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Nossa Comissão de Mercado Financeiro e de Capitais, liderada por Rosangela dos Santos, se reuniu nesta terça-feira (30) para uma palestra sobre “Geopolítica e seus impactos para os próximos anos”. Roberto Dumas, estrategista chefe do Banco Voiter e professor de Macroeconomia do Insper, destrinchou a complexidade do atual cenário global e apontou perspectivas para Brasil, Estados Unidos, países da Europa e China. Segundo Dumas, a economia dos Estados Unidos segue performando bem, com baixo nível de desemprego, e deve passar por uma recessão suave com o aumento da taxa de juros para o controle inflacionário.
O cenário mais preocupante é dos países da Europa, diretamente impactados pelos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito não deverá terminar tão cedo, na análise do estrategista, ao notar que a saída para o presidente Putin seria anexar mais territórios do Nordeste ao Sul da Ucrânia, situação fortemente combatida pelos ucranianos e que resultaria em uma mensagem negativa para os aliados da aliança militar liderada pelos Estados Unidos. Os preços gás natural, cujo suprimento tem sido utilizado como arma de guerra pelo governo russo, subiram mais de 1000% e o inverno europeu se aproxima. “É fato que a Europa vai entrar em recessão com uma taxa de inflação na casa de 9,5%. O Banco Central Europeu terá que aumentar os juros em um momento em que vários países estão entrando na União Europeia em situações bastante diferentes”.
A China também enfrenta desafios com a crise no setor imobiliário, novos lockdowns, gripe suína (que tem ensejado mudanças na criação dos porcos) e secas. Esses dois últimos fatores, somados à mudança do modelo chinês para maior orientação ao consumo e urbanização, favorecem o posicionamento do Brasil na demanda chinesa e global por commodities agrícolas e metálicas.
Com relação aos principais riscos para o Brasil, Dumas observou a necessidade de abrir novos mercados, considerando a atual dependência da China como principal parceiro comercial. Dumas notou que a diversificação com outras regiões é importante, em um cenário geopolítico em que as tensões entre o país asiático e os Estados Unidos tendem se aprofundar nos próximos anos em relação a Taiwan.
“Eu não compro o argumento de que devemos romper com a globalização. Isso é uma bobagem. Não podemos voltar 100 anos no tempo. Eu acho que a reconfiguração das relações tenderá a ser de near shore (proximidade geográfica), on shore e friend shore (cuidado com seus amigos)”, observou o estrategista chefe, notando que potenciais riscos geopolíticos serão considerados nas trocas estabelecidas entre os países.