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Reitero o que sempre falei sobre o que poderia acontecer quando o mercado de seguros abrisse: “Com o IRB, éramos felizes e não sabíamos.”
Quando o pessoal ávido pela abertura do mercado gritava, em alto e bom som, que não via a hora de o mercado estar livre e sem a participação do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), eu questionava essa atitude.
Por muito tempo ouvi esse clamor, tal como ouvi as reclamações sobre as principais mudanças que nortearam a história do seguro, tais como o Decreto-Lei 73, bancos operando com seguros, corretoras de seguros cativas, programas de seguros enlatados (empresas multinacionais), etc.
Não obstante os acontecimentos, temos conseguido sobreviver, e bem.
O mercado segurador brasileiro está passando por mais um ajuste, e estamos pagando por isso, pois vários são os riscos que estão sendo declinados, mesmo com ótima experiência e há tempos no mesmo grupo segurador.
Consequentemente, a correria é grande e, muitas vezes, o segurado tem de assumir seus riscos, como nos casos de empresas de produtos químicos, transportadoras e operadoras de logística, dentre outras.
Quando tínhamos o IRB como ressegurador único, ele era obrigado a aceitar todos os riscos e as seguradoras sentiam-se confortáveis, pois grande parcela de suas responsabilidades era transferida para o IRB, que era obrigado a engolir “alhos e bugalhos”.
Obviamente, com suas regras e custos – na maioria das vezes suportáveis –, o IRB era sempre o vilão da história, porém não nos deixava na mão.
O mercado brasileiro de seguros já conta com um grande número de resseguradores e corretores de resseguro. Muitas empresas estrangeiras ainda estão tentando ingressar no mercado, porém desistem após verificarem que a fatia de seguros a ser ressegurada não é compensadora em relação às exigências de capital e às rígidas regras impostas pelos órgãos legisladores.
O IRB ainda fica com uma boa parte dos bons negócios, abrindo mão somente do que não lhe interessa. Ele também concorre com os resseguradores, pois sua credibilidade e seu respeito nos mercados compradores, principalmente no mercado londrino, são muito grandes. Vai demorar muito tempo para essa hegemonia ser quebrada. O IRB é um nome sagrado brasileiro surfando pelo mundo do seguro.
Atualmente, os seguradores passaram a usar como vilões e desculpas pelos atropelos os contratos dos resseguradores, guide lines, normas internas de aceitação, falta de capacidade, clausulado da Superintendência de Seguros Privados (Susep), etc.
Alguns seguradores não estão mais aceitando grandes riscos e seguros especiais, concentrando-se nos negócios de seguro de automóvel pessoal e frota, seguros de pessoas, benefícios, seguros massificados, afinidade e previdência privada. Alguns seguradores também estão transferindo suas carteiras de negócio para outros seguradores.
Por precaução, seria recomendável iniciar o processo de renovação do programa de seguros no mínimo com três meses de antecedência, porque o segurador, após receber a proposta de emissão de apólice, tem 15 dias para confirmação da aceitação do risco, mesmo que tenha anteriormente oferecido cotação de prêmio. Isso é valido para os seguros novos e renovações.
É pena que tenhamos perdido, no decorrer do tempo, a confiabilidade representada pelo “fio de barba ou bigode”, jargão usado antes da criação do Llloyds de Londres, quando os embarcadores reunidos nos pubs, regados a drinques, garantiam acordos verbais em relação à possível perda de uma embarcação, acordos esses assinados em qualquer tipo de papel, sem qualquer formalidade. Coitado de quem não cumprisse tal acordo.
No passado não muito remoto, obtinham-se cotações de seguro “on fone” no mesmo momento em que eram solicitadas. Hoje, com toda a tecnologia on-line, os seguradores fornecem suas cotações entre 3 e 5 dias úteis, isso quando o sistema não cai, o pessoal não está em reunião, viajando ou em vista externa, dentre outros motivos. Quanto mais modernizamos, mais complicamos, em tese.
Com tudo isso, o mercado segurador brasileiro é um dos mais fortes do mundo, pois está ligado a um sistema financeiro que é muito bem controlado, haja vista que os recentes problemas na economia mundial não afetaram nossa economia em cheio. Bancos e seguradores sobreviveram e saíram ilesos.
Na minha opinião, quanto ao seguro, estamos pagando o preço pela independência, pois é o que tem acontecido desde 7 de setembro de 1822. Toda independência e mudança tem seu preço e, consequentemente, o lado bom e o lado ruim.
Compete a nós buscarmos o melhor, ou arcarmos com os maus resultados.
Quanto ao seguro, reafirmo o refrão dito no início: “Éramos felizes e não sabíamos.”