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Os desafios cada vez mais latentes propostos aos CFOs na região latino-americana e no restante do mundo permearam as discussões da 47ª edição do Congresso Mundial de CFOs da International Association of Financial Executives Institutes (IAFEI), realizado em parceria com o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF).
O evento, que aconteceu nos dias 27 e 28 de setembro, em São Paulo, agregou também o 28º Congresso Nacional de Executivos de Finanças (CONEF). Em meio aos painéis voltados para temas relacionados a carreira e negócios, o tema da infraestrutura ganhou destaque entre as questões que impulsionam e influenciam os negócios nos países latinos.
A abertura oficial do evento foi decretada por Marco Castro, Presidente da Diretoria Executiva do IBEF São Paulo. Em seguida, Fausto Cosi, Chairman da IAFEI ditou o tom otimista do encontro. “Nosso objetivo é compartilhar experiências, culturas e as melhores práticas de negócios. Acreditamos no potencial da economia do Brasil”, disse. O clima positivo foi sublinhado por Luiz Roberto Calado, Chairman do Comitê Organizador do Congresso. “Estamos em um momento favorável no Brasil, com inflação controlada e retomada do crescimento. Prevalece a ideia de superar os problemas e avançar, o que tornou a agenda do congresso mais positiva e alinhada com o clima predominante mundo afora”, pontuou.
Igor Rocha, Diretor de Planejamento de Economia da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) inaugurou as palestras com uma fala em defesa da participação de capital estrangeiro no financiamento de obras de infraestrutura do país.
O executivo lembrou que o ápice do investimento no setor se deu em 2014, quando alcançou 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), para logo depois recuar até 1,7% do PIB, em 2016. “No atual momento de recuperação da economia, a expectativa é que o setor ganhe novo fôlego e contribua fortemente para a atração de investimentos externos”, afirmou.
Construindo “cidades inteligentes”
Tornar as cidades inteligentes é uma estratégia para diminuir os problemas de uma população urbana que cresce de maneira exponencial. Há 200 anos, o mundo abrigava três cidades com mais de um milhão de habitantes; hoje são 400 mil. O uso da tecnologia, como Big Data e Internet das Coisas, pode ser uma opção para reorganizar a rotina e mitigar problemas que impactam na qualidade de vida dos cidadãos de grandes centros urbanos. Este tema centrou o painel de discussão sobre “Smart Cities”, mediado por Christiane Aché, Diretora da Saint Paul.
Alexandre Quinze, Diretor da PWC no Brasil, observou que as cidades são feitas de pessoas, e apontou São Paulo como exemplo para lembrar que os milhares de cidadãos e automóveis dividem hoje o mesmo espaço antes planejado para receber carruagens. “As ruas não são elásticas, temos de pensar que a tecnologia pode nos ajudar como ferramenta para oferecer uma melhora na qualidade de vida das pessoas”, refletiu.
“Vale destacar que a tecnologia é o fim, e não o meio. Agora temos a chance de planejar uma cidade”, ressaltou Elias de Souza, Diretor de Infraestrutura e Setor Público na Deloitte. “Há uma grande quantidade de informações sendo geradas pelos próprios cidadãos, em segmentos como locomoção, saúde, consumo de energia. O desafio é organizar essas referências de maneira eficiente, e fazer com que os dados alimentem um sistema de Internet das Coisas”, emendou.
Em Buenos Aires, capital da Argentina, um processo de automação já tem o poder de controlar o problema da enchente. “Dados são colhidos automaticamente e criam um sinal de alerta para avisar quais canais estão com mais necessidade de serem limpos. O desafio para alavancar iniciativas como essa no Brasil é a implementação de uma política de governo em lugar de uma política de estado, com menos ideologia”, avaliou Juan Mikalef, Diretor Sênior do setor público da América Latina, arquitetura corporativa e soluções da Oracle.
Para Antonio Carlos Dias, Executivo de Indústria para Setores Público, Saúde, Educação, Mídia e Telecom da IBM, é preciso interação entre os Municípios, Estados e Governo Federal para possibilitar a implementação de ações eficientes em meio a esse movimento de reorganização das cidades. “A melhor fórmula de financiamento das iniciativas no Brasil é a participação do governo e das empresas em um modelo de Parceria Público Privada (PPP)”, disse.
