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Esqueça salas individuais, políticas diferenciadas e privilégios. O executivo financeiro que deseja trabalhar com negócios inovadores deve estar preparado para uma brutal quebra de paradigmas. Quem dá os insights sobre como fazer a travessia é Diego Barreto, CFO da Ingresso Rápido, convidado do programa de mentoring do IBEF Jovem.
Diego Barreto mentora 28 startups, situadas em diferentes países, e já escreveu dois livros sobre finanças e direito. Ainda no quarto ano da faculdade de Direito, decidiu trocar a advocacia pelo mundo das finanças. Aos 23 anos de idade, trabalhava em operações de IPOs e M&As. Aos 24, assumiu seu primeiro cargo de gestão, e aos 26 dava aulas na FIA e na FGV e coordenava uma pós-graduação nesta última. Aos 27, tornou-se diretor financeiro de uma multinacional brasileira. É maratonista e dorme 4 horas por dia sem dificuldade.
O CFO da Ingresso Rápido, hoje com 34 anos de idade, é o retrato de uma nova geração de executivos: jovens que ascenderam rápido na vida profissional e decidiram colocar o propósito à frente da remuneração financeira de curto prazo em suas escolhas de carreira.
Após construir uma trajetória em corporações dos setores de papel e celulose, infraestrutura, energia e imobiliário, Barreto decidiu sair do perfil das organizações tradicionais para integrar a chamada ¨nova economia¨ – empresas com alta capacidade de inovação, baseadas em tecnologia e serviços.
¨O sucesso vem de outras questões além de trabalhar muito ou ter sorte¨, disse o CFO para os jovens ibefianos, logo no início do bate-papo realizado em 12 de abril. ¨Não acredito em providência divina ou sorte. Mas em criar uma sequência de oportunidades¨.
Confira alguns ensinamentos de Barreto para os executivos que desejam se tornar gestores em empresas da nova economia:
Trabalhe em negócios com os quais se identifica. ¨Aprendi que na vida e na carreira você deve andar com a sua tribo, empresas e pessoas que comungam de princípios e valores semelhantes ¨, ressaltou Diego Barreto. ¨Se você não acredita na filosofia da companhia em que trabalha, não fique nela por muito tempo, pois ela não ficará com você. Pouco adiantará trazer ideias e propor mudanças se não estiver em um ambiente que possibilite isso ¨.
Prepare-se para uma mudança de paradigma. O mundo da ¨velha¨ e o da ¨nova¨ economia são completamente diferentes, assinalou o CFO. ¨Enquanto na velha economia o foco é redução de custos e aumento de eficiência, na nova economia nos preocupamos em reter clientes e colaborar com o resto da rede. Redução de custos é substituído por escalabilidade¨.
Para fazer essa transição, Diego Barreto destaca a importância da preparação. Não espere ganhar salário astronômico, ter secretária ou uma política de viagens diferenciada do time. ¨Enquanto a grande empresa te ¨carrega¨, nas startups você tem um ambiente menos hierárquico. Você tem que fazer acontecer, o seu desempenho é o diferencial¨.
Tome risco. Barreto disse que sua característica mais marcante na carreira foi assumir riscos, de forma consciente. ¨Nunca tive problema em tomar risco. Fiz isso em vários momentos: sair da advocacia para finanças, virar professor, e, depois, deixar o mundo corporativo por 1 ano para fazer um MBA internacional e não voltar para o mundo corporativo tradicional¨.
Na avaliação do executivo, não existem oportunidades ¨de ouro¨ na vida, mas sim aquelas que o profissional cria para si mesmo. ¨Guarde esse aprendizado: não existe limite para o que você quer. Trace seu objetivo, busque parcerias que podem ajudá-lo e tente realizar. Geralmente, o que diferencia uma pessoa bem-sucedida de outra não é o currículo de papel, mas o comportamento e a atitude¨.
Permita à equipe tentar e errar. O líder precisa aprender a descentralizar o poder e criar um ambiente em que as pessoas se sintam livres para ter iniciativa e propor inovações. ¨A cada 1.000 ideias, de uma sairá algo revolucionário¨, afirmou Barreto. ¨O mundo da tecnologia ensina que para vencer, você precisa trazer todo mundo junto, colocando algo na mesa, contribuindo¨.
