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[DCI – SP – 23/11/2013 pág: Capa e B1 ]
A inadimplência deve parar de cair a partir do ano que vem, permanecendo estável no restante de 2014. Além disso, o crédito deve crescer menos do que em 2013 com os bancos mantendo o alto nível de cautela e apostando em linhas com menor risco de calote. A avaliação é do economista da BoaVista Serviços, Flávio Calife. “Esperamos para 2014 uma inadimplência próxima aos índices atuais, com uma possível queda no início do ano, mas estável no restante do ano que vem. Isso é resultado da queda na demanda, da diminuição das taxas de juros e da maior seletividade dos bancos”, afirmou na sexta-feira o economista durante o Seminário: Armadilhas das Incertezas no Crédito, organizado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP). Ainda de acordo com o economista, as características do crescimento do crédito observadas ao longo deste ano devem se manter no ano que vem, sobretudo em relação a maior seletividade para concessão do crédito e do direcionamento deste para linhas de longo prazo em contraposição ao aos empréstimos para voltados para consumo imediato. “Neste ano o receio com o crescimento da inadimplência fez com que os grandes bancos, sobretudo os privados, passassem a ser mais rigorosos na concessão do crédito, diferentemente do que aconteceu em 2012, e isso deve se manter em 2014”, analisou. Para Flávio, a tendência é de que o estoque total de crédito cresça menos em 2014 do que em 2013, sobretudo pelo baixo crescimento da economia. “Nos últimos dez anos convivemos com taxas de crescimento do crédito na casa dos 20%, ou até acima disso. Em 2013 a alta foi significativa, em torno de 15,5% até setembro, mas menor do que nos últimos anos e isso deve ser a tendência para os próximos anos. Em 2014 o estoque deve subir entre 13% e 14%”, analisou o economista. “O crescimento do crédito se baseou, sobretudo, na inserção de milhões de pessoas a classe média por meio do aumento do emprego. Consequentemente houve um aumento da renda, da bancarização e dos pedidos de crédito. Isso sem contar o programa Bolsa Família, do governo federal, que retirou milhares de pessoas da linha da pobreza colocando-as no mercado de consumo. Não há mais como ter esse impulso porque essas pessoas já foram incluídas”, afirmou. Tempestade A grande novidade no cenário de crédito pode acontecer não na ponta do consumidor, mas do tomador. As perspectivas de retirada do grau de investimento do Brasil e do fim dos estímulos à economia americana por meio do programa do Fed (banco central dos Estados Unidos) de compra de títulos públicos no mercado secundário podem aumentar os custos de captação. “Podemos viver a chamada ‘tempestade perfeita’ que aconteceria entre março e junho do ano que vem com a mudança da política monetária americana, que elevaria os juros nos Estados Unidos valorizando o dólar em relação ao real e a outras moedas do mundo, combinado com a expectativa de redução do rating brasileiro pelas agências de classificação de risco internacionais”, afirmou o economista e sócio da MB consultoria, José Roberto Mendonça de Barros. “Para o rating ser revisto a única temporada possível é a partir de março porque é quando o governo divulga os dados da conta pública e do PIB de 2013. Elas não farão a revisão sem ter esses cálculos na mão. Então é de março para frente que entramos nessa faixa de risco”, completou. Ainda de acordo com Mendonça, esse processo geraria como impacto principal o aumento no custo de captação de crédito para todas as empresas uma vez que os investidores voltam a ficar atraídos pelo título americano o que diminui o fluxo de recursos para outros investimentos, como títulos de dívidas privados e de países emergentes, como o Brasil. “Os mercados no dia a dia ficam se matando para saber se o fim dos estímulos acontecerá em dezembro ou março, mas o fato objetivo, e inevitável, é que os juros americanos vão subir em algum momento do ano que vem e isso leva a dois impactos importantes: o aumento do custo de capital para as empresas brasileiras e a desvalorização do real” Para o economista da Boa Vista Serviços, esse cenário irá levar a um aumento da competição entre os bancos para conseguir acesso às fontes de crédito. “Provavelmente vai haver uma disputa maior pelo crédito porque o cenário vai ficar mais restrito com o aumento dos juros dos títulos públicos americanos. Isso deve trazer uma competição maior na captação de recursos, e consequentemente, um aumento de custo”, disse. De acordo com ele, esse cenário se intensifica pelas deficiências internas do Brasil. “O governo federal não está cumprindo seu papel e cenário doméstico está se deteriorando, vide a perspectiva de redução do rating. Isso afasta ainda mais os investidores reduzindo as possibilidades de captação”. Apesar desse cenário, Calife não espera um aumento substancial dos juros porque a disputa pelo crédito continua intensa. “As taxas não devem subir, porque a inadimplência em queda combinado com um aumento da concorrência dos bancos deve manter as taxas em patamares próximos aos de 2013.”