Getting your Trinity Audio player ready...
|
Por: Diego Lazzaris Borges
SÃO PAULO – O Brasil sempre foi conhecido como um país de juros altíssimos. Em 1999, no início do regime de metas da inflação, a Selic (taxa básica de juro) chegou a atingir estratosféricos 45% ao ano, um paraíso para investidores de renda fixa – e para especuladores internacionais, que desembarcavam seu dinheiro no Brasil atrás de lucro fácil com risco moderado.
Ao longo dos últimos 13 anos, a taxa básica oscilou bastante, mas sempre se manteve em patamares altíssimos se considerados os padrões de países desenvolvidos. Com isso, muita gente fez fortuna investindo em renda fixa e durante muitos anos conseguiu viver apenas dos rendimentos das suas aplicações financeiras; o que, segundo especialistas, deve começar a mudar a partir de agora.
O principal marco desta mudança pode ser creditado à alteração da remuneração da caderneta de poupança. A aplicação, que até então tinha sua rentabilidade vinculada a TR (Taxa Referencial) mais 0,5% ao mês – portanto, sem nenhuma ligação com os juros básicos – passou a ser atrelada à Selic. Sempre que esta estiver em 8,5% ao ano ou menos, a caderneta renderá 70% da Selic mais a TR. Atualmente, a Selic está em 9% ao ano.
Com isso, o Governo tirou um dos principais entraves para a sua jornada de redução dos juros: a poupança remunerar mais do que outras aplicações, como os títulos públicos (que financiam a dívida do Governo). “[com a Selic muito baixa] Os títulos do Tesouro Direto e fundos de renda fixa vão se tornando menos rentáveis em relação à caderneta de poupança. Assim, existe um risco de que haja uma migração de grandes investidores para a poupança. Atualmente, a maioria é de pequenos e médios poupadores e teríamos uma invasão de grandes investidores, que atualmente estão em outros investimentos”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no momento do anúncio da nova remuneração, no dia 3 deste mês.
Sem a barreira da caderneta de poupança pela frente, o Governo fica mais tranqüilo para continuar baixando os juros. “A presidente Dilma Rousseff já deixou claro que quer fazer disso uma marca do seu Governo. A intenção é que os juros reais (descontada a inflação) cheguem em um patamar de 2% ao ano”, diz o professor de economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), José Eduardo Amato Balian.
Mais risco
Com isso, acabou a festa para quem conseguia retornos altos com o risco baixo da renda fixa. Economistas ressaltam que os investidores que quiserem uma rentabilidade acima da média, deverão começar a procurar outras aplicações, mais arriscadas. “Aqueles que puderem arriscar um pouco mais, deverão alocar parte do recurso em ações, sem, contanto, esperar grandes milagres em termo de rendimentos”, afirma o economista e autor no livro Fundos de Investimentos: Conheça Antes de Investir, Luiz Calado.
O professor da ESPM concorda. Para ele, o mercado acionário pode se tornar uma alternativa para aqueles que possuem investimentos e utilizam o rendimento como principal fonte de renda. “Mas é importante saber que este mercado não é brincadeira. A pessoa precisa saber o que está fazendo e, principalmente, ter consciência de que esta é uma aplicação de longo prazo”, ressalta.
Segundo Balian, o momento atual pode ser considerado uma boa hora para iniciar uma aplicação no mercado acionário, devido às recentes baixas. “A bolsa caiu bastante, então o momento para comprar é bom. Ela deve subir no longo prazo, mas é importante focar o investimento neste horizonte”, afirma.
Na opinião de Balian, investir em um próprio negócio é outra opção que deverá começar a ser analisada por aqueles que sempre viveram de renda. “Vai ser cada vez mais difícil conseguir uma rentabilidade elevada com investimentos de renda fixa. Então, montar um negócio próprio pode ser uma boa alternativa”, aponta Balian.
Neste caso, porém, será preciso trabalhar mais. Afinal, para ser um bom empreendedor é preciso estudar o mercado, analisar as opções e fazer contas para que o negócio prospere. Para o País, o resultado pode ser positivo. “Isso vai favorecer o desenvolvimento da economia, vai gerar mais empregos, será muito bom para o Brasil”, afirma o professor de economia.
Fundos
A redução dos juros afetará diretamente o rendimento dos fundos DI. Com isso, quem investe neste tipo de aplicação – de acordo com a Anbima, o patrimônio líquido destes fundos equivale a 12,6% de toda a indústria – precisará se atentar principalmente para a taxa de administração para que o investimento valha a pena.
De acordo com Calado, se fizesse uma aplicação de R$ 100 mil de até seis meses (prazo em que o IR cobrado é o maior, de 22,5%) em um fundo DI com taxa de administração de 0,5% ao ano, a rentabilidade líquida (já descontada a taxa e o Imposto de Renda) seria de R$ 486 no primeiro mês. Já se aplicasse em um fundo com taxa de administração de 1% ao ano, o investidor receberia R$ 41 a menos (R$ 445) só no primeiro mês.
Ainda segundo Calado, no caso da Selic estar em 5,5% ao ano (também para uma aplicação de R$ 100 mil e prazo inferior a 6 meses), um fundo DI com taxa de administração de 1% pagaria R$ 263. Se conseguisse um fundo com taxa de 0,5% a.a. (é bom lembrar que existem fundos DI com taxa de 0,3% ao ano), o investidor teria um retorno, no primeiro mês, de R$ 304.
Prazos mais longos
Quando se trata de investimento de renda fixa, o prazo da aplicação tem um peso importante, por conta da alíquota progressiva de IR – quanto menor o prazo, maior o imposto de renda cobrado.
No caso de uma aplicação superior a 24 meses (em que o IR seria o menor possível, de 15% a.a), com Selic a 8,5% a.a, a rentabilidade dos fundos DI com 1% de taxa de administração passaria para R$ 496 no primeiro mês, enquanto a dos fundos com taxa de 0,5% subiria para R$ 538. Quem investisse em um CDB (a 90% do CDI) receberia um pouco menos: R$ 521, no primeiro mês.
Fonte: infomoney.com.br