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Quatro presidentes – Francisco Valim (Nextel), João Nogueira Batista (Swiss Re Corporate Solutions), Marcelo Castelli (Fibria) e Roberto Lima (Natura) – discutem como tornar o “Brasil Ideal” possível. Este instigante debate marcou a sétima edição do Painel CEO.
O Instituto reuniu lideranças para discutir o Brasil que o setor empresarial deseja, destacou José Cláudio Securato, presidente do IBEF SP, na abertura do evento realizado nesta segunda-feira (26), e que contou com o patrocínio da PwC e da Swiss Re Corporate Solutions.
O presidente enfatizou a representatividade dos quase 1.000 executivos associados ao Instituto para a economia brasileira, correspondente a 20% do PIB do País – considerada a soma dos faturamentos de suas empresas.
IDEIAS PARA O BRASIL AVANÇAR
O debate navegou por cinco tópicos: Pessoas, Consumo, Investimentos, Funding e Governança. A mediação ficou a cargo de Ivan de Souza, líder global de foresight da Strategy& (consultoria de estratégia da PwC).
Confira abaixo alguns dos principais insights da discussão.
Educação e produtividade
Como alavancar os talentos do País e aumentar a produtividade? A questão lançada por Ivan de Souza abriu o debate.
Marcelo Castelli, CEO da Fibria, destacou que as competências de gestão e as competências técnicas são desejadas pelas empresas. Contudo, a formação técnica dos trabalhadores ainda é um problema, em função do abismo existente na educação básica. “As parcerias entre empresas e centros de ensino para fomentar essa capacitação técnica é um caminho para diminuir o problema”, afirmou Castelli.
João Nogueira Batista, CEO da Swiss Re Corporate Solutions, concordou que o problema está na educação de base, que historicamente não privilegiou a formação técnica e hoje sofre com a carência de investimentos.
“O engajamento do setor privado tem crescido para tomar as rédeas desse processo, na tentativa de eliminar o gap da produtividade”, observou Batista. Contudo, a transformação desse cenário depende de uma reforma educacional profunda, acompanhada também da reforma política.
Francisco Valim, CEO da Nextel, chamou atenção para outro gap existente: a dificuldade das empresas em lidar com a inovação, em função da grande aversão ao risco. “Eu vejo a dificuldade dos jovens de startups para conversar com o diretor de uma grande organização e fazê-lo entender o que é uma oportunidade disruptiva”.
Mesmo dentro dos muros das companhias, observou Valim, muitos jovens com perfil empreendedor não têm seu potencial aproveitado. “Não vejo dificuldade na capacitação técnica. O que está faltando são oportunidades para que esses jovens exercitem a inovação dentro das organizações”, destacou Valim. “Precisamos (as empresas) acelerar esse movimento e não o rechaçar”.
Reforma trabalhista
Questionados sobre o tema, os CEOs destacaram que existe certo consenso sobre a necessidade de modernizar a legislação trabalhista. João Nogueira ressaltou que a correção dos custos abusivos, que recaem sobre as empresas e a liberdade de negociação entre as partes são essenciais. Também defendeu que a contribuição sindical se torne optativa.
Francisco Valim, por sua vez, ressaltou a necessidade de modular essa flexibilização. Em função das disparidades existentes nas relações de trabalho, certo nível de proteção ao trabalhador é necessário para evitar abusos por parte de empregadores.
O Brasil ideal, observou Marcelo Castelli, passa por uma menor intervenção do Estado, com leis trabalhistas menos impositivas e mais regulação para evitar as distorções. Roberto Lima, por sua vez, destacou a prevalência do acordado sobre o legislado e o uso inteligente da terceirização como caminho para aumentar a eficiência e a produtividade.
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Desenvolvimento do consumo
Direcionando a conversa para o pilar do consumo, Ivan de Souza perguntou a visão dos debatedores sobre o desenvolvimento do consumo no País, de forma sustentável e com uma perspectiva de longo prazo.
Francisco Valim destacou que o brasileiro já desenvolveu a habilidade de consumo, mas a habilidade de formar poupança demorará um pouco, pois parte significativa da população ainda está carente por obter itens básicos.
Marcelo Castelli acrescentou que a difusão da educação financeira é um fator importante para o desenvolvimento do consumo consciente no País.
Roberto Lima, por sua vez, ressaltou que com a perda de 1,5 milhão de empregos formais no País, somente em 2015, a massa de consumo tenderá a cair. E ainda não está claro qual será a velocidade de recuperação.
O CEO da Natura acrescentou que desenvolver o consumo consciente passa por uma reflexão sobre o que a população mais necessita, e nesse sentido há um trabalho de fundo a ser feito pelo governo para melhorar a oferta dos serviços de saúde e educação. João Nogueira concordou com a avaliação, e acrescentou que a saúde e a educação estão na base e abrem as portas para outras formas de consumo.
Atração de investimentos e funding
“O que fazer para mudar o ambiente de investimentos no Brasil? ”, questionou Ivan de Souza.
O País continua sendo uma grande oportunidade para investidores em diversos setores, observou Francisco Valim – especialmente com o atual ambiente internacional de juros negativos. Contudo, adicionou, o problema reside nas incertezas e a falta de segurança jurídica no País.
