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Mais um forte pilar da transformação digital no Brasil, o open banking chegou ao país e deve mexer com as estruturas de instituições financeiras e empresas. Diante dessa transformação, os clientes serão beneficiados e passarão a ser proprietários de seus dados. O cenário traz desafios, contudo, para que empresas e instituições se adaptem a essa nova realidade. A live “Open banking e o impacto na realidade dos CFOs”, promovida pelo IBEF Global em 26 de novembro, levanta os principais pontos aos quais os profissionais de finanças terão que se atentar a partir dessas mudanças.
Com patrocínio da Dell e da PwC, a live contou com moderação de Pierluigi Scarcella, diretor de negócios na Ascensus e VP do IBEF Global. “O open banking tem tudo a ver com transformação digital e traz oportunidades, gerando redução de custos para o consumidor final, mas também contém desafios sobre armazenamento de dados, transferência e uso desse ativo, que se torna cada vez mais valioso”, diz Pierluigi.
João Ribeiro, vice-presidente e CFO da Dell, destaca o tema extremamente atual, pois a indústria financeira é uma das mais impactadas pela transformação digital, com fintechs trazendo inovações para o mercado, mudanças no meio de pagamento, carteiras digitais, e inovações também no segmento B2B. “A Dell está participando da revolução que está acontecendo no mercado financeiro com soluções para o modelo de open banking, iniciando esse assunto na Europa e trazendo para o Brasil a experiência”.
Sergio Dias, sócio da PwC, reitera que debates sobre o tema são oportunos, pois o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central se juntaram para iniciar processos de regulamentação do sistema financeiro aberto, cujo go live ocorreu no dia 30 de novembro de 2020. “É o momento para estarmos discutindo sobre isso. A previsão, de acordo com a norma, é que o open banking leve até outubro de 2021 para ser totalmente implementado”, diz.
Ele destaca ainda dados de uma pesquisa da PwC que mostra que mais de 50% da população desconhece o Pix e o open banking, que fazem parte da atual revolução tecnológica e digital que ocorre no Brasil. “Com o open banking, o cliente passa a ser proprietário do seu dado e vai decidir buscar os serviços mais adequados e baratos para ele”, reforça Sergio Dias.
A partir disso, o cliente pode autorizar que uma instituição financeira compartilhe seus dados com outra instituição financeira, democratizando os serviços financeiros, conforme explica Claudia Eliza Medeiros, sócia da PwC. “Com essa autorização, a instituição acessa o histórico do cliente e pode oferecer, inclusive, determinadas condições de acordo com esse histórico. O cliente pode ter, em uma plataforma só, diversos relacionamentos com instituições financeiras”.
Do lado das fintechs, elas podem checar com as instituições financeiras se o cliente preenche pré-requisitos, por exemplo, para utilizar ou adquirir um produto ou serviço. “As empresas poderão ter esse acesso também no longo prazo”, complementa Claudia, explicando que essa nova realidade formará um ecossistema entre instituições, empresas e fintechs. “Com esse poder nas mãos dos clientes, as instituições financeiras vão concorrer entre si, o que tende a gerar uma redução dos custos pelos serviços prestados, promovendo maior competitividade no setor”, avalia Claudia.
Tecnologia – Diante da maior competitividade, Leonardo Araujo, Latin America senior consulting director na Dell, reitera que as instituições terão que evoluir em termos de tecnologia para alcançar as startups e fintechs. “A questão é quão ágil será a evolução dos bancos para funcionar nesse modelo”, questiona, destacando que as instituições são capazes de incorporar esse modelo por meio de interfaces de programação de aplicações (APIs).
Leonardo destaca que os bancos terão que abrir suas interfaces para que o sistema financeiro seja padronizado e os dados liberados. “Tudo começa, em termos de tecnologia, em quão ágil você vai ser para atender a essa demanda. Os bancos devem se interconectar e passar a recomendar esse serviço aos seus clientes”.
Do lado das empresas, Vivianne Valente, CFO do Grupo Tigre, destaca que as áreas de crédito das empresas vão se transformar completamente, revolucionando as análises para o cliente. “No que diz respeito à tecnologia, o conceito das APIs padrões também vai evoluir para adquirentes e integrações, e espero que com isso tenhamos um custo de integração mais barato”, diz, enfatizando que a área de tecnologia precisará atuar muito para dar vazão a tantos projetos que devem surgir a partir do open banking.
