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Compliance não é custo, é investimento.
A frase acima, tão repercutida no mundo corporativo, parece não se concretizar na prática por um número significativo – e preocupante – de empresas. “O compliance no Brasil ainda é visto como despesa e não investimento”, lamenta Graziela Bernardi.
Membro da Comissão de Tributos, Graziela foi responsável por apresentar, na última reunião do grupo, um panorama sobre os custos de compliance tributário no Brasil e as percepções da alta gestão – CEO, CFO e membros do Conselho de Administração – sobre o tema, com base em pesquisas recentes.
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Sobram tempo e esforços – Não é novidade o fato de que as companhias brasileiras despendem um grande volume de esforço e tempo para gerir o pagamento de impostos. Pesquisas nacionais e internacionais apontam de 700 a 2.600 horas de trabalho gastas anualmente para o cumprimento dessas obrigações no País.
… mas falta visão estratégica – O surpreendente é que mesmo direcionando tanta energia para fazer esse gerenciamento, observou a corporate controllership manager da Nidera, apenas 6 em cada 10 companhias (58%) reconhecem a importância estratégica do compliance tributário.
Um reflexo da falta de percepção sobre a importância estratégica da área aparece na vertente dos investimentos dedicados à mesma. A faixa mais significativa de empresas pesquisadas, 33%, investe até R$ 500 mil por ano em compliance. As que destinam volume superior de recursos são minoria.
“A maior falha das organizações é não investir em um compliance tributário adequado e depois receber uma autuação fiscal em valor muito maior do que o investimento que poderia ter feito”, afirmou Graziela.
Investimento em pessoas – Outro ponto em que as organizações pecam diz respeito ao investimento em recursos humanos.
As pesquisas revelam que a maior parte dos profissionais recrutados para a área de compliance tributário são voltados a aspectos operacionais e possuem baixa capacidade analítica – situação ainda mais recorrente quando focados em atividades transacionais em centros de serviços compartilhados.
“Colocar o braço operacional sem ter a parte intelectual e estratégica acoplada não vai trazer valor agregado para o compliance da empresa”, ressaltou Graziela.
Com relação aos treinamentos voltados aos profissionais da área, a maior parte se dá de forma superficial, por meio de assinaturas de periódicos online e seminários externos.
Meily Franco, líder da Comissão de Tributos, lembrou que com a digitalização fiscal – a partir da introdução do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) e obrigações acessórias – as companhias dedicaram boa parte dos investimentos à tecnologia. Os estudos apontam que as empresas destinam até 70% dos investimentos para novos softwares e apenas 22% para pessoas na área tributária.
Falta clareza sobre o retorno – Na outra ponta, há também uma lição de casa a ser feita. Somente 25% das áreas de compliance fazem reporting mensal para a alta gestão. 20% o fazem apenas quando solicitado. E em 12% dos casos, não existe sequer comunicação entre a área de compliance e a administração.
“O maior desafio para implementação da área de compliance é conseguir demonstrar para a alta gestão o seu valor agregado para a gestão de riscos”, destacou Graziela.
O outro lado da moeda – Fernanda Malta, gerente tributária da SBA, acrescenta que a Receita Federal é um exemplo claro de organização que vê o compliance como elemento estratégico, investindo em profissionais de excelente qualificação. “É a visão oposta do contribuinte que vê o compliance como custo e não investe na área. Daí surge o abismo”, pontuou, acendendo o debate.
A implementação adequada do compliance tributário demanda tempo e recursos das empresas, completou Graziela Bernardi. Contudo, a tranquilidade da organização que está bem respaldada nesta área não tem preço.
(Reportagem: Débora Soares)