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O novo relatório do auditor independente

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Mudanças terão impactos significativos nas interações entre auditores e administradores das empresas auditadas, comitês e conselhos, notadamente no caso de entidades listadas

Normas serão aplicáveis aos exercícios anuais que se findam a partir de 31 de dezembro de 2016, explica Valdir Coscodai. Fotos: Mario Palhares/IBEF SP

2016 será o primeiro ano de aplicação no Brasil do novo relatório do auditor independente. As mudanças decorrem de alterações nas normas internacionais de auditoria, adotadas pelo Brasil desde 2010. Representante do Brasil como board member do IAASB (International Auditing and  Assurance Standards Board), no período entre 2009 e 2015, Valdir Coscodai explicou essa transformação no café da manhã “O novo relatório do auditor independente”. O evento foi realizado na sede do IBEF SP, na última terça-feira (7), com o patrocínio da PwC.

Valdir Coscodai, sócio da PwC

O sócio da PwC apresentou a estrutura do novo relatório e observou que as mudanças terão impactos significativos nas interações entre auditores e administradores das empresas auditadas, comitês e conselhos, notadamente no caso de entidades listadas.

O membro do Conselho de Administração do IBEF SP, Luis Felipe Schiriak, também convidado, trouxe o ponto de vista do líder de finanças e administradores sobre as mudanças. Ele destacou que serão exigidas mais informações das empresas, e também sublinhou a importância da relação de transparência e comunicação entre o auditor – quem assina o parecer – e a administração da empresa – quem assina o balanço.

Luis Schiriak, membro do Conselho de Adm. do IBEF SP

Lanterna na complexidade – Há preocupação com o nível de complexidade ascendente das demonstrações financeiras das companhias, observou Schiriak, muitas das quais se transformaram em documentos de difícil leitura para quem busca a informação. “É preciso ter em mente que as demonstrações financeiras são feitas para um leitor. Elas precisam ser compreensíveis”.

Nesse sentido, observou Valdir Coscodai, uma das motivações para as alterações nos relatórios do auditor independente – discussão que começou há 10 anos no âmbito internacional do IAASB – partiram da constatação de que as demonstrações financeiras tornaram-se complexas e de difícil entendimento para seu público-alvo.

“O auditor tem a oportunidade, por meio de seu relatório, de ajudar o leitor a entender essas demonstrações, destacando as correspondentes principais áreas ou assuntos de auditoria. Ser uma espécie de lanterna que chama a atenção para as áreas importantes e de maior julgamento, auxiliando a tomada de decisão do investidor”, afirmou Valdir Coscodai.

Mudança drástica – No Brasil, as normas internacionais já foram traduzidas, passaram por audiências públicas e estão prontas para serem utilizadas. Serão aplicáveis aos exercícios anuais que se findam a partir de 31 de dezembro de 2016, explicou Coscodai, que também é membro da Comissão Nacional de Normas Técnicas do Ibracon.

“Essa é a mudança mais representativa nos relatórios de auditoria desde que começaram a ser produzidos”, ressaltou o sócio da PwC. “Agora, pela primeira vez na história, o relatório do auditor terá que ser individualizado por companhia, mesmo quando não houver ressalvas”.

Opinião independente do auditor é valorizada por investidores

Novas características – A opinião do auditor passará a ser posicionada logo no início do documento, e não mais ao final do relatório de auditoria – essa alteração já pode ser observada em relatórios emitidos no exterior e está alinhada ao requerimento da norma. Coscodai explicou que a decisão de colocar a opinião do profissional em primeiro lugar surgiu da constatação de que a opinião do auditor é muito valorizada pelos investidores e deveria ganhar proeminência.

Outra característica é que os relatórios deverão ter uma redação clara, objetiva e personalizada para cada companhia, fugindo sempre que possível do texto padrão aplicável a qualquer empresa. Haverá também mais flexibilidade no linguajar para que a leitura seja de mais fácil compreensão para o leitor, devendo-se evitar o excesso de jargões técnicos.

