Getting your Trinity Audio player ready...
|
A voracidade asiática por oportunidades de investimento e a perspectiva de retomada do mercado doméstico abrem um horizonte positivo para 2017, na visão dos CFOs. O tom mais otimista foi perceptível nas análises setoriais realizadas pelos membros da Diretoria Vogal, reunidos na sexta-feira (11).
Foi a última reunião da Diretoria Vogal na atual gestão do IBEF SP. Marco Castro, 1º vice-presidente do IBEF SP, fez um agradecimento especial para todos os executivos que dedicaram tempo e contribuições com suas análises nos encontros realizados ao longo dos últimos dois anos. Castro agradeceu também a IBM pelo patrocínio do presente encontro.
Energia
Executivos atuantes no setor elétrico destacaram os vários desafios enfrentados pelo setor: queda do consumo, necessidade de ajuste da capacidade, e tendência de aumento de preços de forma a acompanhar o risco setorial. “O risco hidrológico ainda é alto e permanecerá no próximo ano, o que impacta os geradores hídricos”, alertou Luiz Pereira, CFO da Santo Antônio Energia.
Apesar do cenário desafiador, há um clima mais otimista com a disposição demonstrada pelo atual governo em resolver os gargalos de infraestrutura e ajudar o setor de energia a caminhar. Considerando, como parte da solução, os programas de parcerias público-privadas, a privatização de ativos do Grupo Eletrobras, e a retomada dos leilões setoriais. A entrada de novos investimentos beneficiará o setor na retomada do crescimento nos próximos anos, destacou Britaldo Soares, conselheiro da AES Eletropaulo.
Simone Borsato, CFO da Elektro, chamou atenção para o forte interesse chinês no setor como um todo, e a tendência de consolidação dos ativos, sendo exemplos as aquisições recentes feitas pelas gigantes State Grid e Three Gorges Corporation. Destaque para a compra dos ativos da Duke Energy no País feita pela Three Gorges, negócio de 1,2 bilhões de dólares que resultará na segunda maior holding de geração do Brasil, atrás somente da Eletrobras.
Christiane Aché, da General Electric, destacou o movimento de consolidação por parte dos fabricantes, e disse que há grandes expectativas para os próximos leilões, e principalmente para o mercado de exportação. Os investimentos privados diminuíram, mas continuam sendo realizados. “O setor aposta nas exportações e na eventual retomada das PPPs e concessões”.
Investimentos
Ainda sobre os investimentos chineses, Charles Putz, partner da Rio Bravos Investimentos, compartilhou a experiência da gestora hoje controlada pelo Grupo Fosun, o maior conglomerado privado da China. “Eles têm apetite para investimentos e grandes intenções para o Brasil. Estão interessados em energia e em outros setores”, destacou Putz, ressaltando que a busca por oportunidades no País continua, mesmo em um cenário mais complexo.
Nesse contexto internacional de alta liquidez e busca dos investidores por oportunidades, José Roberto Securato Júnior, managing director da Saint Paul Advisors, chamou atenção para o movimento de leveraged buyout (transação alavancada em que a empresa comprada financia a sua própria aquisição). A novidade, de acordo com Securato Júnior, é a tendência de grandes empresas realizando este tipo de transação, mais comumente feita por fundos de private equity. É um movimento de mercado que os CFOs devem estar atentos, observou, Securato Júnior, especialmente considerando o interesse das organizações chinesas – que já utilizam este mecanismo – em realizar aquisições no País.
Galpões logísticos
“Num horizonte de médio e longo prazo, o País ainda é um bom lugar no mundo para o investidor estrangeiro alocar o seu capital, em especial aqueles que têm bolsos fundos”, ressaltou Dani Ajbeszyc, CFO da Global Logistic Properties (GLP), empresa controlado por grupos asiáticos. O CFO destacou o grande apetite de fundos de pensão e fundos soberanos internacionais por oportunidades no País. Em relação ao desempenho do setor de galpões logísticos, Ajbeszyc destacou que a demanda está voltando, com foco em qualidade, ainda que o preço continue relevante para a negociação. Atentos ao impacto sobre o retorno, os players do setor já se posicionam para “surfar” no ciclo de redução dos juros, esperado para os próximos dois anos.
Mineração e siderurgia
O gigante asiático também tem dado sua contribuição no mercado de commodities. Puxado pela demanda chinesa por aço, o preço do minério de ferro atingiu na última sexta-feira o maior patamar em dois anos (79,70 dólares a tonelada), levando as empresas exportadoras a um momento de euforia, observou Rosana de Pádua, diretora financeira de RH, riscos e compliance da CSN. A perspectiva para o setor é positiva, disse Rosana, mas não só pela elevação do preço das commodities; há uma grande aposta na retomada do mercado doméstico em 2017. “Estamos enxergando um pouco de luz no fim do túnel”.