Painel CEO Global:
Inovação e governança no topo da agenda
Inovação e boas práticas de governança foram dois importantes fatores que impulsionaram as 100 pequenas e médias empresas (PMEs) com o melhor desempenho no período de 2014 até 2016 no Brasil. Essa é uma das conclusões da pesquisa da Deloitte, que ouviu 291 companhias. A partir dos dados, Altair Rossato, Presidente da consultoria debateu como mediador de painel sobre o tema – composto por outros três executivos – questões relacionadas a tecnologia, infraestrutura e modelos de negócio. “Vale sublinhar que 30% das organizações presentes no topo da lista da nossa pesquisa atuam no setor de tecnologia”, provocou Rossato.
Ana Paula Assis, gerente geral da IBM para a América Latina, ressaltou a importância do setor de tecnologia, que em sua avaliação passou por uma importante transformação nos últimos anos. “Se antes as tecnologias automatizavam processos do negócio, nos últimos três anos, elas passaram a ser utilizadas também para melhorar a experiência do cliente, além de terem papel fundamental na criação de novos produtos. Em alguns casos, a tecnologia é o próprio produto”, avaliou. A Cata Company, que figura no topo da lista da pesquisa da Deloitte, elevou sua receita líquida em 590% por ano, de 2014 a 2016, impulsionada pelo CataMoeda, produto embasado totalmente em tecnologia, que tem como objetivo suprir a falta de moedas no varejo.
Era de mudança – A necessidade de mudar a cultura das empresas para a implementação do aparato tecnológico é um dos principais obstáculos enfrentados pelas organizações no Brasil. Para Paulo Melo, Diretor da Serasa Experian, o exercício dessa prática deve ter importância ímpar, pois à medida que as companhias se modernizam, a tendência é que mais fundos de investimento estrangeiros tenham interesse em oferecer aportes. “Estamos em um momento ideal para mostrar ao mundo a capacidade de inovação das nossas organizações em meio ao cenário de retomada do crescimento econômico, no qual o índice de inadimplência diminui e a confiança do consumidor aumenta”, pontuou.
A transformação da cultura nas organizações também responde à implementação de boas práticas de governança, iniciativa que elevou a receita das PMEs, de acordo com dados do levantamento. “Isso é essencial. Nós, por exemplo, que estamos em 75 locais no Brasil e presentes em 220 países, precisamos garantir uma estrutura firme de governança para gerir processos com o nível de controle adequado. Sabemos que implementação de Compliance é muito relevante, pois possibilita um bom nível de competitividade atrelado à responsabilidade social”, apontou Maurício Barros, presidente da DHL Supply Chain no Brasil.
Na avaliação de Carlos Zarlenga, presidente da General Motors, a América Latina tem uma história complicada em relação à manutenção de boas práticas de governança no país. “Mas vejo que as investigações de corrupção estão incentivando uma mudança no Brasil, pois trazem à tona a importância de promover cada vez mais a transparência nos negócios. Temos uma oportunidade de repensar o futuro, pois uma boa governança torna a empresa mais competitiva no momento de travar relações internacionais”, defendeu, ao destacar que é preciso maior integração do Brasil com o Mercosul. “O Brasil vai produzir 2,2 milhões de carros este ano. Junto com Argentina, esse número sobe para 3,2 milhões. Temos de aceitar e trabalhar pela abertura do mercado”, completou.
Comitês da IAFEI:
Política anticorrupção se destaca no código de ética das empresas
Líderes de três, dos cinco Comitês da IAFEI, debateram questões pertinentes à atuação dos CFOs na América Latina e no mundo. A palavra corrupção, que ecoa dentro e fora das paredes das empresas brasileiras em decorrência da Operação Lava-Jato – a maior investigação sobre uma cadeia de subornos que o Brasil já teve – não é, entretanto, preocupação exclusiva do país mais robusto da América Latina.
Juan Ortega, Chairman do IAFEI no México, ressaltou que cerca de US$ 1,5 trilhão são direcionados anualmente para subornos em todo o mundo, cifra que significa 2% do PIB global. Diante do cenário, uma das questões mais discutidas mundialmente, especialmente entre os CFOs, são maneiras de implementar sistemas eficientes de controles internos que respondam à necessidade latente de combater práticas ilícitas, uma vez que a política anticorrupção é um capítulo que ganha cada vez mais destaque no código de ética das empresas.