Seja genuíno. A atitude ¨walk the talk¨, colocar o discurso para andar, é fundamental para a conquista de credibilidade. ¨Em uma empresa menor, baseada em tecnologia, o comportamento das lideranças é muito mais visto¨, ressaltou o CFO. Difícil crer na mensagem de um gestor que vive no ¨olimpo¨, cercado de privilégios corporativos, mas quer transmitir uma imagem humilde para a equipe. ¨Não há problema em querer condições diferenciadas, mas pelo menos seja honesto para assumir isso¨.
Faça mais com menos. Com um crescimento alucinante, de 40% em 2016 (e previsão para manter o ritmo neste ano), e R$ 600 milhões em transações realizadas, a Ingresso Rápido investe pesado em tecnologia. Diego Barreto assumiu o cargo de CFO há seis meses, com o mandato de ajudar a transformar o modelo de negócios da empresa e prepará-la para a expansão internacional.
Em apenas seis meses, a companhia de serviços aumentou seu percentual de vendas de tickets online de 25% para 55%. Do ponto de vista de marketing e inteligência, entre as tecnologias já implementadas, está uma combinação de data mining, social e analytics nas casas de entretenimento parceiras e eventos. O objetivo é trabalhar informações de um espetáculo para, em um segundo momento, oferecer ao cliente experiências personalizadas conforme gostos e hábitos.
Do ponto de vista operacional, a constante adoção e desenvolvimento de plataformas virtuais tem diminuído e-mails, uso de papel e pontos de fricção do cliente na experiência dele.
¨Foram iniciativas que geraram mais eficiência, mas acima de tudo, qualidade de vida para as pessoas. Esta é a nossa premissa de tecnologia¨, ressaltou o CFO.
Atitude com transparência. Diego Barreto não vê problema no fato de a tecnologia substituir a força de trabalho humana em algumas funções. Ao contrário: isso pode gerar oportunidades. ¨Se você é gestor de uma área que será reduzida, por exemplo, precisa comunicar esse fato para toda a equipe. Assim dará oportunidade para as pessoas se prepararem, saírem da zona de conforto e até mesmo fazerem novos movimentos de carreira dentro da empresa. Promova as mudanças, mas seja transparente¨.
Liderança é comportamento. Para Barreto, a grande essência do gestor é saber fazer a pergunta certa, e não necessariamente ter um conhecimento especializado na área. ¨Quando você se tornar CFO, terá dezenas ou centenas pessoas com você, e não bastará entender muito de finanças. Liderança é basicamente comportamento, suas atitudes para facilitar a tomada de decisão¨.
Na opinião de Barreto, fazer um MBA internacional é uma experiência muito diferente dos cursos oferecidos no Brasil, porque o aspecto comportamental do indivíduo é trabalhado, para além do conhecimento técnico. ¨No MBA que fiz no IMD (International Institute for Management Development), na Suíça, encontrei um ambiente em pude conhecer melhor meu comportamento como líder, identificar e começar a superar limitações. Por 1 ano fui acompanhado por um mentor, um psicólogo e um coach. Essa experiência me ensinou a estar em constante autorreflexão¨.
Aprenda a ouvir o time. ¨Você tem que ganhar o direito de falar¨, afirmou Barreto, citando frase que ouviu de um colega durante o MBA. ¨Isso significa que o líder não precisa falar o tempo todo, mas contribuir com o necessário. Se você aprender a ouvir as pessoas, não haverá limites nas relações¨.
O CFO destacou que em suas reuniões com a equipe, dá espaço para que todos possam participar e opinar. ¨As pessoas se manifestam, presto atenção ao que dizem e reflito sobre isso. Às vezes, falo 1% ¨. Na opinião de Barreto, o gestor não precisa dar a solução ao liderado, mas permitir que ele a encontre. ¨Isso gera mais eficiência no longo prazo e ajuda o time a ganhar confiança¨.
Respeite a diversidade. Questões ainda tabu no mundo corporativo, como a homossexualidade, são encaradas com muita naturalidade pelos integrantes das novas gerações. ¨Quem faz ou fica encaminhando piadas sobre mulher, negro ou gay não será líder na nova economia. Esse tipo de atitude vinda do gestor resulta na perda de talentos. Você tem que respeitar as diferenças. Na nova economia, você não conseguirá montar um time se tiver um olhar carregado de preconceitos¨.
(Reportagem: Débora Soares/ Fotos: IBEF SP)