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Por Natália Fontão
Essa foi a conclusão do levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) junto a lideranças empresariais que compõem a Diretoria Vogal do IBEF SP em relação às expectativas de produção, emprego, inadimplência, câmbio, juros, inflação, entre outras variáveis. A pesquisa compila dados do último trimestre de 2015 e é uma espécie de termômetro econômico para os primeiros meses de 2016. Seus resultados foram apresentados em evento da entidade, realizado no último dia 4, em São Paulo, e patrocinado pela Netpoints.
Comparado ao trimestre anterior, aproximadamente 72% dos executivos acreditam em uma queda das vendas internas, dos investimentos e do emprego no último trimestre do ano; 70% deles esperam a diminuição na produção, 60% a desaceleração das exportações e mais de 76% o aumento da inadimplência. Para 2016, as perspectivas da maioria dos executivos são ainda menos positivas, com 48% das lideranças empresariais receosas de que o PIB tenha uma retração superior a 2,5 %.
“Desdobramentos da Operação Lava Jato, incertezas na política e na economia e o aumento do câmbio são algumas das influências sobre as expectativas empresariais para o último trimestre de 2015, que se revelam as piores nesses últimos três anos em que estou à frente do IBEF-SP”, afirmou o presidente do Instituto, José Cláudio Securato.
Quanto ao câmbio, mais de 70 % dos executivos apostam em um valor superior a R$ 3,90 em 2016. Para 56%, a Selic não se manterá estável nos 14,25% atuais, com viés de alta até um teto de 15,25 %. Em função desse aumento na taxa de juros básica da economia, são 60% os executivos que acreditam que a inflação não ultrapasse a casa dos 10 %.
A análise setorial ficou por conta de alguns dos executivos participantes. Eles traçaram um panorama geral do setor em que atuam e compartilharam experiências adotadas recentemente em suas empresas.
Energia: mais aumentos previstos
Para Britaldo Soares, CEO do Grupo AES Brasil, é difícil vislumbrar um custo de energia decrescente no curto prazo. “A pressão de contenção da tarifa, hoje, está no consumo baixo, mas tem o câmbio, a inflação, a questão climática, inadimplência, entre outros fatores, que influenciam o preço da energia. Só uma mudança no planejamento do governo para o setor pode mudar esse panorama”. Ainda segundo Soares, a estimativa de queda no consumo de energia elétrica para 2016 na área de concessão da AES Eletropaulo (São Paulo e 23 cidades da região metropolitana) é de 4,5 % a 5 %. Em 2015, a redução teria sido de 2,3 % a 2,5 % na região Sudeste.
O menor consumo residencial também é tido como preocupante pelo executivo. “Alguns segmentos reduziram o consumo em 11%. Isso só foi visto em 2001, mas foi uma decisão de medidas emergenciais de redução no consumo, por decreto”.
O consumidor já está bastante insatisfeito com o aumento sensível da tarifa, que ainda não foi repassado integralmente pelas distribuidoras. Estima-se que o custo da energia tenha aumentado 106 %, fora a inflação. Um indício bastante contundente do que o consumidor pode esperar para 2016.
Outro fator relevante apontado por Soares é o aumento das empresas de pequeno e médio portes renegociando contas de energia. Para ele, o setor está vivendo um momento parecido com o jogo de varetas, isso porque além de driblar as influências conhecidas, a tarifa vem sendo foco de embate na esfera judicial, o que também poderia refletir nos repasses tarifários para o consumidor final.
Para Simone Borsato, CFO da Elektro, o momento é de austeridade, face o setor viver em meio a uma enxurrada de liminares e contornos políticos. “O Brasil ocupa a 85ª oposição em consumo per capta de energia, perde para a Argentina e para a Venezuela”. No setor industrial, sabe-se que o consumo de energia elétrica funciona como um termômetro para determinar o ritmo da produção de um País. Borsato ressalta, no entanto, que em 2015 houve uma grande conquista em termos de estabilidade regulatória, com a implantação das bandeiras tarifárias.
O estresse no setor também é sentido pelas geradoras de energia elétrica. Luiz Pereira de Araújo Filho, CFO da Santo Antônio Energia, afirma que o risco hidrológico (GSF) é muito oneroso para as operadoras hídricas e que elas vêm pagando uma conta que não poderia ter esse enquadramento. Essa seria a razão das ações judiciais do setor de geração junto ao governo, que tentam minimizar os impactos do GSF. O executivo avalia a MP 688 (que transfere o GSF das geradoras para os consumidores, por meio das bandeiras tarifárias, e exige contrapartidas por parte das geradoras) com ressalvas, por não atingir as geradoras de maneira uniforme.
