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De responsável pelo caixa a líder do processo de inovação e sustentabilidade. De um profissional isolado focado em P&L a um dos principais conhecedores e fomentadores do negócio. Essas e outras grandes transformações do cargo do CFO foram debatidas durante o painel “Chief Future (Financial) Officer”, promovido pelo IBEF-SP no dia 7 de fevereiro, na sede da EY.
O evento contou com as participações de: Andrea Spinelli, ex-CFO de Movile, Netflix e Meta; Cristina Tuna, conselheira e advisor de Estratégia de Futuro, Propósito, Branding e Cultura; e João Paulo Seibel de Faria, CFO Digital Transformation do Pátria Investiments, e mediação de Ana Luci Grizzi, sócia da EY Brasil para Mudanças Climáticas e Sustentabilidade. A apresentação foi de Stânia Moraes, Vice-presidente da iniciativa IBEF Conecta e CFO da Ciena.
Durante o evento, os participantes debateram como lidar com desafios da transformação da função, os efeitos das mudanças de curto e longo prazo, os dilemas da inovação, lifelong learning, ESG, gestão de pessoas, conflitos geracionais, trabalho híbrido e o papel do CFO no negócio.
Uma profissão com olhos no presente e no futuro
Mais do que o responsável pela saúde financeira da empresa, é fundamental para o CFO estar um passo à frente para garantir a sustentabilidade do negócio em que atua, destacou João Paulo Faria. “A função do CFO foi a que mais se transformou nos últimos dez anos. Hoje é a pessoa que mais precisa entender do negócio e compreender qual será a posição da empresa nos próximos cinco anos”, completou o executivo.
Nesse contexto, Andrea Spinelli atentou para o papel do CFO em “criar cenários”, para dar cada vez mais previsibilidade ao negócio, e mensurar os riscos. “O passado nos formou até aqui, mas para o futuro temos que criar cenários para encarar e identificar os riscos. Não existe tomada de decisão perfeita e isso precisa estar endereçado em um C-level. O CFO é aquele que mais vai enxergar os riscos e, não dando certo aquilo que foi previsto, que não seja surpresa e sim uma forma de aprendizado na organização”.
Já Cristina Tuna ressaltou a mudança dos negócios, saindo de um modelo baseado na produção (industry-centric), passando para um baseado no produto (product-centric), no consumidor (customer-centric) e em uma visão mais pessoal (human-centric), chegando a um novo patamar. “Agora é a era do lifestyle-centric. Não se trata mais do indivíduo, mas de uma coletânea de saberes e prazeres que é muito mais difícil de tatear. Para mim, o desafio do CFO será entender esse modelo. Os negócios não são mais lineares e CFO que não entende de futuro talvez não seja CFO no futuro”.
Os dilemas éticos do futuro da profissão
Cristina aproveitou a discussão sobre um virtual futuro da profissão para colocar o cargo do CFO como um guardião ético do negócio, equilibrando os limites entre o lucrativo e o correto, perante a sociedade. “O futuro será uma discussão de crenças pessoais polarizadas, filosófica, religiosa e regulatória. E o regulatório vai ser apenas um passivo atento, correndo atrás do prejuízo com discussões polêmicas. Se você se sentasse em uma cadeira de finanças, até que ponto do seu P&L você aguentaria e quais limites não ultrapassaria? Aprofundem-se nos cenários, pois ser CFO será um dilema ético”, realçou a conselheira.
CFO na gestão de pessoas e talentos
Dentro do debate ético, o evento trouxe também o cuidado com pessoas e função do CFO neste pilar. Para João Paulo Faria, a atuação deve se destacar em um fortalecimento da cultura, baseado em liderança por exemplo e transparência organizacional.
“A cultura da empresa é o que há de mais importante. Quando você tem propósito, líderes que lideram com exemplo, e respeitam o que colocam para você, é o que faz a diferença. A transparência também é fundamental. Todos precisam saber o que acontece na empresa. As discussões não podem ser veladas. É importante socializar ao máximo as decisões que podem ser socializadas. Pedir ajuda, mostrar vulnerabilidade, pois isso também é um exercício de liderança”, aconselhou João Paulo.