“É importante que as companhias diminuam o volume de riscos que estão habituadas a enfrentar. Os executivos tendem a procurar sempre abordagens mais conservadoras, especialmente nas questões tributárias, por conta da subjetividade de interpretação das legislações. Depois das prioridades estabelecidas e práticas de governança implementadas, é preciso realizar o monitoramento constante das ações propostas. Vale destacar que a comunicação tem importância ímpar neste processo, pois possibilita que todos os níveis hierárquicos da organização entendam os métodos aos quais estão sendo submetidos”, pontuou Ortega.
A relação entre governança corporativa e as auditorias foi destacada por Conchita Manabat, executiva que implementou as operações da Deloitte nas Filipinas. Ela ressaltou a importância da utilização de padrões internacionais de auditoria como uma relevante ferramenta para diminuir as perturbações relacionadas a subornos nos negócios. “Vale destacar que o International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA) – órgão responsável pela emissão das normas éticas para os profissionais da Contabilidade – vai lançar em dezembro uma nova versão de seu código de ética, que deve auxiliar a manter um padrão único de análise nas auditorias. Os contadores na maioria das vezes levam em conta a sua opinião, mas sabemos que esse ponto de vista pode variar de um profissional para outro”, observou.
Para os CFOs que atuam na América Latina, o desafio de mitigar os riscos vai além da adoção de compliance, e exige uma constante reavaliação das estratégias. As incertezas políticas e econômicas enfrentadas especialmente no último trimestre estão no topo da lista das preocupações dos profissionais que atuam na região. Outra questão latente é a possibilidade de uma diminuição abrupta do fluxo de capitais caso o Federal Reserve (Fed) promova a retirada integral do seu atual programa de flexibilização monetária.
“Não sabemos qual será a rigidez da política monetária nos Estados Unidos. A injeção de recursos na economia trouxe um importante fluxo de dólares para a América Latina, o que alavancou o desempenho das Bolsas de Valores. O risco inerente a esse cenário é que podemos observar a reversão desse fluxo caso o Fed endureça sua política monetária”, apontou Dominique Chesneau, representante francês e membro do Comitê Internacional de Tesouraria. Ele lançou para os presentes uma questão provocadora: “Não seria o momento da América Latina entrar em negociações para estreitar os laços comerciais com a Europa e os Estados Unidos?”.
Painel CFO:
Companhias se reinventam para implantar novas tecnologias
Não importa o tamanho da empresa ou setor de atuação: a transformação digital é uma realidade que permeia – com cada vez mais ênfase – todo o planejamento estratégico do negócio, executado muitas vezes em tempo real. Esse é um desafio adicional aos CFOs, tradicionalmente habituados a pensar as operações no médio e longo prazo. Tal questão permeou a discussão entre os executivos de finanças de três grandes empresas brasileiras de capital aberto e duas multinacionais da área de tecnologia no painel mediado por Henrique Luz, Sócio da PwC Brasil.
A implementação de novas tecnologias é uma realidade desafiadora para o maior banco privado do país, que passa pelo processo de redesenhar todo o seu modelo de negócio. “Hoje mais de 80% das transações são feitas por meio de canais digitais, o que diminui em um terço o custo de transações das agências. Tudo acontece mais rápido à medida que os clientes exigem soluções cada vez mais sofisticadas”, pontuou Caio Ibrahim David, CFO do Itaú Unibanco.
Para atender às novas demandas, os funcionários da instituição financeira são pautados a cumprirem suas funções dentro de uma dinâmica reformulada, que se apresenta pela alteração do espaço físico dos escritórios. “Os andares foram redesenhados para permitir que grupos de profissionais de diferentes áreas participem de um mesmo projeto, o que traz um conceito de diversidade de ideias latente, fator fundamental dessa agenda em busca de maior competência no uso das tecnologias dentro das instituições”, completou David.
Já a Klabin, uma das maiores exportadoras de papéis do Brasil, foca nas inovações tecnológicas na área de segurança e de operações de maquinário. “Estamos em uma nova era nas operações relacionadas a alarmes e controles. Nas plantas mais antigas, optamos pela modernização com soluções muitas vezes simples, como a utilização de programas que medem o desempenho dos motores e podem ser acompanhados pelo celular”, afirmou Eduardo de Toledo, CFO da companhia.
Por ser uma empresa familiar com mais de um século de atuação, um dos maiores desafios para implementar inovações na Klabin foi a mudança da cultura, que tende a começar de cima para baixo na hierarquia. “Por isso optamos por ter maior diversidade no quadro de Conselheiros, com a presença de membros com menos idade. Viajamos também constantemente ao Vale do Silício em busca de aprimoramentos”, disse Toledo.
