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CRÉDITO
Por Flavio Calife e Yan Cattani, economistas da Boa Vista SCPC.
De acordo com a última Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo IBGE, o volume de vendas no varejo caiu 1,0% em maio, na comparação com o mês anterior na série de dados com ajuste sazonal. Na comparação com maio de 2015, o recuo foi ainda pior, de 9,0%. Com este resultado, a tendência de queda do setor se intensificou: o resultado acumulado em 12 meses já atinge um recuo de 6,5%.
O resultado, sem dúvidas, é preocupante: é o pior valor aferido pela PMC em sua série histórica iniciada em janeiro de 2000. Mas haveria espaço para maiores quedas? Isto é, 2016 será um ano em que registraremos outro recorde negativo para o varejo?
Diante de preços ainda elevados, juros altos, dificuldade para obter crédito e aumento do desemprego, a percepção em relação ao momento atual segue pessimista. As únicas notícias positivas derivam das apostas de que a situação melhorará no futuro, embora tal fato seja enviesado devido à fragilidade da condição econômica atual. Seja como for, o descolamento entre a avaliação das condições atuais e as expectativas parece reproduzir um padrão observado entre 1994 e 2004, período em que o país passou por seguidas crises econômicas.
Todas as variáveis juntas permitem-nos vislumbrar um cenário mais benigno já no final de 2016
Analisando de forma mais detalhada, atualmente os indicadores de confiança vêm mostrando leve melhora desde o início do ano, mais intensamente nos últimos dois meses.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FecomercioSP, por exemplo, atingiu 90,9 pontos em maio de 2016, o maior valor desde maio de 2015, quando o indicador estava em 91,8 pontos. Tal alta vem sendo puxada pelo Indicador de Expectativas do Consumidor (IEC), que subiu 21,4% na comparação com maio do ano passado e atingiu 119,9 pontos, o maior valor desde novembro de 2014.
Por outro lado, a percepção em relação às condições atuais nunca esteve tão baixa: em maio, o Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), o outro componente do ICC, atingiu 47,4 pontos, o menor valor já registrado na série iniciada em junho de 1994.
Em outras palavras, a situação continua ainda muito ruim, os números confirmam isso, mas as perspectivas para os próximos períodos estão melhorando a cada dia. E isso também pode ser observado no relatório Focus do Banco Central a cada semana.
Mas, além dos indicadores de perspectiva, alguns indicadores da conjuntura atual já mostram indícios de recuperação. Por exemplo, o Indicador de Demanda por Crédito dos Consumidores (IDC) da Boa Vista SCPC apontou queda de 4,3% em maio na variação acumulada em 12 meses, resultado 6,8 p.p. superior ao registrado um ano antes. Ainda que a expectativa para este indicador se mantenha em patamar negativo até o término de 2016, uma melhora já é visível e importante, uma vez que a procura de crédito pode ser considerada uma proxy para o consumo das famílias, variável primordial para retomada de vendas no setor varejista.
Talvez a principal variável para ser observada com atenção em nossa conjuntura seja o desemprego. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE, o desemprego atingiu 11,2% no trimestre móvel encerrado em maio. Este valor é 3,1 p.p. maior do que a taxa de desemprego registrada no mesmo período do ano passado. Na comparação interanual o resultado é ruim, contudo, em um horizonte mais próximo, é o mesmo percentual registrado em abril de 2016. Essa estabilidade em relação ao mês anterior não ocorria há 15 meses.
Possivelmente, este é um indício de que a população desocupada já teria atingido um teto, portanto poderemos ver já nas próximas aferições uma inflexão desta curva. Ademais, com relação aos rendimentos reais, o movimento desinflacionário da economia deverá contribuir para um arrefecimento das perdas reais registradas até o momento, amenizando a atual tendência de queda até o final do ano. Desta forma, tais tendências fornecem maiores indícios de melhora das condições do mercado de trabalho já no curto prazo.
Como já mencionado, a desaceleração do IPCA tem feito o mercado constantemente revisar para baixo suas expectativas para o resultado consolidado de 2016. Em partes por causa da valorização do real frente ao dólar, que alivia de forma considerável os preços livres da economia (mais decisivos para os grupos de serviços e alimentação, por exemplo), a inflação também vem sendo aliviada devido aos efeitos acumulados do ciclo de aperto monetário. Os juros, por sua vez, não deverão permanecer no atual patamar de 14,25%, e deverão baixar até 1 p.p. caso as projeções do relatório Focus do Banco Central se confirmarem.
Resumidamente, a melhoria do mercado de trabalho, a inflação cedente, os juros menores, o maior movimento de procura por crédito, enfim, todas as variáveis juntas permitem-nos vislumbrar um cenário mais benigno já no final de 2016. Apesar de não ser uma melhoria efetiva em si, mas sim, uma amenização das péssimas condições alcançadas, é ainda assim um verdadeiro alívio para as variáveis de consumo, que ficaram dois anos neste cenário pantanoso.
Caso efetivamente consigamos sucesso nessas frentes, poderemos retomar de forma mais sustentável o crescimento do crédito, do consumo, do varejo e da própria atividade econômica.