Getting your Trinity Audio player ready...
|
Ano em que a economia volta a reagir, 2017 ainda está envolto em incertezas, especialmente no campo político. Dois CFOs e o sócio de uma gestora de recursos avaliaram o cenário que se desenha à frente, durante o seminário da Comissão de Mercado de Capitais e RI, realizado na sede do IBEF SP.
Os painelistas foram Clovis Poggetti Junior, vice-presidente executivo de finanças e RI da Cielo, Marcelo Bacci, diretor executivo de finanças e RI na Suzano Papel e Celulose, e João Luiz Braga, sócio do Grupo XP. A moderação ficou a cargo de Luciana Medeiros, sócia da PwC e vice-presidente de admissão e frequência do IBEF SP. Andre Cazotto, líder da Comissao de Mercado de Capitais e RI, fez a abertura.
Cenário econômico
O primeiro trimestre de 2017 é avaliado como o de virada do PIB. Alguns fatores começam a impulsionar a economia para cima, como a forte produção agrícola, a recuperação da confiança do consumidor, a queda da taxa básica de juros e a inflação atingindo o menor patamar desde 2000.
Varejo – Outra boa notícia é que o desempenho dos segmentos, de forma geral, parou de piorar no primeiro trimestre, afirmou Clovis Poggetti Junior. O CFO da Cielo ponderou que, apesar de a recuperação de vendas do varejo não ter ocorrido na velocidade imaginada, o mês de fevereiro surpreendeu com números menos negativos do que o esperado. Drogaria e Turismo se destacam como os segmentos mais resilientes, apresentando bom desempenho.
“Estamos fechando os números ainda, mas pelo que observamos, março poderá se confirmar como um mês de retorno do crescimento. Quem sabe é o início de uma retomada¨, destacou o CFO da empresa de meios de pagamento, ao citar dados do Índice Cielo de Varejo Ampliado.
Indústria – A impressão de que o cenário econômico parou de piorar também é compartilhada por Marcelo Bacci. O CFO da Suzano Papel e Celulose observou que nos primeiros meses do ano a produção de papel, mais ligada ao mercado doméstico, manteve volumes estáveis em relação a 2016.
Para Bacci, o investidor estrangeiro ainda está atento aos setores em que o Brasil possui um grande diferencial de vantagens competitivas – como é o caso da celulose, cujo custo de produção no País é o menor do mundo.
Exemplo desse apetite por bons papéis foi a oferta de um bond de 30 anos com sucesso no mercado internacional, realizada pela Suzano recentemente. ¨O fato de o mercado aceitar comprar um papel de 30 anos – o que não acontecia desde 2014 -, dentro de taxa interessante para a companhia, mostra a recuperação de confiança no Brasil¨, destacou Bacci.
Mercado de capitais – Após a retomada das commodities, o próximo segmento a se beneficiar da recuperação econômica – em especial com o ciclo de queda de juros no Brasil – são as empresas alavancadas e muito influenciadas por capital de giro, destacou João Luiz Braga, sócio do Grupo XP. Em seguida, vêm as empresas que estão com baixo nível de utilização de sua capacidade e poderão crescer sem investimento adicional, o que proporciona uma margem melhor.
Na visão do gestor de recursos, os setores regulados se beneficiam da retomada das concessões públicas. “As regras têm melhorado muito. O governo entendeu que para ter investimento privado ele precisa permitir que as empresas obtenham as taxas de retorno devidas¨.
2017 é visto como um ano de transição, em função do carregamento dos efeitos negativos do ano passado, como o aumento do desemprego. A projeção é de crescimento tímido ao final do ano – inferior a 1% – mas que merecerá ser comemorado. A volta do crescimento, com maior força, é prevista para meados de 2018.