Varejo
“A notícia positiva é que o varejo parou de desacelerar. A negativa é que ainda não começou a acelerar”, avaliou Clóvis Poggetti Jr., vice-presidente executivo de finanças e RI da Cielo, com base nas informações do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) dos últimos três meses. Segundo Poggetti Jr., os números nominais mostram uma leve aceleração, mas isso puxado pelo efeito da inflação que incide no varejo, que de acordo com o indicador ficou em 9,4% nos últimos 12 meses. O CFO ressaltou que o ICVA captura a inflação do varejo em si, não considerando itens energia elétrica, aluguel e condomínio entre outros que compõem o IPCA, por exemplo. “Continuamos com a expectativa de que em algum momento vai melhorar, esperávamos que fosse antes”.
Comércio eletrônico
“O comércio eletrônico está com desempenho um pouco melhor do que o varejo normal”, observou Luis Carlos Cerresi, CFO do Walmart.com, com base nos dados setoriais compilados pela Ebit. Contudo, o setor está andando de lado. Apesar do aumento de sete pontos percentuais nas receitas nos últimos nove meses, em termos nominais, versus 2015, esse crescimento é praticamente zerado quando considerado o efeito da inflação, observou Cerresi. A aposta do mercado para o último trimestre ano é a Black Friday (liquidação realizada na última sexta-feira de novembro). A previsão para o setor, que há anos crescia em dois dígitos, é de crescimento de 6 a 8% neste ano em termos nominais. “O final de ano ainda será duro, mas as perspectivas são de recuperação gradual a partir de 2017”.
Tecnologia
“O mercado de tecnologia como um todo vive duas grandes transformações”, destacou Felippe Melo, diretor de IBM Global Financing Brasil. Trata-se da migração da infraestrutura básica de TI para um modelo híbrido nas empresas – em parte aquisição e parte na nuvem –, e a adoção crescente da computação cognitiva. Melo destacou que as empresas seguraram os investimentos em tecnologia no primeiro semestre, o que conteve um pouco o resultado anual esperado pelo setor. Contudo, a demanda voltou a aquecer no terceiro trimestre e a perspectiva é repor os níveis de crescimento no primeiro semestre de 2017.
Na abertura do almoço, Felippe Melo apresentou aos CFOs vídeo sobre o sistema de financiamento de serviços tecnológicos do Banco IBM.
Bens de capital mecânicos
George Cavalcante, diretor financeiro da ITW do Brasil, apresentou dados setoriais sobre a indústria de bens de capital mecânicos. Há estabilização do mercado em níveis muito baixos, e o nível de emprego continua reduzido, disse Cavalcante. Ainda que a velocidade da redução dos empregos tenha desacelerado, o setor ainda perde postos de trabalho. “A ocupação da indústria está em 66% – considerada muito baixa e com capacidade ociosa tremenda”. De acordo com o CFO, o setor não prevê aumento de investimento no curto prazo. O nível de exportações melhorou um pouco, mas o fato é que a indústria ainda vê tempos difíceis pela frente.
Saúde
Luis Andre Blanco, CFO da OdontoPrev, trouxe alguns dados sobre o setor de assistência médica, disponibilizados até setembro. Nos últimos três meses, o ritmo de queda no número de beneficiários de planos – fato muito ligado ao aumento do desemprego – diminuiu gradativamente, e praticamente se estabilizou em setembro. Isso denota que o ritmo de demissões nas empresas também vem sendo reduzindo, apontou Blanco. Apesar da estabilização, o setor continua muito pressionado em termos de custos, com o aumento da utilização. Nos primeiros seis meses do ano, a sinistralidade setorial foi de 85%, e no índice combinado de todo o setor de saúde, 99,8%.
No setor odontológico, a perda de beneficiários se estabilizou já no primeiro semestre. A partir de julho houve aumento, acelerado em agosto e setembro. “Uma boa notícia é que este setor tem penetração ainda muito baixa na população brasileira, em relação ao de assistência médica – 11% e 45%, respectivamente”, destacou Blanco, reforçando que há muito espaço para crescer. Os segmentos que mais expandem são o massificado de pequenas e médias empresas e o individual – o que tem compensado a queda do corporativo.
Seguros
Valentin Alvarez, CFO da Swiss Re Corporate Solutions para a América Latina, apresentou dados do mercado segurador que, apesar das dificuldades da economia brasileira, ainda apresenta resultados positivos. Isso porque a taxa de juros elevada tem ajudado as seguradoras a manterem certa lucratividade. Contudo, a perspectiva de redução dos juros traz desafios. “O mercado está bem difícil. Os preços estão caindo, as comissões subindo, as coberturas sendo ampliadas. É um cenário desafiador para o crescimento no futuro”.
Ainda sobre as perspectivas para o setor, Alvarez prevê uma consolidação do mercado ainda maior do que a já em curso, e também o maior foco das seguradoras em seus produtos core, especialização e nicho, seguindo o que aconteceu nos mercados internacionais. Recentemente, a própria Swiss Re Corporate Solutions participou dessa consolidação do mercado com a aquisição da carteira de seguros de grandes riscos da Bradesco Seguros.
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Mario Palhares /IBEF SP)