A mudança de cultura foi um percurso enfrentado também pela Gerdau, siderúrgica brasileira centenária, que ocupa o posto de 14º maior produtora de aço do mundo. “Embarcamos em uma jornada de mudança de cultura há três anos, processo que culminou na entrada de um CEO que não é da família Gerdau”, contou Harley Scardoelli, CFO da companhia.
“Hoje temos um setor que desenvolve soluções segmentadas para os clientes, como o aço especial usado na indústria automobilística. Nos processos internos, passamos a usar drones para controlar a sucata recebida nas fábricas”, destacou Scardoelli.
Essa metamorfose cultural foi enfrentada também pelas empresas de tecnologia, que observaram nos últimos quatro anos uma abrupta transformação na maneira de fazer negócios. A Microsoft, que antes comercializava softwares, passou a ser uma companhia especializada em vender serviços online na nuvem.
“Hoje temos 36 data centers espalhados pelo mundo. Os processos internos também passaram por mudanças significativas, usamos inteligência artificial para fazer fork – processo no qual um software é desenvolvido com base em outro, já existente – e assim conseguimos obter rápidas respostas sobre o perfil de vendedores, análise de mercado e modelo de previsibilidade. Tudo isso impacta no perfil dos executivos, que tendem a tomar mais risco e sair da zona de conforto”, afirmou João Paulo Seibel de Faria, CFO da Microsoft Brasil.
O papel do CFO é evoluir junto com essa transformação e possibilitar que a área de finanças seja mais atrativa para os jovens. “É preciso permitir que as tecnologias façam com que os processos sejam inovadores”, pontuou Paulo Guiné, executivo de Desenvolvimento de Negócios da Oracle para a América Latina.
Guiné defendeu a transformação para além do front office. “É preciso permitir que o analista contábil entenda a importância da empresa no mercado. Estamos passando por uma transformação à medida que deixamos de ser uma companhia que vende software para atuar como prestadora de serviços”, afirmou.
O papel do executivo de finanças na jornada digital
O cenário de transformação digital no mercado e nas mídias impacta diretamente a maneira de fazer negócios. Esse contexto tem provocado mudanças exponenciais na rotina de trabalho da Oracle, companhia que tem mudado seu posicionamento de vendedora de software para se tornar prestadora de serviços. A mudança foi abordada na palestra de Paulo Guiné, executivo de Desenvolvimento de Negócios da Oracle para a América Latina, realizada no segundo dia do evento.
“A partir do momento que começamos a vender serviços direto para uma unidade de negócio, houve uma importante mudança no ecossistema da empresa. Se antes fazíamos vendas grandes e únicas, hoje temos contratos anuais, o que impacta diretamente o meu time operacional. Lidamos com análises distintas de crédito, pagamentos divididos em 12 parcelas. Tudo isso incrementou a atividade do time, e nos foi posto o desafio de lidar com o aumento exponencial na quantidade de informação que temos de trabalhar”, explicou Guiné.
De acordo com o executivo, são dois os desafios mais latentes em meio a esse processo: diminuir custos e comunicar ao quadro de funcionários as transformações. Para aprimorar os processos, a companhia se apoia em dados produzidos por parceiros como as consultorias Deloitte e KPMG, além de buscar firmar parcerias com universidades. Outra vertente da estratégia é atrair jovens profissionais para o time.
“Para falar de transformação, é preciso vivê-la. O que esperamos dos executivos é que eles estejam prontos para habilitar as transformações, para convencer os jovens e os outros funcionários a vislumbrar o novo”, pontuou.
Painel CFO Global:
Diversificação e boas práticas
Em meio às expectativas positivas ligadas à condução da política econômica no Brasil, CFOs de cinco multinacionais com operações dentro e fora da América Latina discutiram questões financeiras e de infraestrutura na região no painel mediado por Ronaldo Fragoso, líder da Divisão de Risco da Deloitte no Brasil. Uma das opções encontradas pelas companhias para enfrentar o momento de crise foi diversificar as operações e os investimentos, tendo em vista o cenário global de negócios, enquanto buscam se organizar para atrair a atenção do mercado de capitais.
