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“Presença Global: empresas avançam no exterior”. Essa é a manchete da revista Multinacionais Brasileiras, uma edição especial lançada pelo jornal Valor Econômico, no último mês de setembro. Antes, em junho, a FDC (Fundação Dom Cabral) já havia lançado a 6ª edição do Ranking das Transnacionais Brasileiras 2011: Crescimento e Gestão Sustentável no Exterior, cuja conclusão aponta, de forma geral, aumento dos ativos, receitas e funcionários das transnacionais brasileiras no exterior.
Certamente, alguns fatores contribuem para esse aumento da internacionalização das empresas brasileiras.
No início dos anos 90, com a abertura comercial, problemas de nossa economia nacional como juros e carga tributária altos, infraestrutura debilitada e baixa oferta de mão de obra qualificada fizeram as empresas brasileiras começarem a ter dificuldades em se manter competitivas. Isto posto, impulsionadas pela estabilidade macroeconômica do Plano Real, em 1994, e pelas novas regras de competição que a economia global ditou, as empresas começaram a adotar novas estratégias para adquirir vantagem competitiva, destacadamente à internacionalização.
O aumento desse processo, obviamente, é impulsionado e concatenado por benefícios de tal ação – ou seja, seus motivadores, dentre os quais destacamos os econômicos, como expansão de mercado (atingindo novos consumidores), maior capacidade de resposta a clientes internacionais (uma vez que é no mercado deles que a empresa está se inserindo), diversificação de portfólio, melhorias de eficiência (economia de escala/escopo e acesso a recursos mais baratos), além dos benefícios comportamentais – o desenvolvimento das competências já existentes e a aquisição de novas.
Como vemos, são inúmeras as motivações para se internacionalizar. Todavia, é condição sine qua non que as empresas estejam aptas a desenvolver eficientes e eficazes estratégias de internacionalização de seus negócios. Para ser considerada uma dessas empresas, é preciso atender algumas condicionantes, dentre as quais podemos destacar três: a) processo de expansão das operações no mercado estrangeiro; b) possuir caráter de essencialidade; c) caráter sustentado, com fluxo constante.
Quando falamos das estratégias de expansão das operações, temos duas grandes possibilidades: inserção produtiva e comercial. A inserção produtiva no contexto internacional ocorre quando as empresas realizam IED (Investimento Estrangeiro Direto) – ou seja, a empresa internacionaliza-se internacionalizando a sua produção (o que significa constituir uma subsidiária no exterior).
Em IED, três grandes modalidades se destacam no mercado. Inicialmente, podemos ressaltar as Joint Ventures (traduzido literalmente como “articulação de risco”), basicamente a união de dois agentes econômicos, trabalhando no mesmo diapasão, promovendo uma articulação formal de riscos, com vista a ganhos de mesmo interesse, pois consideram que juntos são mais robustos. Essa articulação não precisa ser total, pode ser de apenas um setor da empresa.
Outras duas modalidades utilizadas para se inserir produtivamente são Fusões e Aquisições (M&A), operação em que a empresa adquire outra que já existe, ou se funde a esta. Temos também a estratégia de Greenfield – quando a empresa irá abrir um novo ativo no exterior, começando do zero (para internacionalização de empresas, IED não considera investimento em capital especulativo).
Ainda nas estratégias de inserção produtiva, além do IED podemos utilizar as RC (Relações Contratuais). Em uma definição bem simples, é a empresa contratar alguém para produzir. Exemplos dessa estratégia são: franquias, contrato de produção, transferência de tecnologia, alianças estratégicas e licenciamentos.
Normalmente, IED demanda boa quantidade de recursos financeiros. Por isso, caso a empresa não tenha essa disponibilidade e queira se inserir internacionalmente sem ser na produção, pode inserir-se comercialmente, quando expande suas operações de compra (importação) e venda (exportação).
Primeiramente, focando as exportações, podemos desmembrá-las em direta e indireta. A exportação direta é aquela em que todo o processo será feito sem a presença de um intermediário (trading ou comercial exportadora). Porém, a contratação de um agente logístico não descaracteriza a forma direta de exportação, uma vez que todo o controle da operação está com a empresa.
Já a exportação indireta, necessariamente, terá a presença do intermediário. Esse tipo de operação é interessante, pois reduz os custos iniciais de uma empresa que nunca exportou – e, além disso, contrata o serviço de um especialista.
Ao contrário do que muitos pensam, a importação também é uma estratégia de internacionalização, inserindo-se comercialmente para obter melhores fornecedores. Mas importação, entretanto, não é estratégia de entrada no mercado estrangeiro.
Da mesma forma que a exportação, desmembramos a importação em direta e indireta. Tal como na exportação, importação direta não envolve intermediário-terceiros, apenas vendedor e comprador. Já na importação indireta temos duas modalidades: encomendante e por conta e ordem de terceiros. Em ambas, o importador de fato continua sendo a empresa, mas o trabalho operacional quem assume é o intermediário. A grande diferença da operação encomendante está na origem dos recursos financeiros no momento da nacionalização da mercadoria (nesse caso, os recursos são do intermediário na conta e ordem de terceiros do adquirente final).
Uma estratégia que pode alavancar a inserção comercial é participar de consórcios e cooperativas. Aqui, a ideia é aumentar volume, juntando vários pequenos pedidos de exportadores diferentes, viabilizando operações que seriam inviáveis pelos custos, em especial de logística. Outro exemplo é de empresas se juntarem para comprar uma análise de mercado em algum setor externo, dividindo custos. Basicamente, o grande objetivo é ganhar escala operacional. Infelizmente, o cenário que vemos no Brasil é o de uma cultura pouco positiva, onde são formadas poucas relações do tipo “ganha-ganha” entre concorrentes.
Como mencionado no texto, o caráter de essencialidade é pré-requisito para que seja considerada estratégia de internacionalização de empresas. Realizar importações/exportações esporádicas não faz a empresa atingir tal tipologia.
E o profissional de finanças com tudo isso? Além de ser assunto recente na literatura acadêmica, muito impulsionado pela revolução tecnológica em três principais setores – transporte (logística), telecomunicações e internet -, culminando em um grande aumento da intensidade e complexidade da globalização, são essas estratégias que impactam produtividade, competitividade e lucratividade da empresa. Daí a importância da compreensão dessas estratégias.
Concluindo, o estudante/profissional da área financeira precisa possuir conhecimentos em estratégias de internacionalização de empresas, seus benefícios e, principalmente, seus custos. Entre esses, merecem destaque o de governança (pois ao expandir-se, a complexidade da governança aumenta; isso, por sua vez, exige que mais esforços sejam direcionados às filiais e subsidiárias), os que recaem sobre estrangeiros/recém-chegados (que não conhecem o novo ambiente, ainda não têm parcerias consolidadas e que precisam aprender o novo arcabouço institucional) e os riscos políticos e econômicos. Se dominar essa ferramenta, esse estudante/profissional possuirá uma excelente vantagem competitiva no mercado de trabalho.