De acordo com o CEO da Nextel, o fator decisivo para melhorar esse cenário é a estabilidade no investimento, ou seja, a clareza das regras do jogo para quem vai investir.
A imagem internacional do País sofreu um grande retrocesso nos últimos anos, lamentou João Nogueira. Contudo, o CEO da Swiss Re Corporate Solutions disse confiar no retorno dos investidores com visão de longo prazo, e observou que os mesmos aguardam a reversão das expectativas, em especial com a aprovação das reformas estruturantes pelo Congresso. O esforço regulatório do governo para melhorar as regras de investimento e a segurança jurídica também será fundamental para essa retomada.
O País precisará realizar um forte trabalho de marketing para reverter os estragos de imagem, ponderou Roberto Lima.
O caminho para mudar esse cenário é a recuperação da confiança e a estabilidade do ambiente de negócios, completou Marcelo Castelli. O governo precisa ser menos intervencionista, regular mais e trabalhar a credibilidade do País, dando um choque de perspectiva para que os investimentos retornem.
Contudo, mesmo se a recuperação for rápida, o País não poderá cair na armadilha de desviar o foco da agenda estruturante – decisiva para mudar a forma de fazer negócios no longo prazo.
Governança aprimorada
O que as empresas devem fazer para se candidatarem a receber recursos e ter mais acesso ao mercado de capitais? A questão, voltada ao pilar da governança, abriu o último capítulo do debate.
Marcelo Castelli ressaltou que boa governança é questão de sobrevivência para as empresas, e tem influência sobre o custo de aquisição do capital: “Todos nós recebemos capital direto ou indireto de investidores de longo prazo”. Para o CEO da Fibria, a melhoria da governança será uma resposta do setor privado ao cenário atual.
“A transparência é fundamental para a melhoria da confiança, as empresas precisam mostrar sua real situação (pontos positivos e negativos) para o mercado”, destacou Roberto Lima.
Francisco Valim chamou atenção para a positiva mescla nos conselhos das empresas brasileiras de representantes dos controladores e de conselheiros independentes, compondo esses colegiados indivíduos que estão realmente interessados em contribuir para o crescimento e a perenidade da companhia.
João Nogueira ressaltou que a governança nas grandes empresas brasileiras avançou significativamente nos últimos anos. O problema da governança não está no setor privado, ponderou o CEO, mas principalmente na esfera pública. “E o mundo corporativo tem espaço para induzir o aprimoramento da governança pública”, concluiu.
ASPAS
“Parabenizo o IBEF SP pela escolha do tema “Brasil Ideal”. É papel das instituições, incluindo o setor privado, criar referências para onde o País deve caminhar e levar propostas para isso. Muito mais que uma certeza, é preciso ter um norte, um direcionamento”. Marcelo Castelli, diretor presidente da Fibria
“A discussão promovida pelo IBEF SP foi muito boa, mas eu só sairia satisfeito dela se resultasse em alguma atitude efetiva. Se conseguíssemos sair daqui com alguma ação propositiva, penso que esta seria a nossa contribuição por um Brasil que se chamou aqui de ideal. Se conseguirmos criar a partir daqui uma pauta propositiva, me disponho a participar no que for necessário em termos de discussão, envolvimento e engajamento para isso”. Francisco Valim, CEO da Nextel
“O evento foi ótimo. Foi muito bom sair um pouco do dia a dia corporativo, e parar para pensar, refletir e compartilhar ideias, pensando o País de forma estruturada e a longo prazo. Hoje o Brasil ideal passa por questões que estão muito acima do aspecto financeiro. Boa a sugestão do Francisco Valim para sairmos da discussão e criarmos um think tank, ajudando a construir uma agenda que torne possível o Brasil ideal”. João Nogueira Batista, CEO da Swiss Re Corporate Solutions
“Agradeço ao IBEF SP pela organização deste painel. Fica a questão sobre o que podemos fazer a partir daqui, e talvez aproveitar o tema do Brasil Ideal para trabalharmos uma proposta. Tentarmos dizer o que é o Brasil ideal para nós, como queremos que o País se projete internacionalmente, como queremos ser conhecidos e qual o nosso papel no mundo. Acho que vale a pena”. Roberto Lima, CEO da Natura
“O tema não poderia ser mais desafiador: discutirmos o Brasil ideal. Vivemos recentemente momentos extremamente difíceis, seja sob o ponto de vista político ou econômico, mas é altamente inspirador nos reunirmos para pensar a respeito desse Brasil ideal e ações que poderão fazer a diferença na trajetória do País”. Ivan de Souza, líder global de foresight da Strategy&
“O Brasil se aproxima de um momento em que a iniciativa privada perde o receio de discutir a agenda do País de forma mais aberta. A aproximação com o governo para realizar essas discussões passa a ser mais plausível. O IBEF SP, pela representatividade que possui na economia e pela altíssima qualidade dos seus associados, é um player natural para participar de uma transformação mais forte. A sugestão para que o IBEF SP participe da construção de uma agenda propositiva para o País é bastante válida, e está em sintonia com as mudanças realizadas em nosso planejamento estratégico. Precisamos tangibilizar isso”. José Cláudio Securato, presidente da Diretoria Executiva do IBEF SP
(Reportagem: Débora Soares e Estela Vanella / Fotos: Mario Palhares)