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Mário Mafra dá dicas para controle de custos e preservação de caixa no período difícil da economia.
Fotos: Mario Palhares
A sala ficou pequena para tantos executivos interessados em discutir o tema do momento. Mário Mafra, CFO da Wheaton Brasil Vidros, conduziu a reunião “Análise e gestão de custos e de capital de giro” na sede do Instituto no dia 30 de junho. Foi o primeiro evento da recém-criada Comissão de Controladoria e Contabilidade.
Vigiar custos e preservar o caixa devem ser as duas preocupações essenciais do CFO em um cenário de crise, destacou Mafra.
Levando o barco devagar…
Ex-músico e apaixonado pelo automobilismo, Mário Mafra contou que as frases de dois gurus “improváveis” estão servindo de inspiração para sua companhia frente aos desafios da crise econômica.
A primeira é um verso de Paulinho da Viola, extraído do samba “Argumento”: “faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar”. Essa é a postura adotada pelo CFO ao tomar decisões que envolvam custos.
Jean Todt, presidente da Federação Internacional de Automobilismo e ex-diretor esportivo da Ferrari, foi responsável por cunhar a segunda frase. Pouco antes do fim da corrida, costumava dizer aos pilotos pelo rádio: “tragam as crianças para casa”. A hora é de colocar dinheiro para dentro de casa, completou Mafra, referindo-se à gestão de caixa e de capital de giro.
“Em todas as crises, o que acontece no pós-crise é isso: quem conseguiu se fortalecer na geração de caixa, saiu mais forte. Quem não consegue segurar o caixa, pode sucumbir”, alertou o CFO.
Mantenha a simplicidade
A grande questão é: por onde começar? Ao longo da apresentação, Mafra destacou conceitos e ferramentas úteis para qualquer CFO. Um dos conceitos é o KISS Principle, acrônimo cuja versão mais simpática é a frase “Keep It Super Simple”.
Daí vale outra referência do mundo do automobilismo. Mafra lembrou que o volante de um piloto de F1 é composto por poucos botões. “A velocidade da tomada de decisão é crucial; o piloto não tem tempo para controlar variáveis demais. Por isso o painel de controle tem que ter poucas e fundamentais informações sempre ao alcance da mão, disponíveis para uma rápida decisão”.
Só se controla o que se mede. E na crise, menos é mais. Portanto, tenha à mão uma menor quantidade de indicadores e foque naqueles que realmente importam para tomar duas decisões: controlar custos e preservar o caixa.
Ferramentas indispensáveis
O arsenal do CFO para enfrentar a crise deve contar com, pelo menos, três ferramentas cruciais. A primeira indicada por Mafra é o Ciclo de Conversão de Caixa (CCC), que deve ser acompanhado com frequência. O CCC é calculado por meio uma fórmula simples, composta pela soma do prazo médio para renovação de estoques mais o prazo médio de recebimento das vendas, subtraindo-se o prazo médio de pagamento a fornecedores. Essas informações podem ser obtidas na Contabilidade.
“Quanto menor o Ciclo de Conversão de Caixa, melhor para a empresa. Um dia que vocês consigam reduzir no CCC são milhões e milhões de reais que vocês colocam para dentro da empresa”, aconselhou Mafra.
Outra ferramenta crucial – e que também pode ser apurada mensalmente – é o modelo de Demonstração do Fluxo de Caixa, subdividido em três itens fluxos: operacional, de investimentos e de financiamento.
Mafra enfatizou que o fluxo de caixa operacional deve ser positivo. Se não for, parem as máquinas! Olhe a composição do fluxo e imediatamente aja sobre as linhas estão contribuindo para o fluxo negativo. Outras ações são recomendáveis: vender os falsos ativos de longo prazo e explorar oportunidades com os chamados “ativos escondidos”, como créditos tributários.
Em relação ao fluxo de investimentos, tome cuidado ao fazer desinvestimentos, aconselhou Mafra. Foque nos que podem ter situação resolvida rapidamente para colocar os ativos para dentro de casa. Evite desinvestimentos que podem ter resposta lenta, caso de processos muito sofisticados. Eles poderão não compensar o gasto de energia e stress envolvidos.
No fluxo de caixa de financiamentos, muita atenção para as boas oportunidades no funding de inovação (ex: Finep 30 dias). A inovação pode partir, por exemplo, da criação de um novo processo ou produto.
Modelos de análise
Os métodos de análise de balanço e demonstrações contábeis compõem a terceira “arma” do CFO. Mafra destacou os modelos de análise de discriminante (“Fator de insolvência” de Kanitz e “Z score” de Altman) e a análise dinâmica (“Efeito tesoura” de Fleuriet).
Adaptados à especificidade de cada organização, esses modelos oferecem insights importantes para antever a probabilidade da empresa entrar ou não em falência nos próximos anos, dadas as circunstâncias em que se encontra, bem como simular quais números poderiam ajudar a reverter o quadro.
Mario Mafra disse que o momento pede atenção especial aos métodos de Kanitz, que tem foco na liquidez seca, e o de Fleuriet, para vigiar o saldo de tesouraria.
Ao final do evento, Tamara Dzule, líder da Comissão de Controladoria e Contabilidade, informou que o próximo evento da Comissão ocorrerá em agosto. Na ocasião, Rogério Menezes, diretor financeiro da Akzonobel PPC discutirá do tema “O controller como business partner“.
Materiais ficarão disponíveis para os associados
A partir da próxima semana, os associados terão acesso à apresentação integral de Mário Mafra no nosso site. O CFO também disponibilizará uma planilha para cálculo simples baseada em algumas das ferramentas mencionadas.