Drivers para a recuperação
Os painelistas concordaram que o sucesso do governo em aprovar as reformas fiscais será decisivo para impulsionar o crescimento. “A recuperação depende em boa parte das reformas, em especial a reforma da previdência, que é crucial. Basicamente, é o que vai engatilhar esse processo para não estarmos quebrados no longo prazo e voltarmos a ver a entrada do investimento estrangeiro¨, ressaltou o sócio do Grupo XP, João Luiz Braga.
Marcelo Bacci sublinhou: “Muitos investidores que estão trazendo dinheiro para o Brasil têm a premissa de que o País vai resolver o problema das contas públicas. Se perder essa perspectiva, se as reformas não avançarem, pode haver uma grande desvalorização do câmbio, acompanhada da deterioração do cenário, o que é ruim também para o exportador¨.
A Cielo, que é controlada por empresas nacionais, Bradesco e Banco do Brasil, também compartilha da perspectiva de que as reformas precisam acontecer, completou Clovis Poggetti Junior.
Oportunidades
Tomando um cenário base em que a reforma da previdência será aprovada, João Luiz Braga acredita que a Bolsa de Valores trará grandes oportunidades para os investidores. “As commodities se recuperaram, mas a Bolsa ficou para trás; está no mesmo nível do ano passado, e existem classes de ativos de empresas que são muito boas e cujo crescimento ainda não foi revisado. Há muitas oportunidades em setores que estão “baratos” e que oferecem retorno acima da inflação, como infraestrutura e saneamento”, observou Braga.
Outra classe de ativos destacada é a de empresas estáveis, geradoras de caixa, e que pagam dividendos altos, juntamente com as de companhias alavancadas que se beneficiam da queda de juros.
Marcelo Bacci, por sua vez, chamou atenção para o potencial dos papéis incentivados. ¨Já fizemos cinco operações com Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) com muito sucesso, acredito que é um mercado que abriu de vez”, destacou o CFO, acrescentando que a redução da burocracia para esse tipo de emissão seria bem-vinda por parte do órgão regulador.
Operação Lava Jato – Questionados pela plateia sobre o impacto da Operação Lava-Jato na recuperação econômica, os executivos concordaram que o saldo será positivo no longo prazo.
Ainda que em um primeiro momento os escândalos de corrupção empresarial e política revelados pela investigação policial tenham assustado os investidores, a percepção é de que muito já foi precificado pelo mercado no estágio atual. O resultado esperado é a construção de um Brasil melhor. “Já vejo recursos estrangeiros voltando para o Pais. O risco Brasil melhorou e existe apetite para bons papéis”, destacou Clovis Poggetti Junior.
“São acontecimentos que, em curto prazo, geram confusão, mas que melhorarão o nosso país em longo prazo. O Brasil precisa de renovação politica e a classe de executivos deve ocupar mais esse espaço, envolvendo-se e colaborando para uma maior profissionalização da gestão pública”, completou Marcelo Bacci.
E como atrair mais investimentos para o País?
Na opinião de Marcelo Bacci, as empresas brasileiras devem trabalhar sua competitividade. “A nós cabe o papel de uma participação política maior, mas também o de cuidar do nosso “quintal” para sermos empresa mais fortes. Uma companhia mal gerida não atrairá investidores, mesmo em um momento de crescimento econômico. É papel do empresário tornar a organização cada vez melhor”.
Para Clovis Poggetti Junior, o grande lema deve ser “confia e trabalha”. “As empresas que sobreviverem à crise se tornarão melhores. Por isso, toda organização deve buscar sempre ser mais eficiente, porque na volta do crescimento ela estará na frente”.
As empresas brasileiras têm um belo trabalho a fazer para aprimorar seus critérios de transparência e equanimidade com os investidores, acrescentou João Luiz Braga. “Os investidores estrangeiros detestam quando o investidor local tem vantagem sobre eles na obtenção de informações, e isso se reflete em um custo de equity maior e nas nossas ações mais baratas. Mas hoje esse cenário está muito melhor do que no passado; as empresas têm feito esse trabalho”, destacou o sócio da gestora de recursos.