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A iniciativa IBEF Conecta começou sua agenda de eventos de 2022 em grande estilo, com a realização do primeiro Encontro com CEO do ano. A convidada foi Rosana Passos de Pádua, presidente da Coface Brasil, empresa líder de seguro de crédito.
Ibefiana de longa data, Rosana já liderou o núcleo IBEF Mulher – que depois se transformou no IBEF Conecta, ampliando a bandeira da diversidade. Durante o bate-papo com Laura Pereira, Manager da Michael Page, na live realizada em 04 de março, Rosana compartilhou uma trajetória inspiradora, sendo um exemplo de CFO que alçou voo para a posição de CEO.
Profissional que aos 15 anos de idade já sonhava em se tornar executiva, Rosana acumula 41 anos de experiência, tendo somado conhecimentos em finanças, crédito, gestão de riscos, M&A, seguros, governança corporativa e RH (e outras mais) ao longo de uma carreira construída em grandes empresas, a exemplo de Basf, Pátria e CSN.
Transição de CFO para CEO – Rosana contou que a transição da cadeira de CFO para CEO foi uma grande realização. “Há alguns anos, eu estava aqui entre o público do IBEF-SP, em um encontro desses, ouvindo a Rachel Maia (então CEO da Lacoste) e eu me perguntava se um dia estaria nessa posição também. E acredito que conseguimos realizar os sonhos, desde que tenhamos coragem para sonhá-los. Eu sonhei com isso e hoje estou aqui”.
A executiva destacou a importância de construir bases sólidas na vida profissional, aprender sempre e cuidar das relações com as pessoas, acreditando que o melhor sempre vem depois. Ela tomou as rédeas de sua carreira, tendo a iniciativa de pedir oportunidades e se candidatar a novas áreas para ampliar seu escopo de atuação nas empresas pelas quais passou, sempre atenta ao próximo passo.
Nesse sentido, Rosana não teve receio em se aplicar para a posição de CEO quando a oportunidade chegou, pois confiava em sua preparação. “Estou feliz aonde cheguei porque sinto que sonhei, corri atrás e realizei. Ao longo da carreira, sempre joguei o objetivo para mais longe. E sempre farei isso, enquanto eu respirar”.
A CEO enfatizou aos profissionais a importância de acreditar em si diante dos desafios que a vida apresenta. “Eu não tenho medo de nada. Eu não tremo na base. O que eu não sei no momento, eu digo que não sei; e o que eu preciso aprender, vou me dedicar e aprender. Se você confia em si mesmo(a), não tem situação difícil”.
Aprendizado nas crises – Em suas quatro décadas de carreira, Rosana assistiu às muitas crises que se sucederam e viraram os mercados financeiros globais de cabeça para baixo, dos anos 1990 às primeiras décadas dos anos 2000. “Ao longo da vida, vi muitas coisas acontecerem. E todas elas contribuíram fortemente para o meu crescimento, para eu aprender o que era importante na carreira executiva”.
Rosana iniciou sua vida profissional em 1981, década em que o Brasil sofria com nível de desemprego muito elevado. Para se ter uma ideia do problema, dizia-se na época ser a “era em que os engenheiros viraram pasteleiros”, porque não havia emprego para os graduados em Engenharia. O primeiro emprego que ela conseguiu, após muita procura, foi como recepcionista em um laboratório. Mas, obviamente, Rosana não se conformou com aquela situação.
“Eu sempre soube aonde eu queria chegar. Eu tive a sorte de ter pais que me orientaram, em sua simplicidade, de que o único caminho possível era o da educação. Se eu não estudasse, eu jamais sairia da situação em que eu nasci”, contou a executiva.
Sonhando alto – Rosana é paulistana e cresceu no bairro de Itaquera, onde estudou em escola pública. Sua família era simples, mas os pais sempre incutiram nos filhos a importância da escola. “Olha que combinação interessante: eu tinha sonhos – desde os 15 anos eu queria ser executiva -, eu sabia que para chegar lá existia um caminho a percorrer e esse caminho seria pavimentado pela educação”.
Com sacrifício, o pai colocou a filha para estudar em inglês para que ela escolhesse a carreira de comissária de bordo. O que para Rosana não era uma opção, a começar pela sua estatura de 1,74 m, que não se encaixaria bem nas aeronaves da época, conta a executiva com bom humor. “Mas por trás desse sonho havia algo maior: era voar alto, conhecer outros países, conhecer outras culturas. Era isso o que, no fundo, o meu pai sonhava para mim”. Depois do estudo da língua inglesa, que ela conseguiu dar continuidade com o próprio bolso, veio o alemão e o espanhol. Rosana destacou que o aprendizado de idiomas a ajudou muito em seu crescimento.
Após 1 ano como recepcionista no laboratório, Rosana foi a uma agência do Bradesco em seu bairro e, aos 16 anos de idade, sem medo de receber um não, pediu um emprego ao gerente do banco. Trabalhou cinco anos na agência, onde se envolveu em diversas áreas e obteve sete promoções, saindo do cargo de auxiliar administrativo para subgerente de mercado de capitais. Mas ela não se confirmou. Naquela época, as instituições financeiras valorizavam muito o trabalho e pouco a educação.
