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Ajuste da política monetária deve ser tema dominante no mundo em 2022, afirma economista-chefe do Banco Alfa

Este ano reserva desafios econômicos e políticos, mas também oportunidades, avalia o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal. Ele foi o convidado para um bate-papo com Alex Malfitani, Vice-Presidente do IBEF-SP e CFO da Azul Linhas Aéreas, na live “Perspectivas Econômicas 2022”, realizado em 27 de janeiro. O evento teve como host Marcelo Pires, secretário geral do IBEF-SP.

Aperto monetário – Ao explicar o cenário global, o economista notou que os países, cada um a seu tempo, promoverão ajustes em sua política monetária em 2022. No caso dos emergentes, ele citou como exemplos decisões recentes, neste final de janeiro, do Banco Central do Chile, que elevou novamente a taxa básica, que para 6% a.a. e da África do Sul, que aumentou para 4%.

Leal destacou ainda a previsão de alta dos juros pelo Banco Central do Reino Unido, no início de fevereiro, e pelo Federal Reserve – Fed, nos Estados Unidos, prevista para março. “A tendência é que vejamos a política monetária contracionista sendo mais dominante do que foi ao longo de 2021”, apontou Leal.

Liquidez abundante – Apesar do movimento em direção à elevação de juros, as principais economias do mundo ainda estão com políticas monetárias muito frouxas, observou o economista. Ele lembra que em um cenário de inflação de 7% nos EUA (prevista para encerrar o ano em 5%), o mercado projeta os juros básicos do país em 1% no término de 2022, o que ainda representaria uma taxa negativa de 4%.

Ainda que exista a previsão de o Fed retirar liquidez do mercado, através de seu balanço, a partir de junho, Leal lembra ainda que circulam na economia US$ 4,4 trilhões de dólares comprados pelo banco central americano desde o início da crise gerada pela pandemia de covid-19.


Crescimento mundial favorece o Brasil –
  Mesmo com a provável desaceleração da economia global, segundo projeções do FMI divulgadas nesta semana, o mundo crescerá em torno de 4,4% em 2022, o que ainda é muito, afirmou Leal, notando que o ritmo “normal” de crescimento global é entre 2% e 3%.

“Então, a despeito dessa sensação ruim de você ver vários bancos centrais aumentando a taxa de juros, 2022 ainda será um ano em que o mundo crescerá acima da média. Isso acaba favorecendo as commodities e, consequentemente, países ligados a commodities como o Brasil. Então, certamente a contribuição do mundo para o crescimento brasileiro este ano será altamente positiva”, afirmou o economista-chefe do Banco Alfa.

Riscos e volatilidade –  Segundo Leal, os períodos de maior volatilidade no ano deverão ser o segundo e o terceiro trimestres, em razão dos ruídos políticos gerados pelas campanhas eleitorais na disputa pela presidência do Brasil. Os candidatos que lideram as atuais pesquisas de intenção de voto devem adotar um discurso de aumento de gastos públicos, gerando volatilidade em um mercado já sensível ao risco fiscal.

Merece atenção ainda a reprecificação da curva de juros americana. Para Leal, o ritmo do aperto da política monetária nos EUA será o principal risco da economia global em 2022.  “A inflação no país está muito acima do normal, esses 7% são o maior índice desde 1982. Isso pode fazer com que o Fed tenha que subir os juros mais do que o mercado está precificando”, avaliou.

Outro risco é o efeito da política da China de “tolerância zero” para conter a pandemia de covid-19, que pode impactar não só a economia asiática, como os preços das commodities e as cadeias produtivas globais. Ele lembrou que em agosto de 2021, em razão dessa política, a China fechou parcialmente o terceiro maior porto do mundo, após a detecção de um caso de covid em um estivador. A paralisação afetou os preços do frete e tráfego de embarcações, gerando efeitos sistêmicos.

Dinheiro mais caro e pressões inflacionárias – O Brasil ainda deve conviver com juros básicos expressivamente elevados por algum tempo, avalia Leal. Conforme observou Alex Malfitani, o país passou saltou da condição de ter uma das menores taxas de juros reais do mundo para uma das mais altas em curtíssimo espaço de tempo.

O aperto monetário deve contribuir para o controle da inflação em 2022 – prevista para terminar o ano entre 5% e 6%, podendo ficar de novo acima da meta. Contudo, impactará o crescimento. A projeção do Alfa é que o país entregue um PIB de 0,3% ao final de 2022, com a colaboração do setor agropecuário (que poderá ter desempenho afetado pelas secas) e do cenário externo.

Leal ressaltou que a inflação elevada não é algo transitório ou fruto apenas de um “choque de oferta”; ela tem uma raiz mundial, como os problemas nas cadeias produtivas e aumento nos preços da energia, em meio a uma economia americana superaquecida.

Em relação ao câmbio, o economista avaliou que o dólar americano no patamar de R$ 5,41 não é sustentável, sendo resultado do grande fluxo de investimento estrangeiro no Brasil (R$ 25 bilhões na B3 desde o início do ano). Quando o fluxo estancar, os fundamentos devem prevalecer, como o elevado risco país, observou. A projeção do Alfa é que o dólar poderá atingir R$ 6 no ano, em momentos de maior nervosismo do mercado.

Oportunidades – Apesar da forte volatilidade prevista para o ano, Leal observou que o Brasil “não vai acabar”, mesmo que a sensação possa ser essa em alguns momentos. “O recado é: respeite o ciclo eleitoral. As coisas podem piorar muito, a Bolsa cair, o dólar subir, e é neste momento que deve-se ter sangue frio para ir às compras. Haverá oportunidades para se ter ganhos expressivos, apostando no Brasil que virá após as eleições”, disse Leal, notando que a história mostra que os ativos brasileiros tendem a performar melhor depois desse ciclo.

Clique aqui para assistir ao vídeo da live completa.

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