Mudanças com a agenda ESG
Ana Luci Grizzi abordou o crescimento da importância da pauta ESG dentro das companhias, e os parâmetros e regras para a mensuração da sustentabilidade dentro dos balanços dos negócios. Ela falou sobre o novo cenário em que o mercado precifica os riscos ligados a pautas ambientais e sociais. “Se eu não tiver pessoas, eu não tenho economia. Se eu não tiver uma base de capital natural, eu não tenho economia. Por que a gente briga tanto e faz essas segregações? O sistema financeiro está movendo muito este assunto e capitaneando novas avaliações relacionadas a riscos climáticos, que puxam os demais temas”.
João Paulo reforçou essa preocupação, pontuando que o modelo de ESG vai ser um fator de peso na escolha sobre em qual empresa investir, não se aplicando somente ao negócio em si, mas aos stakeholders, incluindo clientes e fornecedores. “As pessoas não percebem que este assunto, além de ser uma obrigação, é importantíssimo para o futuro da empresa. Você tem que trabalhar em um ecossistema em que a sua imagem esteja protegida. Se os seus fornecedores não estiverem preparados para lidar com ESG, faça um plano e vá substituindo aos poucos. Isso vai ser automaticamente saudável para o próprio negócio”, analisou Faria.
Andrea Spinelli trouxe a preocupação com empresas que agem pela obrigatoriedade de entrar em um cenário em que o ESG passe a fazer parte do negócio. A executiva ressaltou a importância de que este seja um pilar do negócio, pensando nas novas gerações de colaboradores e clientes. “Vamos ter que fazer aos poucos. Hoje a minha maior preocupação e se a empresa está fazendo isso por obrigação, ou se faz parte do princípio. A nova geração tem uma preocupação muito grande com o ambiental e você quer trazer eles para a organização e tê-los como clientes no futuro. Então, é importante estar engajado nisso agora”, salientou.
CFO no lifelong learning
A importância de se manter atualizado, principalmente em meio a um volume grande de informações e transformações, como a inteligência artificial generativa, foi um dos assuntos de destaque do painel. João Paulo aconselhou a ser seletivo e buscar mentores nos quais você se inspira. “Temos que ser intencionais no aprendizado, conversar com pessoas e estudar. Eu não quero aprender tudo ao mesmo tempo, senão não vou aprender nada. Eu escolho dois ou três temas para eu me aprofundar ao longo de um ano. Outro ponto importante é ter pessoas que você admira e conversar com esses mentores para que tragam provocações e coisas novas”, completou o CFO.
Já Cristina Tuna falou sobre a importância de ser curioso e treinar de diferentes formas modos para se adaptar e se familiarizar às inovações. A conselheira dedicou atenção especial à inteligência artificial e a necessidade de quebrar resistências para ter a tecnologia como um par de trabalho. “A máquina vai trabalhar com a gente e não para a gente. Ainda há preconceito com este papel da tecnologia, então o primeiro passo é abrir a cabeça sobre a sua participação em nossas vidas. Tenho que buscar essa inteligência artificial para trabalhar comigo e também utilizá-la para a diversão, pois é uma forma de familiarização”.
O CFO será mais consultivo
A discussão final do painel enfatizou o papel do CFO frente a um cenário em que os reportes de resultados serão cada vez mais rápidos e eficientes com ajuda da tecnologia. O consenso é de que o CFO se destaca com o papel de interpretar os números e se tornar um balizador do negócio. “Haverá empresas em que, culturalmente, o CFO faz controle e reporte. Em outras, espera-se muito mais parceria e perspectiva de mercado. Com a transformação digital, você vai automatizar processos. Então, o financeiro vai cuidar da qualidade dos números e ser mais consultivo para dizer quais os riscos e oportunidades eles trazem”, completou Andrea Spinelli.
Encerrando o evento, Stânia Lopes celebrou o debate de alto nível realizado durante o painel “A grande mudança está aí. Alguém imaginava uma sala cheia de profissionais de finanças discutindo tudo, menos números?”, arrematou.