Para associados / Portal

Somos o maior Instituto de Finanças do Brasil

Sustentabilidade e The Quintuple Bottom Line

Getting your Trinity Audio player ready...

I – Microvisão

Em 1998, John Elkington (pensador britânico) chamou a integração entre as dimensões econômica, social e ambiental de Triple Bottom Line, também conhecido como “Tripé da Sustentabilidade”. Essa consideração está frequentemente associada à questão de sustentabilidade no mundo corporativo e se refere a uma visão de negócios em que o equilíbrio entre o desempenho econômico, social e ambiental das empresas é fundamental para que elas sejam bem-sucedidas no futuro.

Desde os anos 1970, com a crise do petróleo, o mundo tem discutido alternativas energéticas. A partir de então, o conceito de desenvolvimento sustentável tem se expandido e ganhado novos contornos.

A definição de sustentabilidade surgiu no Relatório Brundtland em homenagem à então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlen Brundtland, que chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, para estudar, discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. O Relatório define desenvolvimento sustentável como sendo “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro, portanto, abrange aspectos sociais, econômicos e ambientais, os mesmos do Triple Bottom Line.

Na sequência, outro grande marco para o desenvolvimento sustentável mundial foi, sem dúvida, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992 (a Rio 92), na qual se aprovou uma série de documentos importantes, dentre os quais a Agenda 21, um plano de ação mundial para orientar a transformação desenvolvimentista, identificando, em 40 capítulos, 115 áreas de ação prioritária.

Da agenda 21 podemos sintetizar os componentes do desenvolvimento sustentável nos campos social, econômico e ambiental.

1 – A sustentabilidade social centra-se no equilíbrio social, quer na sua vertente de desenvolvimento social como socioeconômica. É um veículo de humanização da economia, ao mesmo tempo em que pretende desenvolver o tecido social, nos seus componentes humano e cultural.

2 – A sustentabilidade econômica, enquadrada no âmbito do desenvolvimento sustentável, é um conjunto de medidas e políticas que visam à incorporação de preocupações e conceitos ambientais e sociais. Aos conceitos tradicionais são adicionados como fatores a ter em conta os parâmetros ambientais e socioeconômicos, criando, assim, uma interligação entre os vários setores. Assim, o lucro não é somente medido na sua vertente financeira, mas igualmente na vertente ambiental e social, o que potencia o uso mais correto quer das matérias-primas como dos recursos humanos. Há, ainda, a incorporação da gestão mais eficiente dos recursos naturais, ou seja, a sua exploração sem colocar em causa o seu esgotamento, sendo introduzidos elementos como nível ótimo de poluição ou as externalidades ambientais, acrescentando aos elementos naturais um valor econômico.

3 – A sustentabilidade ambiental consiste na manutenção das funções e componentes do ecossistema, de modo sustentável, podendo igualmente designar-se como a capacidade que o ambiente natural tem de manter as condições de vida para as pessoas e para as outras espécies sem comprometer a qualidade de vida para as pessoas.

II – Macrovisão

O prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, em seus livros Globalização e Seus Malefícios e Globalização: Como Dar Certo, cita que o crescimento do PIB não implica necessariamente o desenvolvimento de um país. Para ele, o “sucesso significa um desenvolvimento sustentável, equitativo e democrático que tenha seu foco na melhoria dos padrões de vida e não apenas no PIB medido”. Adiante, mostra como essa medida pode ser perversa para a economia: “O PIB é uma medida útil de crescimento econômico, mas não é tudo. O crescimento deve ser sustentável. É possível aumentar o PIB espoliando o meio ambiente, esgotando recursos naturais escassos, mas esse tipo de crescimento não é sustentável.”

O grande problema reside em conciliar o interesse empresarial e o social, ou seja, atingir o tão desejado bem-estar social. O objetivo da sociedade é atingir o equilíbrio da produção e da troca que maximize o bem-estar social, e essas condições são a maximização do produto total, dados os insumos, os desejos dos consumidores e a distribuição de renda.

