Getting your Trinity Audio player ready...
|
Em palestra no Encontro Socioesportivo, Pondé tratou da ambivalência no mundo moderno e o relacionamento entre gerações. O bate-papo com o escritor, que é também colunista do jornal Folha de S. Paulo e debatedor no Jornal da TV Cultura, foi patrocinado pela PwC.
“O sucesso é um péssimo conselheiro”, destacou Pondé, ao alertar sobre os riscos de o indivíduo pensar que, porque teve sucesso, sabe e tem controle sobre tudo.
“Às vezes, o fracasso nos aconselha melhor que o sucesso, porque ele nos faz refletir sobre nossas falhas. Se você tem sucesso, é melhor tomar cuidado com ele”, alertou.
Durante a palestra, o filósofo convidou os presentes a reconhecerem a ambivalência do mundo moderno – ou seja: uma coisa boa, percebida como um avanço, pode vir associada a algo ruim, ou contraditório.
Por exemplo, a sociedade avançada tecnologicamente que produz pessoas mais longevas é a mesma que incentiva as famílias a terem menos filhos, reduzindo o número de jovens.
Ou então, o fato de que as pessoas estão mais conectadas virtualmente, mas ao mesmo tempo os jovens se sentem mais sozinhos e com dificuldades para estabelecer vínculos afetivos no mundo real.
Virtudes em falta – São necessárias duas raras virtudes, segundo Pondé, para navegar em um mundo de ambivalência: a humildade e a reverência.
A humildade é saber que, apesar da ilusão de sucesso individual, muito do que uma pessoa consegue realizar na vida depende da contribuição de outras e de uma variável contingente – que pode ser o acaso, ou a noção de Deus para alguns.
“Antes de bater no peito e dizer que você, nossa época ou a tecnologia é o máximo, muito cuidado”, alertou Pondé.
Outra virtude desaparecida em nossa época, segundo o escritor, é a reverência – decorrente da consciência de que não temos controle ou respostas sobre tudo.
A ambivalência moderna é algo cujos limites ainda não conhecemos e tem poder de fogo nunca visto, argumentou Pondé.
“A reverência e a humildade são virtudes fundamentais em nossa época, porque implicam em reconhecer que você está diante de alguma coisa que sabe que não vai vencer. E nossa experiência moderna é de absoluto orgulho, achamos que para resolver tudo basta entregar na mão do dinheiro”, destacou o filósofo.
Conflito entre gerações – Em entrevista ao final do evento, Pondé tratou do relacionamento entre as diferentes gerações no mundo corporativo, em especial com os millenials – também conhecidos como Geração Y ou Geração Internet, grupo que compreende os nascidos entre 1979 e 1993.
“No mundo empresarial, existe a tentativa de se oferecer fórmulas para lidar com os millenials: como ensiná-los a ser mais reverentes, pacientes… isso será muito difícil, porque eles têm mais informação imediata e porque, antes de tudo, as gerações mais velhas os veneram”, destacou Pondé.
Os jovens pensam que entregamos a eles um mundo em chamas, com capitalismo extremamente violento e uma competição absolutamente cruel, observou o filósofo.
Essa percepção faz com que alguns millenials sejam muito pessimistas em relação ao mercado de trabalho e à possibilidade de investir a longo prazo em uma empresa. Segundo Pondé, isso os motiva a buscar oportunidades nas quais veem sentido para si mesmos.
“A única forma de lidar com os millenials é elevar o nível da conversa, em vez de impor fórmulas ou querer que eles achem você bonitinho”, afirmou o filósofo. “A melhor coisa para não conseguir o respeito dos millenials é dizer que eles são lindos, que o mundo deve ser como eles querem, e que nossa geração faz coisas estúpidas”.
Segundo Pondé, elevar o nível da conversa é reconhecer a ambivalência dos nossos tempos e que ninguém possui fórmulas mágicas ou respostas para tudo. “É perceber que eles trazem, encarnadamente, uma experiência desta época”.
Para lidar com a ambivalência e as novas gerações, as empresas precisam ir além do simples discurso pragmático e da busca por resultados imediatos, aos quais recorreram até então. Será necessário rever mindset e práticas que não respondem à complexidade atual, alertou o filósofo. “Não espere resultados imediatos. Não os terá”.
Parceria com o IBEF SP – O sócio da PwC, Felipe Ayoub, destacou que a empresa possui uma relação duradoura com o IBEF SP e patrocina o Encontro Socioesportivo há vários anos.
“Neste ano, trouxemos o filósofo Luiz Felipe Pondé para falar sobre a dualidade e a ambiguidade das relações, que se traduz no momento vivido por todos”, comentou Ayoub. “Ficamos felizes ao ver o auditório ficou lotado e as pessoas muito interessadas”.
Questionado sobre como a PwC pode ajudar as empresas a vencerem seus desafios, no atual cenário, Ayoub ressaltou que a organização está pronta para apoiar os clientes na nova era digital, agregando muito mais tecnologia e a sólida experiência em consultoria e auditoria.
“Estamos a postos para apoiar nossos clientes na resolução de seus problemas complexos”, completou o sócio da PwC.
(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Mario Palhares e Fabio Hosoi)