Inovação e aprendizado – Rosana passou em primeiro lugar para a faculdade de matemática e começou a procurar um novo emprego. Conseguiu uma vaga como analista financeira júnior na Basf, multinacional alemã da indústria química, em 1986, em meio ao Plano Cruzado – conjunto de medidas econômicas lançadas pelo governo José Sarney para conter a inflação galopante da época. Ela foi contratada pelo executivo Helio Pádua, que anos depois se tornou seu marido. O casamento com a empresa também foi longevo: 25 anos de carreira.
Ao longo dessas duas décadas e meia, além de trabalhar em meio aos vários planos do governo para tentar estabilizar a economia brasileira, Rosana teve a chance de participar da formação do centro de serviços financeiros centralizados da multinacional no Brasil e ser responsável pelos países da América do Sul. Também ajudou a desenvolver um sistema de avaliação de crédito, após uma das piores crises da história da agricultura brasileira, que depois foi expandido para as demais filiais da Basf ao redor do mundo.
Adaptação e crescimento – Quando sentiu que seu ciclo na multinacional havia se encerrado, Rosana foi trabalhar como diretora financeira na Companhia Siderúrgica Nacional, após passar por cinco entrevistas com Benjamin Steinbruch. Uma empresa com dono presente, cultura diferente e faturamento 10 vezes maior. “Foram oitos anos, o período de maior aprendizagem para mim. Quando você está em um ambiente mais complexo, mais desafiador, aprende a se adaptar, a se virar e cresce muito”.
De diretora financeira, Rosana somou a experiência como diretora de RH da companhia de 25 mil funcionários, diretora de riscos, compliance e auditoria interna. Também iniciou sua atuação nos conselhos de administração de organizações que tinham a CSN como sócia, a exemplo da MRS Logística. Em seu último ano na CSN, ela já estava em sete conselhos além das várias diretorias. “Trabalhei de forma insana. Mas aproveitei cada dia e cada oportunidade que a empresa me deu, e sou muito grata à CSN por isso”.
Quando sentiu que seu ciclo na companhia havia se completado, ela tomou a iniciativa de buscar o passo seguinte. “Quando você sente que está “vencido” em uma companhia, não tem jeito; você tem que mudar”, contou.
Foi quando recebeu o convite para ser CFO da Lavoro e da Crop Care, controladas do Pátria Investimentos. O período de 1 ano no private equity foi produtivo. A Lavoro adquiriu 10 empresas em 2020, em meio à crise gerada pela pandemia de covid-19, ressaltou Rosana. “É um ritmo intenso: trazer as companhias para dentro, lapidar e fazer as coisas funcionarem. Aprendi muito”, disse a executiva.
No final de 2020, Rosana participou do processo de seleção para substituir Marcele Lemos, como CEO da Coface no Brasil, sendo a escolhida pela multinacional francesa para iniciar no cargo em março de 2021. Sobre a mudança de CFO para CEO, Rosana destaca que a visão do executivo sai de um campo limitado e passa a ser generalizada.
Um dos desafios para os financeiros migrarem ao cargo de CEO está na capacidade de jogar junto com a área comercial, indo além da experiência administrativa, observa Rosana. Seu posicionamento como parceira do negócio, quando ainda estava na cadeira de finanças, ajudou no azeitamento do trabalho com a área comercial, e, em 2021, a Coface entregou resultados excepcionais.
“Quando você se senta na cadeira de CEO você tem que ter uma visão muito holística: o comercial, o jurídico, tudo para em você…”, disse Rosana, lembrando que o CEO, como estatutário, responde pelas decisões com o próprio CPF. “O CEO é o maior gestor de riscos da organização. Esse é o meu maior papel. É preciso gerenciar esses riscos adequadamente: mapeá-los em toda a sua cadeia, acompanhá-los, ainda que com uma visão geral, e criar planos de mitigação e controles”, completa a executiva, que tem um MBA na área de gestão de riscos e é uma apaixonada pelo tema.
Pessoas no centro – Com carisma e empatia, Rosana destacou a importância de se cultivar as relações com outras pessoas ao longo da carreira, com o desejo genuíno de contribuir e ajudar o próximo. Com a visão de gestão de pessoas, ela ressaltou a importância de valorizar o ser humano por trás de cada profissional e suas necessidades. É preciso remunerar as pessoas adequadamente, dar reconhecimento e criar um clima organizacional positivo. “É preciso gerar amor nas organizações. Isso é pouco falado nas empresas, mas é o que nos une, nos motiva, nos faz ter propósito”.
Casada há 29 anos e mãe de dois filhos, a CEO disse que a família sempre foi a prioridade em sua vida. Ela sublinhou que é possível conciliar os desafios pessoais e profissionais e chegar ao topo da hierarquia executiva, nutrindo a autoconfiança e a vontade de ser feliz. “Minha dica é: não complica, porque a vida é simples. ‘Ah, mas se eu me casar, se tiver filhos’ – isso não vai atrapalhar sua carreira”, enfatizou, notando que foi promovida nas duas vezes em que retornou da licença maternidade.
“Não complica. Faça o seu trabalho bem-feito, agregue valor para a companhia, estude e fique bem-informado. Seja um bom técnico quando for técnico, um bom líder quando for promovido para uma liderança, e seja feliz na vida pessoal. Porque isso é que faz um ser humano feliz: quando ele busca se realizar em todas as áreas”, concluiu a CEO.
O vídeo da live ficará disponível no canal do YouTube do IBEF-SP.