Para que o mercado determine o máximo bem-estar social, a condição é que a receita marginal do empresário e o benefício marginal social sejam iguais, e estes devem ser iguais ao custo marginal social e privado. Se o benefício marginal dos empresários particulares difere do benefício social marginal, verificar-se-á uma exterioridade no consumo. O quadro I ilustra a condição de igualdade de custos e benefícios sociais.

Há vários tipos de exterioridade de produção quando o custo marginal privado e social difere.
Primeiro, pode haver uma exterioridade de propriedade; é o caso de utilização de água poluída. A água impura, por exemplo, tem efeito negativo na produção de papel. O fabricante de papel não pode proteger-se da água poluída, uma vez que ele não é o dono do rio. As decisões da maximização de lucros em competição pura não conduziram à adequada alocação dos recursos, uma vez que a propriedade e a exterioridade negativa para o fabricante de papel não estavam sob o controle de um mesmo empresário.

Um segundo tipo de exterioridade que pode verificar-se é a exterioridade de caráter técnico. Quando a firma produz sob condições de rendimentos de escala crescentes em um mercado puramente competitivo, o custo médio é maior do que o preço – este é o caso de monopólios e oligopólios.

Por fim, existe o caso de um bem público puro. De fato, a exemplo dos recursos comunitários, a propriedade desses bens não pode ser individualizada em razão desse bem ou serviço não ser divisível. Além disso, contrariamente aos bens privados, o ato de consumir o bem público não reduz a quantidade disponível para o consumo das outras pessoas.

O meio ambiente é, por excelência, o reino das externalidades sociais. Isso denota que há poucos incentivos econômicos ao desempenho ambiental correto. A base industrial concentrada remunera e incentiva as formas atuais de produção, fortemente baseadas em consumo energético e em emissão de CO2. A concentração econômica faz com que existam monopólios e oligopólios extremamente poderosos, atuantes e resistentes a qualquer mudança.

Dentre as soluções públicas para corrigir as externalidades destacam-se a tributação corretiva (impostos e subsídios) e o controle dos efeitos externos mediante o uso de esquemas regulatórios e multas.

No caso da primeira exterioridade, é imperiosa a elaboração de uma regulamentação específica para os bens naturais ou comuns (terra, água e ar) no sentido da propriedade – a realidade da escassez desses bens que podem ser livremente utilizados, mas não livremente apropriados. A apropriação gera efeitos coletivos muitas vezes nefastos socialmente, ou seja, o governo precisa garantir a criação de ordem econômica para garantir a sobrevivência ambiental.

No que tange o caráter técnico, a regulamentação deve ser voltada às tecnologias verdes e ao estímulo econômico para invenções que utilizem energias limpas na fabricação e no consumo de bens.

Além do papel regulador, o governo tem um papel junto com a sociedade (escolas e empresas) de divulgar os aspectos culturais para atingir o bem-estar social.

Conforme bem disse o presidente da Rhodia para a América Latina, o sr. Marcos De Marchi, na sua palestra ao IBEF sobre o desenvolvimento sustentável para a Rhodia, “a sociedade é movida por leis”.

Posto isso, ousaria acrescentar mais dois itens no “Tripé da Sustentabilidade”:

4 – Sustentabilidade política: refere-se ao processo de construção da cidadania, em seus vários ângulos, e visa garantir a plena incorporação dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.

5 – Sustentabilidade cultural: relaciona-se com a capacidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas no planeta, no país e/ou numa região, que compõem ao longo do tempo a identidade dos povos.

Com a adoção do Quintuple Bottom Line nos aproximamos da mensuração de um PIB sustentável como preconizado por Joseph Stiglitz.

Para Associados

Para ter acesso ao demais conteúdos, você precisa ser Associado IBEF-SP

Pular para o conteúdo