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O novo admirável mundo digital sob a ótica de um “imigrante”

Quando comecei a trabalhar, o mundo era off-line e tudo ocorria em batch, ou seja, o processamento das transações se dava sempre no dia anterior (se sua empresa fosse “moderna”) e os relatórios gerados em papel eram recebidos sobre sua mesa de trabalho. Papel “zebrinha” e contínuo (ou vice-versa) em metros!

Sou, para os padrões do mundo digital, um “experiente” senhor (velho?), ou, segundo um amigo, um imigrante (estrangeiro).

Ainda me lembro das primeiras iniciativas de transmissão on-line, via broadcasting, no início da década de 1990, quando o Aleksandar Mandic (quem se lembra?) fez sua fortuna.

Lembro-me também de quando, em 1995, na empresa em que trabalhava (a maior de seu ramo e uma das maiores no Brasil), para fins de teste passamos a acessar a internet. Naquele momento, deslumbrávamo-nos acessando o Met (The Metropolitan Museum of Art), o Louvre ou alguma biblioteca. Se hoje, no Brasil, temos dúvida sobre banda larga, naquela época isso não era nem uma questão, pois os acessos eram via linha discada, instável, e cada página demorava cerca de 20 minutos para carregar. Nossa empresa, todavia, não tinha nada que necessitasse a utilização da internet. A primeira iniciativa de ordem prática foram os emails. Mais ou menos nessa mesma época começou a se difundir o uso do celular.

Até então, para localizarmos uma pessoa, o serviço que se utilizava era via rádio: quem quisesse contatar alguém ligava para uma central e passava uma mensagem (curta, limitada), que era transmitida ao aparelho, que emitia um sinal (bipe), e o contatado poderia tomar a ação necessária. Esse serviço chamava-se pager, salvo engano meu.

O email e o celular foram protagonistas das primeiras grandes revoluções no mercado de trabalho, pois aí sim permitiram algo até então impensável, a disponibilidade em tempo real. Isso – a possibilidade de tempo real – revolucionou a maneira de trabalharmos. Naquele momento se diziam duas coisas provadas erradas posteriormente: trabalharíamos menos e economizaríamos a utilização de papel para impressão. Ambas as “teorias” se provaram erradas: “nunca antes” no mundo se imprimiu tanto papel e trabalhamos muito mais do que antes. Dificilmente éramos importunados em casa. Hoje, dificilmente alguém que chega em casa não continua conectado ao mundo via notebook, netbook ou seu smartphone.

O fato é que essa revolução levou à alteração de plataformas, sistemas e processos. Hoje, ter vendas e margens em tempo real é algo que vemos como básico. Comunicarmo-nos com a utilização de imagem é comum e, hoje, bem barato.

E a geração de nossos sobrinhos e filhos ofereceu-nos um fenômeno que é fascinante: as redes sociais. As redes sociais sempre existiram, todavia, a internet associada à tecnologia propiciou a sua difusão, eliminando fronteiras geográficas bem como a limitação do tempo. Sua evolução tornou a comunicação via email obsoleta e confinada, basicamente, ao ambiente corporativo e àqueles que adotaram seu uso já com uma certa maturidade (nós, os imigrantes!).

A questão que essa realidade impõe para o mundo corporativo é: como comunicar-se com essa geração? Como fazê-los usuários de nossos produtos e serviços? Eles (essa geração jovem) já são consumidores conscientes e influentes em suas casas. Eu não tenho dúvidas de que essa é uma questão apenas em razão de os dirigentes de empresas, hoje, bem como aqueles em cargos de gerência mais alta, estarem com mais de 35 anos de idade.

As redes sociais podem ser de caráter permanente ou provisório. Geralmente, elas são construídas ao redor de gostos, interesses, afinidades ou, ainda, ao redor de eventos pontuais. O impacto dessas redes decorre do fato de podermos delas participar sem nos locomovermos, sem corrermos riscos e, ainda, sem a limitação geográfica. A única coisa que nos separa é a barreira da língua.

Em minha última posição como presidente de uma multinacional, eu dei início a um programa de “mídia digital”. Para mim estava claro, naquele momento e ainda hoje, que não podemos continuar a nos comunicar como o fizemos até então, uma vez que essa nova geração é multimídia. Adicionalmente, a quantidade de programas e canais (segmentação) torna a abordagem e a medição da eficácia da comunicação muito difíceis. Em nosso específico caso, os nossos clientes estavam “envelhecidos” e tínhamos como desafio construir uma ponte ou relação com a população mais jovem, algo muito difícil uma vez que a empresa operava em um segmento muito básico (atacadista).

Nosso processo de seleção da pessoa responsável por essa “mídia digital” foi muito fácil, uma vez que não tínhamos dúvidas de que qualquer pessoa com idade superior a 26 anos não seria apta para esse projeto, afinal não poderíamos escolher um “estrangeiro”. Com esse jovem à frente, iniciamos uma descoberta do mundo digital, o que envolve não apenas as redes sociais, mas também incorpora blogs, games, aplicativos e os motores de buscas. Eu já não estou lá para acompanhar de perto se a estratégia está dando o resultado esperado, uma vez que deixei a companhia no início de 2010. No entanto, não tenho dúvida de que qualquer companhia que queira ter sucesso na captura dos clientes mais jovens tem que adotar uma estratégia de comunicação digital e segmentada.

Bem-vindo ao admirável novo mundo digital!

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