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A revolução dos meios de pagamento tem seu marco com o lançamento do Pix, novo meio de pagamento eletrônico do Brasil. Com a chegada do Pix, o acesso aos meios digitais de pagamento será ampliado e a tendência é que esse modelo continue crescendo. Para discutir a revolução desse setor, o IBEF-SP realizou, no dia 23 de setembro, o webinar A Transformação nos Meios de Pagamento e a Influência do Pix, com patrocínio do Citi Brasil. A live foi moderada por Camila Abel, líder da CT de Tesouraria e Riscos do Instituto.
Mateus Almeida, CFO do Citi, destacou a importância e impacto que o tema leva às empresas. O banco já atua em 24 países com o Pix e, segundo Leandro Quintal, responsável por Produtos e Canais Digitais do Citi, para o Brasil esse novo sistema é extremamente benéfico, aumentando concorrência e trazendo oportunidades para os bancos de nicho. “Será uma oportunidade de atuar em novos segmentos”, diz Leandro. Ele reitera que a transformação digital decorre do advento de novas tecnologias, que estão acelerando as mudanças, o uso de dados, além das transações serem cada vez mais real time. Outros dois importantes pilares que sustentam esta revolução passam por uma Internet cada vez mais segura e o advento das interfaces de programação de aplicações (API). “Isso leva a uma forte mudança nos modelos operacionais dos clientes, conectando os ecossistemas de maneira mais ágil impactando positivamente os negócios e expectativas dos clientes”, diz.
Segundo Leandro, há alguns modelos de cadeias produtivas tradicionais sendo impactadas, abrindo espaço para um relacionamento mais direto, como um produtor acessando diretamente ou por meio de um market place o consumidor final. “Isso corrobora para um projeto como o Pix”, diz. Do ponto de vista de mudanças regulatórias, os principais pilares das novas regulamentações estão sustentados pela interoperabilidade, transações eletrônicas, privacidade de dados e proteção ao consumidor, supervisão colaborativa, cybersecurity e padronização. Leandro reitera que o Pix vem a atender as novas expectativas dos clientes e consumidores, trazendo uma melhor experiência, com transação instantânea, segura e conveniente. “Essa é uma visão de transformação que temos acompanhado fora do país, com oportunidade de implementar novas soluções no Brasil”.
Funcionamento do Pix – O Pix inicia suas operações no dia 3 de novembro de 2020 no modo soft opening, com restrições de horário e de clientes embarcados, e no dia 16 de novembro deste ano o serviço estará totalmente disponível. Para esclarecer como funcionará o Pix, quais as suas vantagens e qual será o futuro dos meios de pagamento eletrônicos no Brasil, Carlos Brandt, chefe-adjunto do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central do Brasil fez uma apresentação contando o projeto desde o seu início, com a diretriz de uma interação com a indústria e agentes de mercado de forma ampla. “Incluímos mais do que os prestadores de serviço de pagamento, mas também escritórios de advocacia e consultorias que ao longo desse processo contribuíram para chegarmos onde estamos”, diz Brandt.
Segundo ele, o Pix nasce de uma revolução digital e um novo jeito de pagar e transferir, sendo uma forma rápida de pagamento, instantânea, segura, versátil e disponível a qualquer momento, com baixo custo e em um ambiente aberto, o que propicia a competição. “Apesar de trazer os benefícios da migração do papel para o eletrônico e complementar essa cesta, o objetivo é ampliar as escolhas”, destaca. No e-commerce, o Pix tem características que potencializam sua utilização, com mecanismos de segurança, em especial utilizando as capacidades de smartphone e as autenticações. “Isso permite ter um instrumento de pagamento que consiga prover segurança em transações nesse ambiente”, diz Brandt. Outro ponto que facilita a utilização é a confirmação imediata. Brandt deu o exemplo do boleto, no qual a empresa aguarda a confirmação do pagamento por mais de um dia. “Isso gera um custo não só de incertezas, como de processos”. Ele reitera que com a confirmação imediata do Pix, é possível ter a automação do envio do produto.
Também está sendo padronizada uma API-Pix com funções de recebimento imediato e de cobrança. Além disso, o Pix pode ter em seu ambiente o agendamento e a padronização de pagamento antes e após o vencimento. Outra funcionalidade é o saque do Pix em estabelecimentos comerciais, que está sendo definido para lançamento no final do primeiro trimestre de 2021, segundo Brandt. “Isso possibilitará o reuso do dinheiro pelos estabelecimentos comerciais e o aumento de fluxo de clientes”, diz.