“Nos últimos quatro anos, quando discutíamos o plano de prevenção de uma empresa em que trabalhei, sempre nos perguntávamos onde era o melhor lugar para investir. Uma vez que não podemos controlar o que acontece no cenário externo da companhia, optamos por diversificar nossa carteira de investimentos entre renda fixa e variável. Usamos a mesma estratégia para o modelo de negócio. No auge da crise, uma das únicas saídas para utilizar a capacidade de produção das fábricas era exportação”, afirmou Renê Marzagão, CFO para América Latina da AkzoNobel.
Na avaliação de Augusto Ribeiro Jr., CFO da Iochpe-Maxion, a economia do Brasil tende a cravar uma recuperação. “Estamos tentando separar a economia da política, vislumbramos crescimento econômico no próximo ano. Uma aquisição que fizemos em 2012 ajudou a enfrentar o momento de crise no Brasil e hoje prevemos um ambiente favorável para negócios nos próximos cinco anos. Pretendemos continuar investindo por aqui e também em outros países emergentes, como a Índia, que tem cadeia de logística e sistema tributário favoráveis. Estamos construindo uma fábrica lá”, revelou.
Embora positivas, as perspectivas para operar no Brasil nos próximos anos trazem ainda alguns poréns. Uma das demandas mais repetidas por investidores brasileiros e estrangeiros é a promoção de um ambiente de negócios mais transparente e seguro em relação às regras vigentes.
“Temos de recuperar a segurança dos nossos acionistas, e para isso precisamos contar com maior transparência especialmente na estrutura tributária do país, o que seria resolvido com uma reforma na legislação”, disse Davide Mele, vice-diretor de operações da Fiat Chrysler. A divisão brasileira da companhia observou redução de 45% na produção de automóveis nos últimos três anos. “O cenário mostra melhora. Esperamos encerrar o segundo semestre de 2017 com alta de 5% na comparação anual. A expectativa é que 2018 seja ainda melhor”, avaliou.
Pieter de Jager, do Afrisam Group, destacou que, além da questão dos impostos, outra barreira a ser quebrada nos países em desenvolvimento é a atração de investimentos. “Assim como na América Latina, enfrentamos o mesmo tópico na África. Para superar esse fato, é preciso mais envolvimento com as instituições financeiras, uma vez que tem muito capital esperando oportunidade. Se o Brasil continuar trilhando esse caminho de promover reformas estruturais, há grande chance de o mercado de capitais suprir as necessidades de infraestrutura. As instituições financeiras privilegiam a estabilidade, então a boa governança das empresas tem papel fundamental nesse processo”, disse.
Mohamed El Fezzazi, líder da área tributária da DHL na África do Sul, sublinhou a importância do compliance no momento de angariar capital. “Como uma empresa global, um dos nossos maiores desafios é educar nossos colaboradores em relação a transparência e boas práticas de gestão. Acredito que na próxima década vamos atingir esse objetivo”, afirmou.
Gestão estratégica de riscos
Se no passado as atribuições de um CFO se concentravam em questões contábeis e operações financeiras, hoje a cesta de responsabilidade desses profissionais não cabe em uma breve descrição. Em meio às transformações digitais, os CFOs assumem ainda mais riscos à medida que passam a participar também do desenvolvimento estratégico das companhias, o que significa a incumbência de “informar o passado, gerenciar o presente e criar o futuro”. É com esse argumento que Wagner Roberto Pugliese, líder de Soluções GRC para a América Latina da Nasdaq BWise, iniciou sua fala sobre o atual momento da carreira dos executivos de finanças.
Em sua avaliação, a tendência primordial nesse novo cenário é que o CFO assuma também a área de Tecnologia da Informação (TI), setor que migra de sua atuação tradicional e demanda o comando de um executivo com visão sistêmica da empresa. “Observamos um declínio da função de COO (Chief Operating Officer), e essas responsabilidades são divididas entre o CEO e o CFO”, pontuou.
Esse movimento contribui para executivos passarem a qualificar a adoção de compliance como investimento e não custo. “No entanto, de acordo com uma pesquisa da KPMG, que ouviu 250 empresas, apenas 58% confirmaram possuir mecanismos de gestão de riscos, enquanto outras 42% afirmaram não monitorar a efetividade de seus programas de compliance, o que é um fato preocupante”, observou.
