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Executivos destacam a relação positiva entre investimento em saúde e rentabilidade, e compartilham suas perspectivas sobre o impacto das novas tecnologias no setor dos serviços de saúde para a redução de custos e ampliação de acesso de clientes.
No último dia 09 de junho, o IBEF-SP realizou o painel “CFOs: uma visão sobre a saúde e seus impactos nos negócios”, patrocinado pela CTI Global e pela iTech Care.
Os speakers do evento foram: Fernando Leão, diretor executivo de Finanças e RI do Grupo Fleury; Magali Leite, CFO na Beneficência Portuguesa de São Paulo; Patrícia Leisnock, CFO da Sociedade Brasileira Israelita Albert Einstein. A moderação ficou a cargo de Serafim de Abreu Jr., CFO Regional na Scala Data Centers e membro do Conselho de Administração do IBEF-SP.
Desafios para os CFOs – Na abertura da live, Francisco Loschiavo, managing partner na CTI Global, apresentou algumas soluções para planejamento e controle financeiro, área de especialidade da companhia. Ele observou que, após o primeiro impacto da pandemia, os principais desafios elencados pelos CFOs do IBEF-SP na área de FP&A foram: aumentar a integração e velocidade das projeções de cenários de resultados e geração de caixa, bem como incorporar novas tecnologias para aumentar a eficiência dessas funções. Para ajudar o CFO no processo de análise e decisão, a CTI desenvolve soluções que utilizam a ciência de dados para auxiliar o executivo a analisar cenários futuros de forma rápida, integrando os planejamentos de S&OP e FP&A com modelos sob medida para cada negócio, que permitem “abandonar antigos processos orçamentários lentos e fragmentados”.
O CEO do Grupo Case, Rafael Motta, abordou os elevados custos da saúde no Brasil, que figura entre os mais caros do mundo, e algumas ações para reduzir o impacto dos reajustes, promovendo uma gestão de saúde orientada pelo ROI. Rafael destacou que no Brasil existem dois tipos de inflação, “uma regular e outra para a saúde que é duas a três vezes maior, o que não faz muito sentido”. O CEO informou, ainda, demonstrando dados relativos aos Estados Unidos, que o problema dos altos reajustes ligados a saúde é mundial.
Disse acreditar que o principal desafio para os operadores do mercado de saúde são as fraudes, que representam R$ 40 bilhões: “Se não se consertar esse aspecto, a curva de custos vai continuar ascendente”, frisou. Um segundo fator apontado são as cirurgias eletivas desnecessárias: “30% não deveriam ser feitas” e têm alto impacto nos custos, afirmou. Ressaltou, ainda, a necessidade de repensar a jornada do paciente e as questões da prevenção e da judicialização. Por fim, destacou que o momento atual é de apreensão pois a retomada das cirurgias (demanda reprimida) no período pós-Covid pode ter um forte impacto nos reajustes das operadoras.
Saúde e rentabilidade – Serafim Abreu destacou que não só de pontos negativos sobre a pandemia, tendo-se aprendido muito com ela. Patrícia Leisnock notou que um dos efeitos positivos da crise foi colocar o setor da saúde em evidência para a população, conhecer e reconhecer o papel do SUS, do Plano Nacional de Imunização, os trabalhos em pesquisas e a evolução das carreiras em saúde. Além disso, as reflexões suscitadas nesse período mudarão a forma como a sociedade olha para a saúde. Existe uma relação positiva entre investimento em saúde, desenvolvimento econômico e rentabilidade, afirmou a executiva. Sugeriu a mudança no olhar sobre a questão, do pagamento de doença para o investimento em saúde. “A geração de riquezas é feita pelas pessoas e pessoas saudáveis tendem a produzir mais”, complementou.
Desafios do setor – Patrícia destacou que o principal desafio não é a falta de recursos e sim a desigualdade de distribuição desses recursos e a necessidade de redesenho sistêmico. Para a CFO, o que deve ser feito é melhorar a gestão dos recursos e uma mudança cultural. A solução passa por um redesenho do modelo englobando um melhor aproveitamento dos recursos ambulatoriais, racionalização no uso dos recursos de alta complexidade, redução dos desperdícios, melhoria da qualidade e diminuição da desigualdade na entrega dos serviços, além de buscar uma ampliação do acesso à saúde pois “somos seres sociais e se não tivermos saúde compartilhada, ninguém está seguro”, afirmou.
