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O CFO da Suzano Papel e Celulose contou aos membros do IBEF Jovem seis ensinamentos valiosos que acumulou ao longo da carreira, fruto da convivência com diferentes líderes. O encontro com Marcelo Bacci, finalista do Prêmio CFO do Ano em 2016, aconteceu ontem na sede da empresa.
Este foi o primeiro de uma série de encontros com CFOs programados para este ano, e que fazem parte do programa de mentoring lançado pela iniciativa jovem do IBEF SP, liderada por José Vinicius de Oliveira Alves, executivo da Cielo.
Competência e sorte – Marcelo Bacci trabalha desde os 15 anos de idade. Começou ainda adolescente, administrando o negócio da família focado em manutenção de carros. Quando cursava a faculdade de administração, junto com outros dois sócios, abriu seu primeiro negócio, uma papelaria dentro da FGV SP – que ficou de herança para a próxima geração de acadêmicos. Foi trainee do Banco Nacional, onde iniciou sua ascensão na carreira de executivo de finanças.
Experiências diversificadas ajudaram a moldar a carreira do hoje diretor executivo de finanças e RI da Suzano Papel e Celulose, multinacional brasileira de base florestal com atuação voltada para os segmentos de papel e celulose e que tem subsidiárias na China, países europeus e Argentina. “Ao longo da minha carreira, consegui trabalhar em empresas estrangeiras e brasileiras, de capital aberto e fechado, nos setores de serviços, banco e agroindústria. São experiências diferentes e através de todas enriqueci meus conhecimentos”, destacou o CFO.
De acordo com Bacci, para crescer na carreira é preciso ter competência, mas o fator sorte também foi fundamental na trajetória do executivo. “Eu tive a sorte de receber oportunidades para crescer. E quando você tem esse tipo de chance, deve extrair o melhor possível” .
As oportunidades para crescer profissionalmente não se resumem apenas a receber promoções e ofertas de trabalho, ensina o CFO. Elas podem estar mais perto do que se imagina: a chance de aprender com os líderes que estão perto de você.
Nesta matéria, destacamos os aprendizados de carreira de Marcelo Bacci que foram obtidos através da convivência com seus gestores:
1) Orientação a resultado – Quando Bacci ainda era um trainee no Banco Nacional, aprendeu com um líder a importância de agir pensando no resultado. “Meu chefe era um cara orientado a resultado. Foi ele quem me ensinou a pensar sempre nisso. Não se trata de focar somente no resultado, mas não há como executar qualquer atividade empresarial sem pensar nas suas consequências”.
2) Execução impecável – Já no UniBanco (que comprou o Banco Nacional), onde galgou a posição de gerente de tesouraria internacional, Marcelo teve um chefe que era bastante exigente com a execução das atividades. “O foco dele era a qualidade da transação, como não deixar pontas soltas e ter a certeza de que as questões jurídicas estavam bem equacionadas. Com esse líder, aprendi a importância da execução impecável: quanto melhor você executar, menos trabalho terá depois”.
3) Diálogo com a equipe – Na Promon Engenharia, onde se tornou pela primeira vez CFO, Bacci lembra que aprendeu com um presidente a importância de falar com os times. “Na primeira hora do expediente, ele não tinha agenda de reuniões; ele utilizava esse tempo para conversar com os diretores. Isso é importante para qualquer empresa: mesmo com uma agenda atribulada, se o gestor não reservar tempo para falar com as pessoas ele acabará se tornando uma figura distante, fechada numa sala, e perderá o contato com a realidade da companhia no dia a dia”.
4) Disposição para estar presente – Já na Louis Dreyfus Commodities, onde atingiu a posição CFO para a América Latina, Marcelo admirava a disposição do CEO global, que passava 70% do tempo visitando as filiais em diferentes países, especialmente o Brasil, a maior operação da companhia no mundo. “Aprendi com ele que você tem que estar presente. E isso exige disposição tanto para viajar quanto para entender o que acontece no negócio. Ele tinha paciência para entender e perguntar, se aprofundar nos temas do negócio, para então formar opinião e poder agregar nas discussões”.
