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VAREJO
Por Rubens Batista, sócio da 2B Partners Consulting.
Supermercados especiais, juntamente com padarias, “hortifrútis”, açougues especiais e empórios são formatos varejistas que estão experimentando um importante crescimento em vista dos seguintes fatos: a) mudanças demográficas (dupla renda familiar; famílias menores e o crescimento do número de solteiros vivendo sós); b) conveniência (população das grandes cidades tem menos tempo para fazer compras de mercado, razão pela qual favorecem lojas menores localizadas na vizinhança que ofereçam-lhes soluções); c) a escalada inflacionária da comida fora decasa.
Esses supermercados especiais oferecem soluções como: comida fresca pronta, seleção de vegetais e frutas, produtos enlatados importados e de marcas locais, uma boa seleção de vinhos e serviços tais como porcionamento de produtos, valet e empacotadores.
Padarias são uma combinação de padarias tradicionais com restaurantes (servindo café da manhã, almoço e lanches) e loja de conveniência (oferecendo produtos alimentícios de uso diário e bombonière), além de prover os mesmos serviços dos supermercados.
“Hortifrútis” (evolução do sacolão) oferecem os mesmos serviços dos supermercados e uma seleção ampla de frutas e vegetais, juntamente com um sortimento complementar de alimentos compostos por especiarias e produtos de consumo diário.
Açougues são uma maior especialização (comparado a supermercados e padarias), provendo os mesmos serviços dos supermercados (porcionamento, valet, empacotadores ou consultores) com uma seleção ampla de carne de várias raças de gado e em vários cortes; e ainda um sortimento complementar contendo temperos e artigos de churrasco ou de cozinha.
Os empórios, por sua vez, proporcionam a experiência da alimentação no local com a venda dos ingredientes para consumo em casa. O Eataly é o exemplo mais bem acabado (e sofisticado) deste último formato.
Esses formatos são de nicho, dedicados a servir a uma classe de maior renda disponível. E a renda é que dá força à tendência de “gourmetização” e de personalização que impulsionam tal redes.
E, a despeito de sua opção pelo nicho, tais formatos podem capturar um importante volume de vendas. A participação da população total pertencente à classe “A” é estimada entre 2% e 3%, sendo responsável por 16% do consumo total. Dez das 15 maiores cidades têm uma população combinada de 35 milhões de pessoas e um PIB de R$ 1,2 trillhão. São Paulo, a maior cidade do país, é responsável por 34% da população e por 40% do PIB dessa amostra.
A maior parte dos formatos dedicados a esse nicho são propriedade de operadores independentes, que não são parte de um grande grupo de varejo. Exceções são o Supermercado Pão de Açúcar,, que é parte do grupo CBD (propriedade do francês Casino), e o Perini que é parte do Cencosud (Chileno). O primeiro possui uma forte presença em São Paulo – apesar de estar presente em mais cidades – e o último tem presença limitada à Salvador.
Poucos dos jogadores existentes possuem mais de uma loja, com exceção de St Marché, Emporium SP, Hirota e Mambo, em São Paulo; Zona Sul, no Rio de Janeiro; e Verdemar, em Belo Horizonte. No formato hortifrúti, existem o próprio Hortifuti e o Hortigil. O tamanho de loja varia entre 800 e 2000 m². Os açougues, são mais pulverizados, tendo entre seus exemplos o Feed e o The Butcher. O destaque entre as padarias, até pela sua recente aquisição por um fundo de investimentos, é a Benjamin Abrahão.
Esses formatos têm em comum:
a) Experimentam um importante crescimento às custas de outros formatos (incluindo supermercados tradicionais);
b) São propriedade de operadores independentes;
c) São cortejados pelos fornecedores, uma vez que esses podem melhorar seu mix de margem (vendendo mais amplo e caro sortimento);
d) Praticam sortimento e precificação mais inteligentes para evitar sobre-precificar e a imagem de careiro (i.e. vendendo frutas e vegetais que possuem margem superior ou produtos importados e diferenciados sem referência de preço);
e) Trabalham com um nível de estoque mais elevado (o oposto dos supermercados de rede, que buscam eficiência mesmo com o risco de ruptura-falta de produtos).
Uma questão é o quanto esses operadores independentes assim permanecerão! Minha opinião é que essa é uma opção em aberto, por três razões: 1) As grandes redes não estão, por razões diferentes, neste momento, propensas à fazer aquisições; 2) São negócios ainda relativamente pequenos e que precisam passar por um processo de amadurecimento e crescimento. Neste último quesito, os operadores com maior potencial de crescimento e com marcas fortes poderiam buscar ajuda (profissional e de capital) para prepararem-se para um segundo momento de consolidação, inclusive, de maneira ativa, como protagonista; e 3) Até em razão do nível de customização do negócio, e consequentemente serem uma operação menos “massificável”, há espaço para a manutenção de sua independência.
Outra questão é quando – e se – aparecerão operadores, tais como Whole Foods (orgânico), The Fresh Market (forte são os pratos prontos) ou Traders Joe’s (soft discount controlado pela Aldi Norte). Dos três citados, os dois primeiros operadores são independentes!