Getting your Trinity Audio player ready...
|
Se pudesse dar apenas um conselho aos jovens, Rosana Passos de Pádua diria: “Não tentem crescer em cima de suas fraquezas; cresçam sobre suas fortalezas. Foque no que você é realmente bom, e tente ser o melhor, a referência no assunto!”
Conselheira de cinco empresas, a diretora da CSN foi a convidada do programa de mentoring do IBEF Jovem, em encontro realizado em 22 de agosto. A iniciativa proporciona às novas gerações de profissionais financeiros uma oportunidade valiosa de dividir experiências, pessoalmente, com executivos renomados.
Levantando voo – Rosana soma três décadas de carreira executiva. Mas, se fosse pelo gosto do pai, teria sido aeromoça da Varig.
O sonho do chefe de família era ver a primogênita dos quatro filhos criados em Itaquera, bairro da zona leste paulistana, alçar voo em uma das carreiras então mais glamourosas da década de 1980. Ele decidiu colocar Rosana, aos 13 anos de idade, no curso de inglês.
“Meu pai mirou no que viu e acertou no que não viu”, contou a executiva, ao relatar que o domínio do segundo idioma foi seu passaporte de entrada na multinacional Basf, aos 21 anos de idade. Além de inglês, Rosana fala espanhol, alemão e francês.
Estudar é preciso – Outro aprendizado inspirado por seu pai foi o gosto pelos estudos. Com dois MBAs e prestes a completar seu mestrado, aos 52 anos, Rosana repassa aos seus dois filhos (uma engenheira e um estudante de medicina), o valioso conselho do genitor: “Você tem que estudar, e estudar pelo resto da vida.”
“Quando construí minha carreira, tive sempre em mente que atrás de mim poderia vir alguém melhor qualificado”, destacou a mentora para os jovens. “A geração de vocês é melhor que a minha, e a geração seguinte será melhor que a de vocês. É preciso estar antenado ao que acontece para poder competir e acompanhar as mudanças.”
Foi o interesse por aprender o idioma espanhol, em 1997, poucos anos após a fundação do Mercosul, que deu a Rosana a oportunidade de participar de projetos da Basf para a América Latina, como a centralização da Tesouraria.
A fluência em alemão, cujo estudo iniciou na adolescência, a ajudou a crescer na multinacional germânica, onde se tornou diretora de finanças para o Brasil. Dentre as realizações, sua equipe desenvolveu um inovador sistema de credit score, que considera o histórico, a situação presente e a perspectiva futura das tomadoras de crédito para classificá-las.
A inovação foi replicada nas filiais mundo afora e ajudou a salvar as finanças da empresa, após o enxugamento do seguro de crédito do mercado, pós-crise de 2008, sendo reconhecida com um prêmio internacional da Basf.
Uma nova etapa – Após 25 anos trabalhando na área financeira da multinacional europeia, Rosana aceitou, há 6 anos, o desafio de obter novos aprendizados em uma gigante brasileira de origem familiar.
“Foi uma mudança radical. Saí do ambiente controlado de empresa alemã, bastante previsível, e pensei que implementaria tudo o que aprendi na nova companhia”, contou ela. “Só que a CSN, fundada há 76 anos, já tinha processos muito bem estabelecidos na área financeira. Tive que repensar onde poderia brilhar e mostrar resultados”.
Rosana decidiu transformar uma frustração inicial em oportunidade de aprendizado. Abraçou novos desafios e hoje é diretora de auditoria interna, risco, compliance e recursos humanos da organização.
“Como executiva financeira experiente, eu sabia que poderia agregar muito à organização. Mas ao aprofundar meu conhecimento em novas áreas, como RH e compliance, fui me apaixonando. E esse aprendizado acrescentou muito mais a mim, pessoalmente”, contou.
Otimismo paciente – A executiva declarou seu orgulho por trabalhar na maior indústria siderúrgica do Brasil e da América Latina.
“Quem entra na CSN se apaixona pela empresa e por sua história. A cidade de Volta Redonda cresceu no entorno da indústria, que já chegou a empregar 40 mil pessoas. Existe um sentimento de pertencimento muito grande”, observou Rosana.
A atual crise tem impactado muito a indústria. Mesmo com um negócio que conta com hedge “natural”, devido à combinação da venda de minério de ferro ao mercado externo e venda de aço ao mercado doméstico, a conjuntura de queda do preço internacional da commodity e de retração do mercado interno é um grande desafio.
“O Brasil vive várias crises dentro de uma: crise ética, crise econômica e crise política. Mas nosso País tem um dos maiores mercados consumidores do mundo, o que não é desprezível. Em alguma hora, o cenário vai mudar e vamos retomar o crescimento”, disse a executiva, ao expressar sua perspectiva otimista para o País no médio prazo.
O mito das escolhas – Para Rosana, a ideia de que a mulher precisa fazer escolhas, como ter uma carreira executiva bem-sucedida ou constituir uma família, é um grande mito.
Ela contou que sua primeira promoção como gerente aconteceu quando voltou da licença-maternidade da sua primogênita. A segunda promoção, como gerente geral, ocorreu quando voltou ao trabalho após a licença-maternidade do segundo filho.
“Por que uma empresa promoveria uma mulher logo após o retorno da licença-maternidade? Porque havia entrega e eu era a pessoa mais capacitada para a função”, ressaltou a executiva. “Se você se esforçar, a carreira é possível”, completou, destacando que a família é o seu maior tesouro.
Esforço e dedicação – Ter estudado em escola pública e se formado (Matemática) em uma faculdade que poderia ser vista como de “segunda linha”, nunca foram empecilhos para a garota de Itaquera realizar seu grande sonho: ser alguém na vida, tornar-se uma pessoa respeitada na sociedade.
“Por que eu dei certo na vida? Primeiro, porque eu corri atrás. Sempre quis fazer faculdade e me tornar uma executiva. Sempre sonhei que iria longe. E para isso estudei duro, mantive o objetivo e a determinação. Por mais difícil que fosse, sempre terminei aquilo que comecei.”
Para Rosana, como head de RH, o bom caráter é a qualidade mais valiosa em uma contratação. “Não contrato ninguém somente pelas competências técnicas, contrato as pessoas pelo olho no olho. Tem que ter energia e boa vontade. Em uma seleção, não busco apenas o maior talento, mas também a melhor pessoa”, destacou, afirmando que as competências técnicas podem ser treinadas, mas não o caráter.
A executiva trouxe alguns convidados especiais para o encontro. Além da filha e do genro, também estava presente seu mentor – João Nogueira, conselheiro da Swiss Re Corporate Solutions, que participa do programa de mentoria realizado pela KPMG em parceria com a Women Corporate Directors (WCD). “Admiro muito o João, principalmente pela trajetória ética e correta que ele construiu.”
(Reportagem: Débora Soares)