5) Visão do executivo x visão do empresário – Após migrar de empresa e assumir a vice-presidência da holding do Grupo Suzano (e atuar também como CEO interino da CPMais) Bacci aprendeu com o acionista controlador da empresa a diferença entre a visão do empresário e a visão do executivo. “Enquanto o executivo geralmente pensa no ano que vem, o empresário pensa nos próximos 50 anos. Não podemos tomar decisões considerando apenas o próximo mês ou ano. É preciso refletir para onde essas escolhas levarão a companhia no futuro de forma estratégica”.
6) Sempre é possível fazer melhorias – Mesmo depois de se tornar CFO da Suzano Papel e Celulose, em 2014, Marcelo continuou aprendendo. O exemplo de um dos líderes com quem trabalha hoje o ensinou a importância de não se acomodar a uma situação, mesmo confortável. “Aprendi com ele que sempre dá para fazer algo melhor. E quando você faz uma melhoria, já pensa na próxima. É preciso celebrar os avanços, mas não deitar nos louros conquistados. E influenciar para que as pessoas não se conformem, pensem sempre em como fazer algo hoje melhor do que fizeram ontem”.
E quais os ensinamentos de Marcelo Bacci para os jovens executivos? Veja alguns dos conselhos do líder para os profissionais em início de carreira:
Seja curioso em relação ao que faz – Dentre os aprendizados que o CFO procura transmitir para sua própria equipe está a importância de alimentar a curiosidade. “Se você realiza uma atividade sem procurar entendê-la, você pode se tornar um ótimo executor, mas isso não vai te levar além. Procuro passar para eles a importância de ser curioso, tentar compreender como as coisas funcionam, porque isso é o que te levará para as próximas oportunidades”.
Mantenha uma postura equilibrada – Outra lição que Bacci procura transmitir aos mais jovens é a importância do controle emocional. “Não adianta se desesperar frente a uma situação difícil porque os problemas sempre irão surgir. O líder deve demonstrar serenidade e ter a confiança de que conseguirá resolver o problema junto com a equipe. Se ele se desespera, isso rapidamente se alastra pelo time, e ele perde o controle da situação”.
Você nunca estará 100% preparado para um bom desafio – Bacci disse que nunca se sentiu totalmente pronto ao assumir um novo cargo. “Se você vai para uma posição em que tem a certeza de que já sabe tudo, então é melhor pegar suas coisas e ir para casa. Se aquela oportunidade não irá te agregar valor ou conhecimento, também não vai te levar para lugar algum”.
Tome decisões de carreira pensando no futuro – Questionado por uma jovem sobre planejamento de carreira, o CFO disse que não previu cada etapa de sua vida profissional, mas sempre tomou decisões baseadas em uma visão de longo prazo. “É importante pensar não só no passo que você dará hoje, mas para onde ele te levará. Sempre tive a consciência de que trabalhar em uma mesma área iria limitar a minha carreira. Se você quer ter uma carreira de gestão, não pode fazer a mesma coisa a vida inteira”.
A maturidade ajuda a repensar as escolhas – Pai de quatro filhos, Bacci disse que já sofreu com o dilema de conciliar a ascensão na carreira com a vida pessoal. Especialmente quando tinha 30 anos, época em que trabalhava até nos finais de semana. “Nessa idade, eu tinha muita dificuldade de lidar com isso e me sentia culpado. Hoje procuro ter horários mais flexíveis no escritório para poder passar mais tempo com a família, até porque viajo bastante a trabalho. Então, não é que ficou mais fácil administrar o tempo, mas a maturidade te traz a autoconfiança para escolher o que é mais importante naquele momento, e diferenciar isso do que pode ser feito depois”.
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: IBEF SP)