Ao defender que é preciso implementar e monitorar o programa de compliance, Pugliese ressaltou os riscos de ataques cibernéticos, hoje um dos mais altos, cenário que tem de ser observado com mais atenção, especialmente ao levar em conta a crescente participação dos CFOs nas decisões relacionadas a TI. “A governança de dados requer metodologia e conhecimento para trazer os benefícios esperados”, defendeu.
Brasil – Entre as 114 empresas listadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores do Brasil – segmento que exige práticas diferenciadas de governança – 33% não contam com uma área interna de conformidade. “Vale a pena correr esse risco? Precisamos investir na criação de tecnologias para participar do programa de Global Compliance and Reporting (GCR). É preciso que as empresas se dediquem a gerenciar riscos corporativos e usem as ferramentas disponíveis para auxiliar neste processo, como, por exemplo, o COSO Enterprise Risk Management (ERM)”, provocou Pugliese, antes de propor uma ação para melhorar o atual quadro.
Perspectiva de bancos e private equity
Os mercados emergentes, em especial o Brasil, têm se beneficiado do fluxo de capitais proveniente dos Estados Unidos, reflexo da política monetária expansionista do Federal Reserve (Fed). Em meio a um cenário em que a taxa básica de juros do Brasil está em queda, esse dinheiro tende a ser direcionado para o mercado de ações. Não por acaso, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, acumula ganho superior a 23% no ano e opera perto dos 75 mil pontos, um recorde histórico.
Esse quadro incentiva empresas já consolidadas no mercado a se interessarem em dar os primeiros passos na organização necessária para realizar a Oferta Pública de Ações (IPO). É nesse momento que os fundos de Private Equity podem ser considerados uma ponte de acesso ao mercado. No Brasil, essa indústria movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano. Como comparação, essa cifra alcança US$ 2,5 trilhões nos Estados Unidos.
Esse cenário foi discutido por executivos do setor financeiro durante o painel sobre a perspectiva de Bancos e fundos de Private Equity para a América Latina, mediado por José Roberto Securato Júnior, sócio-fundador da Saint Paul Advisors.
Na avaliação de Carlos Takahashi, consultor sênior da BlackRock no Brasil, apesar da crise na política e na economia, a equipe econômica do governo está lidando de maneira correta com os desafios. “Teremos uma eleição presidencial peculiar no ano que vem, mas continuamos otimistas por conta de um cenário de demanda, especialmente no segmento da infraestrutura, o que traz oportunidades interessantes para os investidores”, disse.
Em relação ao acesso das empresas ao mercado de capitais, a expectativa dos palestrantes é de que muitas companhias brasileiras têm forte potencial para abrir capital. “É importante que essas organizações recebam o apoio de Private Equity neste momento de transição, até estarem aptas para acolher uma oportunidade de IPO”, avaliou Robert McCooey Júnior, vice-presidente da Nasdaq.
O segmento de Fusões e Aquisições, por sua vez, foi impactado pelas denúncias de fraude deflagradas pela Operação Lava-Jato. “Esses escândalos incentivaram um movimento de desalavancagem das empresas, que em muitos casos optaram por colocar à venda seus ativos e fazer caixa. No entanto, a distância entre o preço pretendido e o que o comprador está disposto a desembolsar é grande, o que acaba por travar grande parte das operações”, concluiu José Berenguer, presidente do J.P. Morgan Brasil.
Quarta revolução industrial no radar
A convergência entre os mundos físico, tecnológico e biológico é denominada por alguns economistas como a quarta revolução industrial. Essa é foi a premissa da fala de Fábio Scopeta, diretor de Transformação Digital, Nuvem e Inteligência Artificial da Microsoft América Latina, que definiu a era tecnológica em três grandes forças: experiência digital, inteligência artificial e servidores na nuvem.
“Os usuários têm duas grandes expectativas em relação ao ambiente digital: este mundo tem de ser multi dispositivo e multi sentido. Uso o touch, falo, escrevo e ao mesmo tempo faço gestos na frente de um dispositivo de realidade mista. Já a inteligência artificial tem a capacidade de extrair conhecimento de um montante grande de informação, enquanto os servidores na nuvem significam a completa ausência de infraestrutura. Nesse novo mundo, as nossas aplicações não levam em conta o lugar”, pontuou.
Em relação ao ambiente de negócios, Scopeta defende que todas essas ferramentas devem se traduzir em novas experiências para os clientes. “Buscamos aumentar o poder cognitivo dos funcionários para possibilitar a promoção de diferentes formas de engajamento com os clientes, além de estarmos sempre focados na criação de novos produtos”, disse.