Consolidação do setor – Indagado por Serafim, sobre as oportunidades de negócios em um cenário de verticalização de serviços, Fernando Leão destacou um movimento nesse sentido com empresas apresentando uma proposta de valor diferente, integrando a cadeia de saúde e a jornada do paciente para otimizar recursos e oferecer uma melhor experiência para o cliente. O mercado da saúde demanda grandes players e apresenta muitas oportunidades de negócio. O contexto atual exige um redirecionamento estratégico para buscar o “que realmente entrega valor, que é cuidar da saúde e não cuidar da doença”, completou.
Transformação do setor – Magali Leite ressaltou que o setor está em ampla transformação. A oferta de capital para investimento está permitindo a escala e verticalização, em parte necessária pelo ambiente competitivo, em parte pela dificuldade de aprovisionamento de insumos. Outro fator relevante é a dominação regional de players muito fortes e a transformação digital acelerada pela pandemia. Essa conjuntura gera uma corrida “muito ágil pelo avanço de soluções, sejam de tecnologia sejam de remuneração”, frisou.
O surgimento de healthtechs, que são agentes mais focados em atenção primária e tratamento prévio com diagnósticos mais rápidos, colabora para desafogar o sistema, endereçando o paciente ao hospital, o tratamento mais caro, somente em um último momento. Esse grupo de novos entrantes no mercado, que oferecem a possibilidade de acesso à saúde para uma população que não conta com um plano de saúde tradicional, tem potencial de atrair parte das 160 milhões de vidas brasileiras que não tem acesso à saúde suplementar. “Essas variadas soluções e modelos diferenciados vieram para ficar”, destacou Magali.
Transformação digital – Fernando Leão ressaltou que o mercado avançou muito em termos de tecnologia na questão de exames, equipamentos e medicamentos. Por outro lado, a experiência do usuário não se modificou ao contrário de outros setores. O executivo destacou que há boa margem para melhoria no que tange aos processos internos ou experiência do cliente – agendamentos, tempo de espera – e no que diz respeito à democratização do acesso aos serviços de saúde.
Compartilhando a experiência da organização, ele citou que a telemedicina vem nesse sentido, permitindo aumento no número de consultas diárias, maior alcance geográfico e redução nos custos de operação. “A tecnologia está revolucionando o setor e é fundamental para uma saúde de qualidade e para a democratização do acesso”, completou.
Patrícia recordou que o paciente ao centro do cuidado foi conceito negligenciado por muitos anos no setor, sendo necessária a correção dessa abordagem. “A experiência do usuário é ruim e representa um desafio.” A executiva também citou a importância da telemedicina para equalizar a relação custo-complexidade. Essa ferramenta é mais efetiva para os casos de baixa complexidade, permitindo que o paciente seja tratado a distância, evitando, ainda, o uso desnecessário dos prontos-socorros que representam uma estrutura de alto custo para as empresas.
Magali salientou a preocupação e as possibilidades com as informações pessoais dos pacientes. Se de um lado, trata-se de dados sensíveis que merecem toda a atenção – inclusive à luz da LGPD -, por outro, disse acreditar que o “open banking” deve chegar para as empresas de saúde para possibilitar que o profissional médico obtenha o compartilhamento de informações completas sobre o paciente. Por fim, ela reforçou a importância da telemedicina para os cuidados à distância, como por exemplo cirurgias remotas ou conferências entre médicos para discussão de casos complexos.
Novo olhar para a saúde – Serafim Abreu questionou os participantes sobre como usar a medicina preventiva e as terapias alternativas para reduzir os gastos médicos com os colaboradores. Patrícia destacou que as empresas atualmente têm um conceito equivocado de saúde, fornecendo benefícios para tratar a doença já instalada. Frisou ainda, a importância da saúde mental que é tida como um “estigma”. Ressaltou que ela afeta a rentabilidade e produtividade das pessoas e os custos das empresas, “representando o terceiro maior gasto dentro das carteiras de saúde”. Como alternativa, disse acreditar ser “necessário o redesenho do sistema, para a atenção com a saúde de forma mais ampla, que acompanhe o paciente enquanto está saudável e para que ele permaneça saudável”.
O vídeo da live ficará disponível para acesso dos associados no canal do IBEF-SP no YouTube.