Vera Bermudo, controller da GE Oil & Gas para a América Latina, acredita que 2016 será um ano de virada, mas que para enfrentá-lo caberá às empresas fazer uma adequação, como a mudança na carteira de clientes e atuação em ramificações diversas.
Na contramão da economia
Embora a crise venha afetando a economia como um todo e essa seja uma palavra recorrente nas análises dos executivos, Clóvis Poggetti Jr., CFO da Cielo, diz que o desuso do dinheiro e do cheque e sua substituição pelo cartão de débito vêm amenizando os impactos negativos no varejo – em outubro o varejo registrou queda de 3,8% – e permitindo algum crescimento no setor de meios de pagamento. Poggetti acredita que 2016 será um ano ainda muito complicado, o que forçaria um exercício de orçamento para compensar perdas. “Algumas variáveis, no entanto, estão fora do controle dos executivos”.
Em 2013, o Banco Central do Brasil (Bacen) passou a disciplinar o sistema brasileiro de pagamentos eletrônicos, integrando-o ao Sistema de Pagamentos Brasileiro e sujeitando o segmento às regras da MP nº 615/2013. “O Banco Central vem monitorando o mercado, estimulando a competição para que haja preço justo; se isso não acontecer, o Bacen pode atuar diretamente na mecânica de precificação do cartão de débito, visando estimular mais o consumo.”
Papel e celulose
No setor de papel e celulose, Eduardo de Toledo, diretor da Klabin, aponta a constância do preço internacional da fibra curta (principal produto brasileiro de exportação) e a apreciação do dólar frente ao real como fatores determinantes do bom momento para o setor. O executivo revela, entretanto, que no terceiro trimestre, o segmento de caixas de papelão teve retração de 5%, acompanhando o momento negativo da produção industrial brasileira.
De acordo com Toledo, a Klabin que hoje exporta cerca de 1/3 da produção pretende aumentar, de maneira acentuada, as exportações para o ano que vem.
Outro mercado que tem se mostrado mais resiliente à crise é o de saúde suplementar. Adolpho de Souza Neto, CFO do Grupo Fleury, diz que as pessoas continuam cuidando da saúde, mas que o aumento no desemprego é preocupante, dada a correlação negativa entre a taxa de desocupação e o crescimento do setor. O CFO revela que a estratégia do Grupo Fleury para enfrentar a recessão da economia brasileira é trabalhar com parcerias, estreitando-as, além de manter a qualidade para ampliação do market share.
O executivo pontua também que a permissão de entrada de capital estrangeiro no setor de hospitais – um segmento ainda bastante pulverizado, haja vista a gestão familiar ter sido uma unanimidade por décadas – promete mexer com o mercado. ”Apesar dos problemas, o Brasil está barato e oferece oportunidade de consolidação e melhoria de gestão no segmento da saúde, principalmente o de diagnóstico privado.”
Disciplina para superação
Apesar de o Black Friday ter movimentado R$ 1,5 bi em um único dia, o CFO da Samsung, Alfredo Nicolau y Benito, diz que o momento é de cautela. “O crédito corporativo está deteriorado, os varejistas regionais mais fragilizados, e o consumidor tomando cuidado para não se endividar.”
Hugo Bethlem, CEO da Lahpa, segue na mesma linha de Benito e avalia que o momento das lojas físicas de varejo é de grande fragilidade, em parte porque o consumo migrou para o ambiente on-line, mas principalmente porque muita gente está comprando pouco, em razão do desemprego, da perda de renda com a volta da inflação, do crédito caro e do baixo índice de confiança na economia.
Para contornar o panorama de recessão, Flavio Donatelli, diretor de finanças e RI da Duratex, aposta na melhoria da eficiência e na racionalização dos custos. Segundo ele, a retração do mercado expõe a vantagem das empresas que adotam uma política conservadora de caixa.
Na ITW (equipamentos industriais, produtos de consumo e serviços), o CFO George Cavalcanti está promovendo grandes esforços de melhoria interna e trabalhando com segmentação de mercado e desenvolvimento de tecnologias para encarar os desafios do próximo ano.
Novidades do IBEF SP para 2016
Durante o evento, Securato, presidente do IBEF SP anunciou a retomada da participação do Instituto junto ao International Association of Financial Executives Institutes (Iafei). Já no ano que vem será elaborada agenda para o Congresso internacional, contratado para acontecer em 2017.