Na prática, a inteligência artificial já traz importantes avanços para as empresas. Um exemplo é a Atento, companhia brasileira de especializada em call center, que ao adotar o uso de algoritmos consegue analisar 10 milhões de chamadas por mês, número 350% superior ao resultado obtido antes da implementação da tecnologia. “A segunda fase dessa experiência é analisar toda a informação coletada para fazer o movimento reverso, ou seja, entender o cliente para determinar qual é a forma mais apropriada de interação com os consumidores de cada marca”, contou.
O objetivo da Microsoft é englobar inteligência artificial em todos os produtos. “O importante nesse movimento é que disponibilizamos toda essa tecnologia por meio da nuvem, o que democratiza e prolifera seu uso. É uma inovação que permite às pessoas tomar as melhores decisões na vida e nos negócios”, concluiu.
CFOs reunidos no Marrocos em 2018
O 48th CFO Word Congress já tem data e local definido. O evento irá acontecer em 19 e 20 de outubro do próximo ano no Marrocos – em Marrakech ou Casablanca. “Já contamos com a Microsoft, patrocinadora do evento, e estamos trabalhando para atrair participantes para os painéis, disse um dos organizadores do evento, Mohamed El Fezzazi, membro da IAFEI e presidente da Associação Marroquina de Profissionais de Finanças e Gestão (AMMFG).
A AMMFG foi fundada em fevereiro de 2017 e hoje conta com mais de 400 membros. “Nosso objetivo em contribuir com a organização desse congresso é melhorar a qualificação dos membros da AMMFG. É importante saber o que está acontecendo nos outros países, somos uma associação nova, que começou suas atividades no ano passado. Esperamos que o evento contribua para a atração de novos membros”, pontuou.
Pormenores por trás da mudança da lei
A análise de custo-benefício (CBA) em relação à experimentação de reformas a serem implementadas na legislação norte-americana de valores mobiliários foi o tema tratado por Eric Talley, professor da Universidade de Columbia, em sua apresentação.
“Temos enfrentado um grande desafio nos últimos anos ligados às atividades de trading associadas a dados colhidos em ciberataques. O desafio é encontrar maneiras de regular essa atividade e punir ações ilegais”, disse.
Talley destacou que embora existam algumas mudanças na legislação de insider trading, as normas ainda são subjetivas quando trata de assuntos atuais, como o ciberataque. “Você não está proibido de negociar ações nos Estados Unidos com base em informações privilegiadas. O que importa é se você conseguiu ter acesso a esses dados de maneira legal”, pontuou.
Na oportunidade, o Chairman do Congresso, Luiz Calado, questionou Eric Talley sobre a inspiração para novas leis nos Estados unidos. “Ainda não descobrimos qual a abordagem correta para tratar insider trading, mas estamos oferecendo às autoridades um estudo da análise de custo-benefício da experimentação de mudanças na legislação (no âmbito do artigo denominado On Experimentation and Real Options in Financial Regulation)¨, afirmou o especialista.
O objetivo é contribuir para o embasamento das decisões dos reguladores. ¨É preciso correr o risco de experimentar mudanças na lei, mesmo que isso culmine em uma tomada errada de decisão que necessite ser corrigida”, defendeu.
Desafios à vista para os fundos de pensão
Os fundos de pensão do Brasil movimentam mais de R$ 800 bilhões em ativos, sendo que a maior parte desses aportes – 54% – é direcionado para a compra de títulos públicos, enquanto a fatia de 18% é alocada no mercado de ações. Fabio Henrique de Sousa Coelho, Diretor da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), destacou em sua fala a necessidade dessa indústria se reinserir no movimento de implementação de governança e controle de gestão operacional dentro dos padrões internacionais. Para ele, essa é a iniciativa primordial que levará a indústria a retomar o fôlego perdido nos últimos anos.
A indústria de fundos de pensão se afastou, na década de 1980, das práticas regulatórias internacionais. Desde o começo dos anos 2000 tenta se aproximar novamente desses padrões de melhores práticas, como o modelo de regulação feito pelo Banco Central, observou o palestrante. Em meio a esse processo, com a volatilidade de ativos e do cenário econômico nacional, o déficit acumulado da indústria cresceu de R$ 8,8 bilhões em 2012 para R$ 71,4 bilhões em 2016. Isso culminou em uma crise de credibilidade do segmento, e a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, em 2015, para investigar a possibilidade de fraudes no setor.
