia 3 de setembro, um webinar em conjunto com o Veirano Advogados, levando especialistas para debater sobre riscos e oportunidades ESG nos negócios. “Os critérios ESG, se mal gerenciados, geram alto risco financeiro. Como materializar esses riscos é o grande dilema dos nossos CFOs”, diz Ana Luci Grizzi, sócia da área ambiental do Veirano Advogados, que moderou o painel. Maria José Cury, VP do IBEF Mulher e sócia da PWC também esteve presente durante o evento on-line.
Ana Luci destaca a importância de se discutir cada uma das letras da sigla ESG, sendo que em governança há uma estrutura que visa materializar os valores e propósitos das empresas com retorno para o acionista. Já a questão social é protagonista na responsabilidade e gestão de pessoas, com viés interno dos empregados, partindo de regulação trabalhista e da saúde e segurança do trabalho, além do viés do consumidor, com direitos do consumidor, e o viés da comunidade, que é impactada pelos produtos e serviços.
Já no meio ambiente, há uma série de assuntos a serem discutidos, como mudança climática, água, solo, contaminações, esgotamento sanitário e industrial, resíduos, etc. “Como implementar, na prática, a questão de avaliação de critérios ESG?”, questionou Ana Luci, que apresentou a visão sobre uma implementação top down, necessariamente sendo conduzida dentro das pautas de conselhos e depois tratada em comitês específicos. “O tema deve passar por gerenciamento de risco e inovação. Precisamos ter ainda discussões em curto e longo prazo, e reavaliar a remuneração dos executivos”, destaca.
Na visão de Fábio Barbosa, ex-presidente da Febraban e conselheiro, hoje a sociedade está demandando das empresas um padrão de comportamento diferente. “Essa nova geração tem consciência ambiental, social e ética que gerações passadas não tiveram. Há outro padrão de consumo, sobre o que acontece com a embalagem dos produtos, e não é por acaso que produtos são cancelados por conta da pressão do consumidor. O investidor também está querendo saber onde está sendo aplicado seu dinheiro e eles moldam o mundo, cada vez mais engajados no assunto”, diz.
Governança – A governança dentro de ESG talvez seja o aspecto mais conhecido e mensurado, incluindo regras, práticas, processos e estruturas pelos quais a empresa é administrada, e recentemente o investidor tem se engajado em cobrar um papel maior dos conselhos em questões de impacto. Olivia Ferreira, fundadora e CEO da Enlight, ressalta que a diversidade é um tema que tem aparecido na pauta dos conselhos justamente por uma cobrança dos investidores. “Num primeiro momento, a diversidade é mais focada em gênero, mas cada vez mais se busca uma diversidade mais ampla nos conselhos, e mais do que olhar para o número de conselheiras mulheres, deve-se ter uma cultura de diversidade e inclusão nas companhias”.
Segundo ela, estudos comprovam que uma força de trabalho e conselhos diversos trazem uma performance financeira melhor, além de impactar nas decisões de companhias, reduzindo riscos ESG. “O investidor está preocupado em garantir que a empresa utilize bem o capital humano disponível”, ressalta Olivia.
Ela alerta, contudo, que na prática as coisas podem ser diferentes. “Governança vai muito além de regras e critérios, estamos falando de questões comportamentais. Existe uma cultura de ética e compliance na companhia, uma dinâmica saudável e eficaz no conselho de administração? Ele é composto por perfis diversos, seja em gênero, raça, etnia, backgrounds, personalidades, etc.?”, questiona Olivia, reforçando a importância de não se cair apenas no check the box, e ir além das regras, para a prática.
A governança é o elemento chave de sustentabilidade da empresa no longo prazo. Olivia destaca que na Europa e em alguns outros mercados, o E e o S já estão mais avançados. “Mas a governança é premissa para os demais aspectos, e sem governança fica praticamente impossível a empresa incorporar os outros critérios. A governança, tem sido avaliada e medida há mais tempo com relação às materialidades financeiras”, complementa.
Ambiental e Social – Na parte ambiental, Fabio Barbosa ressalta a importância de trabalhar de forma sustentável esses critérios, não incorrendo em um risco, ou até criando um modelo de negócio sustentável. Ana Luci destaca a dificuldade de se fazer avaliação de risco desses critérios, pois normalmente os riscos não são monetizáveis. “Mas é importante ressaltar essa previsão de materialização dos riscos ambientais, climáticos, sociais, etc.”, diz.
Abordando o risco social, Hilton Faria, diretor de RH e relações institucionais da WEG, falou sobre o ciclo de integração social da companhia, que começou desenvolvendo a comunidade no entorno da empresa, localizada em Jaraguá do Sul (SC). “A WEG criou o ciclo de integração social das esposas dos executivos da companhia para estender o que havia de bom na companhia para a comunidade onde a WEG atua. Então, entre pessoas, consumidor e comunidade, há um ato bem marcante e concreto dentro de um trabalho que a companhia fez. Criamos ainda o que chamamos de pesquisa socioeconômica, e vimos que problemas no desenvolvimento socioeconômico do colaborador poderiam refletir na comunidade ao redor da WEG”, destaca.
Para ele, o efeito de se ter esse tipo de ação é a satisfação de estar contribuindo para o crescimento do colaborador, pois não existe empresa sadia com comunidade doente. “É difícil dizer o quanto se entrega e o quanto se recebe, mas se temos um bom clima de trabalho e pessoas satisfeitas onde moram, certamente se tem bons resultados em sua companhia”, avalia Hilton Faria.
Evolução – Os critérios ESG têm evoluído dentro das companhias conforme há maior consciência sobre o cuidado com o colaborador e o atendimento ao cliente. Hilton destaca que na WEG, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) acelerou ainda mais esse processo e levou um novo pensar para o gestor. “O novo empresário está olhando as coisas de modo diferente. Hoje, investimos muito em segurança do trabalho, não reduzimos nosso quadro de trabalhadores durante a crise e preservamos empregos, utilizando medidas como redução de jornada, entre outras. Essas ações trazem resultados positivos aos processos”, diz.
Além da pressão da própria comunidade, fundos internacionais têm observado como o Brasil trata esses temas dentro de suas companhias. Fabio Barbosa destaca que as empresas estão cada vez mais assumindo compromissos públicos, e isso está em linha com suas metas. “As organizações precisam entender que esse compromisso é fundamental nas oportunidades que representam. Mais cedo ou mais tarde, as empresas podem ser penalizadas por não assumirem esse compromisso, e há uma cobrança constante. Assim caminhamos para padronizar esses critérios de avaliação”, destaca.
A regulação entraria para acelerar esses processos, diz Olivia, além de trazer mais transparência e foco no longo prazo, mas enquanto isso não acontece, o mercado vai se ajustando. “As empresas vão elevar seus padrões de reporting e transparência, e em um primeiro momento já temos ferramentas que devem se tornar mais divulgadas para que as empresas possam medir seus impactos e riscos diante dessas questões. Cada investidor está fazendo o seu próprio due diligence e se sofisticando. Além disso, as empresas e os investidores devem ter uma habilidade de se antecipar às futuras materialidades em ESG que podem vir a impactar os negócios”, complementa.
Assista aqui a gravação da live.