O potencial do Pix transforma ainda a dinâmica de pagamento, especialmente a jornada do cliente, proporcionando o fim das filas em uma compra física, onde o cliente deve aguardar para fazer o pagamento no caixa. “Tendo o dispositivo individual para realizar o pagamento, esse afunilamento passa não ser mais necessário”, explica Brandt. “Isso também decorre na eliminação do ponto de checkout. Além disso, o Pix tem uma dinâmica de devolução imediata não somente do valor total, mais também parcial em caso de desistência do cliente, reduzindo conflitos entre a empresa e o estabelecimento comercial”, diz Brandt.
Ele ressalta que vários outros produtos estão na agenda evolutiva do Banco Central, com mais de 20 itens, destacando três: pagamento de duplicata eletrônica no Pix; Pix nos marketplaces; e débito automático Pix. Brandt destaca que o Pix, apesar de ser um arranjo de pagamento, deve trazer mudanças significativas junto com outras alterações regulatórias que impactarão o mercado financeiro como um todo. “Ele está no pilar da agenda estratégica do Banco Central, liderado por um time que é responsável pela dimensão e estrutura do mercado financeiro”, diz, indicando que novas revoluções nessa área devem ocorrer ao longo do próximos anos.
Experiência do consumidor – No contexto da atual pandemia, a dinâmica de crescimento do e-commerce foi exponencial, com exigência de pagamentos rápidos pela necessidade de girar a economia e de gestão de liquidez, além da necessidade de pagamento sem contato físico. “O Pix ajuda ainda no suporte à atividade econômica com ganho de eficiência, entrando como um vetor de apoio à retomada do crescimento do nosso país”, diz Brandt.
Ana Paula Lapa, vice-presidente de Produtos da Mastercard Brasil e Cone Sul, destaca que atualmente a indústria de pagamento evolui para garantir a confiabilidade das transações em um mundo mais remoto e conectado, e a transformação digital já é uma demanda do consumidor final, especialmente com o uso de smartphones, que permitem o acesso a informação e a tomada de decisões de maneira instantânea. “Esse processo de uso constante de tecnologia se acelerou com a pandemia, fazendo com que os brasileiros adotassem novas tecnologias e adquirissem novos hábitos, impulsionando o avanço dos pagamentos digitais”, diz Ana Paula.
Uma pesquisa da Mastercard atestou que durante o período de isolamento social no Brasil, 75% dos consumidores afirmaram ter aumentado o uso de pagamentos digitais; 61% afirmaram ter testado um novo tipo de pagamento por aproximação ou digital nos últimos meses e 50% concordam que o uso de novas tecnologias aumentou durante a pandemia. “Uma transformação que já vinha acontecendo foi acelerada, e quem experimentou, gostou e vai adotar esses meios de pagamento”, ressalta Ana Paula.
Ela reitera, contudo, que as jornadas de consumo se tornaram mais complexas e mais diversificadas, e isso faz com que a melhor experiência de compra para o usuário se torne um diferencial competitivo. “A experiência de consumir e a de pagar estão absolutamente sinérgicas”, destaca. “Mas o que vai garantir que o usuário continue usando os meios de pagamento digitais é a confiança, e temos esse compromisso”, diz, apresentando dados de outra pesquisa da Mastercard que mostra que 75% dos brasileiros disseram que querem realizar pagamentos em tempo real; 53% gostariam que esse pagamento fosse feito via suas redes sociais usuais; e 55% esperam que todas as transações financeiras sejam feitas em tempo real. “Temos que prover a segurança necessária para esses clientes, garantindo que o consumidor fique feliz e seguro com o que é oferecido”, complementa.
Impacto – Os pagamentos instantâneos já são uma realidade há algum tempo, e a chegada do Pix deve ter a função de democratizar os meios de pagamentos eletrônicos. “Os estabelecimentos físicos já têm várias soluções de pagamento com código QR, e o Pix traz uma racionalidade para esse sistema, permitindo que todas as carteira digitais interoperem entre si, facilitando a vida do estabelecimento e do comprador”, diz Pedro Castanheira de Paula, country-head do Mercado Crédito Brasil, braço do Mercado Pago.
Segundo ele, no longo prazo o crédito também será uma ferramenta de fomento ao Pix, que traz ainda muita competição ao ecossistema. “Vai prevalecer no negócio que tiver a melhor proposta de valor aos seus clientes, dando oportunidade às fintechs para aumentarem sua base de clientes”, diz Pedro Castanheira. Além disso, ele pontua que o Pix deve aumentar o volume financeiro com meios de pagamento mais eficientes e baratos, promovendo a inclusão financeira com a digitalização de um segmento ainda marginalizado.