Como ação concreta para melhorar esse cenário, a Previc criou regras especiais para nortear a supervisão das atividades das 17 maiores entidades fechadas de previdência complementar, que respondem por 65% dos ativos da indústria. “Desde março, os gestores desses fundos se submetem a uma fiscalização permanente com grupos de auditores especializados”, ressaltou.
Embora a PREVIC esteja estudando algumas medidas novas de fiscalização, Coelho enfatizou a necessidade de aprimoramento na capacitação dos dirigentes e da boa gestão para melhorar o desempenho do setor. “A regulação tem suas limitações. Não podemos resolver todos os problemas do mercado com regras, por isso apostamos na importância da supervisão. O primordial é trabalharmos para elevar os níveis de governança e compliance”, concluiu.
IBEF São Paulo anuncia certificação para CFOs
Durante a 47ª edição do Congresso Mundial de CFOs, o IBEF São Paulo anunciou o lançamento de uma certificação voltada para esses profissionais no Brasil (CFO BR) e de três acordos de trabalho bilaterais com Argentina, Marrocos e África do Sul.
A certificação foi inspirada na iniciativa pioneira da África do Sul (CFO X), que ressalta as novas competências inerentes aos CFOs, afirmou Luiz Roberto Calado, Vice-Presidente de Relações Institucionais do IBEF São Paulo.
“Hoje os CFOs atuam dentro das companhias em funções que ultrapassam a contabilidade, então lançamos uma designação que reflete essa realidade”, afirmou Nicolaas van Wyk, CEO do Instituto de Contadores da África do Sul (SAIBA), que participou do anúncio.
¨Estamos felizes por nos juntarmos às associações brasileiras, argentina e sul-africana nesta iniciativa. Ter essa integração é positivo para o aprimoramento de nossas pessoas e instituições¨, completou Mohamed El Fezzazi, presidente da Associação Marroquina de Profissionais de Finanças e Gestão (AMMFG).
A expectativa de Luiz Calado é que 100 certificados sejam concedidos nos próximos meses pelo IBEF São Paulo. “O público-alvo são profissionais que trabalham em grandes companhias e com experiência superior a cinco anos na função de CFO”, afirmou
Para concluir, anunciou que agora os associados do IBEFSP também farão jus aos mesmos benefícios já existentes no Brasil quando estiverem na África do Sul, Argentina e Marrocos.
Potência química
Os desafios e oportunidades da indústria química no Brasil foram tema da palestra de encerramento do congresso. Marcos De Marchi, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), destacou que esse é o terceiro setor industrial mais importante do país, com faturamento de US$ 130 bilhões em 2016.
“Poderíamos aumentar em cerca de 20% nossa produção se estivéssemos operando com a capacidade total instalada. Ainda assim, verificamos um déficit de US$ 22 bilhões na balança comercial do setor em 2016, pois o nosso mercado é ocupado hoje por mais de um terço de produtos importados”, disse.
De Marchi ressaltou a importância dessa indústria de base para a economia brasileira, e observou que para cada um emprego criados na indústria química, outros seis são gerados no restante da cadeia. Com intuito de promover a expansão das atividades do setor, a ABIQUIM defende junto ao governo a criação de um órgão de planejamento setorial envolvendo o próprio governo, empresários e trabalhadores, que deve ser denominado de Grupo Executivo para o Desenvolvimento da Indústria Química (Gedic).
Outra demanda é a implementação do Programa Nacional de Gás Natural Matéria-Prima, a cargo do Ministério de Minas e Energia, proposta que conta com o apoio de 200 parlamentares. “Esperamos com essa iniciativa promova uma política industrial de longo prazo que incentive a retomada do crescimento do setor”, completou De Marchi.
Avaliação positiva
A 47ª edição do Congresso Mundial de CFOs foi um evento muito bem-sucedido, avaliou Fausto Cosi, Chairman da IAFEI. “Agradecemos e cumprimentamos o IBEF SP pelo alto nível dos oradores, a maravilhosa logística e hospedagem e o grande número de participantes. Nós da IAFEI estamos muito satisfeitos. Retornamos para a América do Sul após muito anos, e estou feliz por ver que o Brasil tem o espírito certo. O crescimento, não apenas do ponto de vista econômico, mas também de compartilhamento cultural e maior profissionalização são passos importantes para o progresso do país¨.