Transformação – Na visão de Vivianne, a ausência de informação e risco é uma fricção nas relações comerciais, e o open banking visa reduzir essa fricção, tornando os processos financeiros mais fluidos. “Isso deve impactar o consumidor final não só do ponto de vista dos bancos, mas em todas as relações comerciais”, diz, reforçando que o CFO deverá formar parcerias com a área de TI e trabalhar com arquiteturas para usufruir do benefício dessa transformação.
Tiago Azevedo, CFO do Mercado Livre, reitera que os impactos são ainda maiores para empresas de meio de pagamento, como o Mercado Pago. “O impacto regulatório é bem mais complexo do que o do Pix, pois estamos falando sobre uso e compartilhamento de muitos dados, e a capacidade de usá-los terá um processo mais lento. Vai demorar para que a gente comece a ver esse impacto no usuário”, diz.
O segundo impacto pontuado por Tiago será no ambiente de desenvolvimento de negócios pensando em carreiras de CFO e financeiras, com o open banking gerando mais investimentos nessa área. “O que o open banking vai fazer é criar muitos outros mercados, gerando uma migração natural de talentos para este ambiente. Assim, teremos que pensar sobre qual o nosso conhecimento do sistema financeiro, que se funde cada vez mais com o mundo do varejo e do comércio, e as skills do profissional de finanças vão mudar”.
Novo profissional de finanças – Para lidar com essas transformações, o CFO deve desenvolver novas habilidades, inclusive hard skills, já que o novo cenário que o open banking traz mistura a experiência no mercado tradicional com as fintechs. “Será necessário ter um entendimento do sistema brasileiro de pagamentos e um entendimento regulatório de como funciona uma instituição de pagamento; e o que cada player pode ou não fazer no sistema financeiro. Esse é o grande desafio para um profissional de finanças que não veio de uma instituição financeira ou de uma fintech“, diz Tiago Azevedo. “O que todo financeiro deve desenvolver é o conhecimento sobre esse arcabouço. Independente de onde você está, é preciso ter esse entendimento”, reforça.
Leonardo Araujo ressalta que o CFO deve ter uma estrutura multidisciplinar, não podendo ser “cego” para tecnologia, formando parceria e trabalhando com o compartilhamento de informações. “Os bancos não estão mais sozinhos, e o profissional de finanças será um gestor de portfólios. A sua infraestrutura deve estar muito preparada e ser mais interativa”, diz, ressaltando que a concorrência exigirá mais agilidade nos processos decisórios. “Se continuar no modelo tradicional, não terá agilidade para concorrer com os novos entrantes”, reitera. Leonardo ressalta que o time deve ser diverso para pensar como o usuário e o consumidor dos serviços. “Entender e aprender o perfil do cliente será fundamental”.
Outra preocupação que os profissionais de finanças devem ter é com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que contempla em seu cerne proteger a privacidade do indivíduo, enquanto o open banking foi criado para o compartilhamento. “Os dois se complementam, um deve se basear no outro, mas existe uma dicotomia”, avalia Leonardo. Ele aconselha que os CFOs chamem seus colegas da área de tecnologia e inovação para trabalharem juntos nesse sentido.
Ele diz ainda que vão surgir novas profissões, como engenheiros e arquitetos de dados ou de nuvem, e o machine learning e analytics serão cada vez mais fortes nas companhias. “Chame seu CIO, seu CTO, porque tecnologia deixou de ser um centro de custos para ser viabilizador do business“.
Vivianne Valente complementa dizendo que as empresas precisam se preparar para integrar os serviços com toda a rede, criando uma infraestrutura que gere valor e ganho de escala. “A indústria e o varejo tradicional devem estar prontos e com a cabeça adequada para poder usufruir do benefício da redução da fricção através do digital que o open banking vai trazer”.
Os CFOs devem ficar atentos à transformação digital, com foco em tecnologia, e pensar em um modelo de estratégia daqui pra frente, conhecendo bem o open banking, diz Claudia Medeiros. “Inovação é tudo, e quem conseguir inovar de forma mais rápida terá uma competitividade melhor, obtendo benefícios e incrementando a receita”, diz.