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Por Sérgio Tauhata | De São Paulo
Cataldo, de Bradesco e Ágora: “O momento é de buscar papéis defensivos”.
A convulsão dos mercados acionários causada pela crise do euro, para desânimo dos investidores, deve permanecer ao longo do mês de junho. “O sobe e desce da bolsa vai ser constante enquanto não houver solução para a Grécia e a Espanha”, afirma o presidente do conselho administrativo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), Keyler Carvalho Rocha. De acordo com especialista, “o Ibovespa deve continuar a variar de um dia para o outro ao sabor das notícias e de rumores”.
Esse ambiente de altíssima volatilidade deve até mesmo anular o benefício para a renda variável trazido pela queda da Selic. Isso porque uma taxa básica de juros menor, ao tirar atratividade dos títulos públicos, levaria investidores a buscar aplicações potencialmente mais rentáveis, como as ações. “Mesmo com Selic menor a bolsa deve continuar em baixa”, afirma Rocha.
Apenas em maio, a aversão ao risco levou o Ibovespa a uma queda de 11,63% até o dia 29. No ano, o índice acumula uma retração de 3,74%. Na avaliação do estrategista para pessoa física das corretoras Bradesco e Ágora, José Francisco Cataldo, até o desfecho das eleições na Grécia, que ocorrem no dia 17 de junho, a volatilidade deve se manter especialmente alta. “Nesse período, será mesmo uma questão de administrar o dia a dia”, diz.
A crise deve se tornar uma preocupação ainda mais presente em junho porque outros países começam a entrar no foco do noticiário. “O problema do euro vem de vários governos diferentes, então é uma crise que deve persistir”, avalia Cataldo. O professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ricardo Rochman, lembra que, além da Grécia, “as situações de Espanha, Portugal e até da França começam a se deteriorar”.
O especialista da FGV, no entanto, ressalva que a bolsa pode, eventualmente, apresentar subidas pontuais se houver notícias positivas no ambiente doméstico. “Se os incentivos já lançados e outros que o governo estuda para impulsionar a atividade econômica produzirem efeitos o mercado pode voltar a subir.”
A volatilidade pode, por outro lado, representar uma janela de oportunidades. “Mas só para quem tem muito sangue-frio”, alerta Keyler Rocha, do Ibef. A forte queda do Ibovespa, que começou em março e se acelerou em maio, levou muitos papéis a operarem com descontos atrativos. “Para quem pensa no longo prazo e tem tolerância ao risco é uma belíssima oportunidade, porque muitas ações estão baratas”, afirma o especialista. Rocha aponta papéis como Vale e Petrobras, que ele considera muito descontados “Não vejo justificativas para quedas tão grandes.”
O estrategista das corretoras Bradesco e Ágora aconselha aos investidores cautela. “O momento é de buscar ativos defensivos ou mesclar com papéis de empresas de fundamentos mais sólidos.” Para Cataldo, no curto prazo, a melhor aposta recai sobre empresas com atuação focada na economia doméstica. “É melhor evitar por enquanto companhias ligadas a commodities ou com exposição à economia internacional.”
No câmbio, os especialistas acreditam na continuidade da pressão de alta do dólar. “O governo deve manter a cotação em torno de R$ 2. Com o menor ingresso de capitais externos devido à crise, fica mais fácil a atuação do Banco Central”. Não é difícil manter a cotação atual”, afirma Keyler Rocha, do Ibef.
De acordo com Cataldo, em períodos de crise o dólar acentua sua função de “reserva de valor”. Com a aversão ao risco, a moeda americana tende a se valorizar ante as outras. Por isso, no curto prazo, a apreciação do dólar deve continuar, pois “o real está seguindo movimento de outras moedas”, explica.
O professor da FGV, Ricardo Rochman, no entanto, acredita em uma alta ainda maior da moeda americana. Na opinião do especialista, o governo pode entender que o dólar em um patamar acima dos R$ 2 seria benéfico para a atividade no país. “Depende dos interesses da equipe econômica. O BC também pode ter dificuldade em controlar o câmbio com maior volatilidade.”
Fonte: valor.com.br