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Já teria o Brasil ingressado nos seus “trinta gloriosos”?

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São abundantes as referências na literatura econômica aos chamados “trinta gloriosos”. Foram trinta anos de progressos experimentados no imediato pós-guerra, entre 1945 a 1975, pelos países hoje desenvolvidos. Naquele período, observaram-se várias mudanças estruturais, sobretudo nos países europeus, que apresentaram forte crescimento da produtividade, cujos frutos foram virtuosamente distribuídos entre lucros e salários. No ambiente do pós-guerra, tudo era construção e reconstrução, em vários planos. Experiências e conhecimentos acumulados foram fundamentais para o grande e longo salto. O suporte de uma grande potência como os Estados Unidos foi marcante em todo o período de progresso, principalmente no Velho Continente, região em que governos majoritariamente social-democratas lideraram o processo de construção do “Estado do bem-estar”, financiado pelos já mencionados ganhos de produtividade.

Guardadas todas as proporções históricas, deveríamos refletir se o Brasil está ou não diante das condições apropriadas para viver – ou quem sabe já esteja vivendo – os seus “trinta gloriosos”. A grande potência impulsionadora no nosso caso é a China, que nos últimos anos nos concedeu um aumento de renda macroeconômica possivelmente superior – ou no mínimo equivalente – ao que o Plano Marshall significou individualmente para a reconstrução dos países derrotados na Segunda Guerra. Da mesma forma, podemos considerar que também já superamos largamente o nosso “ciclo de guerras e instabilidade”, que foi o período prévio de permanente crise inflacionária e de total caos fiscal. Portanto, cabe refletirmos se a economia brasileira terá condições de sustentar uma forte expansão da produtividade e do PIB nas próximas décadas.

As chances de o Brasil já estar ou de ingressar nos seus “trinta gloriosos” também dependerá do reconhecimento crescente da sociedade de que governos não criam dinheiro. Eles são apenas agentes econômicos que arrecadam e alocam recursos que já pertencem à sociedade. Essa alocação imperativamente precisa ser eficiente. Para que isso aconteça, os agentes econômicos relevantes devem finalmente começar a entender que todo banco central tem e deve ter sempre mais aversão à inflação do que o público em geral. Compreende-se, finalmente, que não faz sentido que a autoridade monetária tenha o mesmo grau de aversão à inflação dos outros agentes.

Os “trinta gloriosos” no Brasil dependerão do reconhecimento social de que alguém tem que poupar pensando nas futuras gerações, o que requer ajustes urgentes no regime de previdência, que não é coisa para amadores. E o País tem grandes chances de se dar conta disso. Todas as nações do mundo enfrentam o desafio, na medida em que a esperança de vida aumenta. Trata-se, portanto, de assunto sério, cuja implacável realidade sociodemográfica deve ser endereçada politicamente por profissionais, sem apegos ideológicos.

Da mesma forma, o ingresso do País nos seus “trinta gloriosos” passa por um amplo reconhecimento de que o ajuste fiscal no Brasil precisará adquirir um caráter intertemporal. Na comparação internacional, a situação fiscal do País destaca-se positivamente no G-20, o que o habilita a ser o principal candidato a novas rodadas de upgrade por parte das agências classificadoras de risco. No entanto, pela primeira vez, estamos nos referindo à queda da relação dívida/PIB não com o propósito de melhorar o risco de crédito ou a solvência, mas como um efetivo esforço de poupança e gestão da demanda agregada. Estamos falando do imperativo da abertura de maior espaço para o gasto privado em detrimento do gasto público corrente e de redução da carga tributária. Hoje, investimos apenas 18,5% do PIB e já temos déficit externo forte. Com o investimento necessariamente maior e com consumo crescente, não há como seguir avançando sem agravamento das contas externas e pressões inflacionárias. O aumento da poupança pública é a única forma de garantirmos os “trinta gloriosos” para o Brasil. Por isso, esta é a hora da poupança e não do gasto corrente. Esta é a hora do investimento e não tanto do consumo das famílias, que já adquiriu uma força inercial, dada a melhora na distribuição de renda e na mobilidade social.

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