Com relação à questão da materialidade, Coscodai esclareceu que apesar de ser de divulgação obrigatória em alguns modelos internacionais de relatório, notadamente em UK, as normas que se encontram em audiência pública no Brasil não terão essa exigência.

Continuidade operacional – Outro ponto relevante é que o novo relatório amplia o foco sobre a continuidade operacional da companhia auditada. Pelo novo modelo, o auditor passará a instigar a administração e exigirá mais informações para a análise desse aspecto.

A nova estrutura também prevê uma descrição explícita das responsabilidades da administração e do auditor em relação a esse assunto, em todos os relatórios de auditoria. A novidade é a possibilidade de inclusão desse tema na seção de principais assuntos de auditoria, quando houver nos casos de “close calls”. “É uma nova exigência para o auditor e poderá provocar a administração a fazer uma divulgação mais ampla das informações relacionadas”.

Seção “Principais Assuntos de Auditoria” é a grande novidade

Grande novidade – O maior destaque do novo relatório é a seção “Principais Assuntos de Auditoria”, na qual o auditor elegerá os assuntos mais relevantes, dentre aqueles comunicados ao comitê de auditoria ou órgãos de governança equivalentes. A seção engloba os temas da companhia que exigiram atenção e esforço de trabalho significativos por parte da auditoria. O auditor poderá acrescentar nesta seção assuntos sempre que considerar adequados e apropriados nas circunstâncias. Será uma questão de julgamento do auditor.

O auditor também tem a permissão para não incluir assuntos sensíveis à empresa – exclusões em raras circunstâncias – quando entender que as consequências adversas de tal matéria ser tornada pública (ex: danos graves de imagem e prejuízo à segurança das pessoas) serão maiores do que o benefício público em conhecê-la (relevância do interesse público).

Outro aspecto importante da seção “Principais Assuntos de Auditoria” é que as informações tratadas ali devem estar disponíveis publicamente nos relatórios ou outras divulgações da companhia ou, ainda, quando divulgados, por exemplo, por alguma autoridade. “A fonte primária da informação sempre será a companhia”, ressaltou Valdir Coscodai. “O auditor não poderá divulgar informações estratégicas da organização deliberadamente. Se um tema é relevante para as demonstrações financeiras, deve estar em primeiro lugar nas notas explicativas da administração”.

Principais temas – No Reino Unido, onde as mudanças estão em vigor há três anos, observou o sócio da PwC, os principais temas que costumam aparecer nos relatórios são, por ordem de incidência: tributos, impairment de ágio e reconhecimento de receita. Esse dado provém de uma pesquisa do Financial Reporting Council – FRC realizada com as 350 maiores empresas de capital aberto da Bolsa de Londres.

Evento teve participação do público. Na foto, Carlos Alberto Bifulco, presidente do Conselho Consultivo do IBEF SP

Visão dos investidores – Outro estudo, realizado pela PwC em 2015, com investidores no Reino Unido, denominado The Revolution in audit Reports, indicou a aprovação do novo modelo de relatório. Os feedbacks dos investidores expressam que: os novos relatórios agora são mais interessantes e esclarecedores; o aspecto mais valioso dos novos relatórios é a discussão de riscos/áreas de foco especial; os investidores gostam de ouvir a perspectiva dos auditores sobre os riscos da companhia e valorizam sua visão independente.

Para o sócio PwC, as novas regras geram maior relevância para o trabalho da auditoria, que passará a produzir relatórios mais comunicativos e informativos. “A profissão do auditor se valoriza como um todo”.

O conselho do especialista é que auditores e membros de organismos de governança das empresas devem iniciar as discussões sobre o novo relatório de imediato, ao longo dos trabalhos no ano. “É um desafio que envolverá uma maior interação do auditor com todos os níveis da administração. Iniciamos uma nova era, e todos devem se preparar, conhecer as normas, seus impactos e como será esse processo, o quanto antes, sob pena de os objetivos não serem atingidos”.

(Reportagem: Débora Soares)

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