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Análise Preditiva: Um enfoque gerencial para a inteligência do negócio

A análise preditiva (PA – predictive analytics) é uma modelagem estatística baseada em dados existentes, construída para antecipar padrões e tendências. A aplicação dessa ferramenta para resolver problemas de negócio foi o foco do Seminário realizado pela Comissão Técnica de Controladoria e Contabilidade, em 28 de fevereiro. O evento, o primeiro das Comissões Técnicas no ano, teve patrocínio da SAP Brasil.

Cerca de 70% dos financeiros afirmam não ter utilizado ferramentas de análise preditiva ainda. É o que constatou a pesquisa “Predictive Analytics” conduzida pela referida Comissão Técnica do IBEF SP, em parceria com a Talenses, em junho de 2017, que ouviu 205 ibefianos. Ainda assim, a maioria dos respondentes afirmou saber que a PA serve para fornecer insights para a tomada de decisão; e, para, 62% deveria ser uma responsabilidade da área de finanças.

Decidimos então convidar CFOs de companhias experts nesse assunto, a SAP e a IBM, para explicar como podemos usar análise preditiva nos negócios”, destacou Paula Raya, líder da Comissão de Controladoria e Contabilidade, na abertura do evento.

A apresentação de Fernando Lewis, vice-presidente da SAP LAC, deu o tom do evento: “Cada vez mais o nosso objetivo, como financeiros, é investir menos tempo em atividades que não agregam valor, e mais em atividades diretamente alinhadas com o top-line, receita, margem, clientes e governança da empresa¨, notou. “O uso de análise preditiva é uma oportunidade para finanças fazer uma grande diferença na companhia, e ser o driver dessa mudança.”

Fernando apresentou as soluções Digital Core SAP S/4HANA e SAP Leonardo. Juntas, as soluções possibilitam processamento de dados da empresa em tempo real, em um único banco de informações, acessível por aplicativos amigáveis para celular e tablet. Assim, o executivo consegue simular diferentes cenários e seus impactos para a empresa, e tomar decisões informadas com agilidade, onde e quando estiver. É possível antecipar problemas, sejam relacionados a produto, market share ou caixa, e corrigir a rota ao longo do quarter, e não só depois que os resultados chegarem.

Aplicações em negócios – Os CFOs para o Brasil de duas gigantes mundiais de tecnologia, SAP e IBM, comentaram casos reais de aplicação da análise preditiva, combinada ao uso de inteligência artificial. O moderador do debate foi o consultor Vitor Fabiano, da VFabiano Consulting, que em sua vida executiva já dirigiu a área financeira de organizações como Cielo, Bunge, Magazine Luiza e Centauro.

Paulo Mendes, CFO da SAP Brasil, relatou o case com a Fibria, maior companhia mundial de produção de celulose de eucalipto. O desafio da empresa era como utilizar a PA para aumentar a produtividade do eucalipto. A empresa tinha um 1.6 bilhão de dados sobre plantio, clima, região e outras variáveis. Com o uso da ferramenta de análise preditiva, a Fibria reduziu o ciclo de planejamento de uma nova produção de dois meses para apenas dois dias. O retorno do investimento foi obtido em menos de 1 ano. “Esse projeto não envolveu cientista ou estatístico. Foi feito para a área industrial em parceria com a área financeira.”

Serafim de Abreu, CFO da IBM Brasil, comentou o case com O Boticário, rede de franquias de cosméticos e perfumes. A empresa realiza, em média, 40 campanhas nacionais por mês. “Lançar um produto em 30 dias, colocar para produção, distribuir e fazer com que não se tenha perda nessa cadeia é um baita desafio”, destacou o CFO. Muito do trabalho envolveu integrar os elos da cadeia de valor e identificar onde a companhia poderia gerar mais demanda. Com o uso de dados estruturados da empresa (histórico de vendas e das regionais), e dados não estruturados (de redes sociais, previsão de tempo etc), aplicados no modelo de PA, O Boticário passou a ter uma posição muito mais assertiva sobre os resultados de suas campanhas.

Aplicação na área financeira – Para os departamentos de finanças, o grande desafio ainda consiste em eliminar o “sistema avançado de planilhas”, como citou com bom humor Vitor Fabiano. Assim, ele perguntou aos CFOs da SAP e da IBM o que têm feito em prol dessa transformação em suas próprias áreas.

Uma lição aprendida, destacou Serafim de Abreu, é que o CFO não precisa esperar sua vez na fila de projetos do CIO para iniciar a mudança. Sob sua gestão, a área financeira da IBM Brasil implementou duas inovações: o uso de ferramentas analíticas e preditivas para fazer modelagem de preços para special bids mais bem-sucedidas, mantendo o lucro; e o uso dessa tecnologia, aliada à inteligência artificial Watson, para criar um modelo de previsão de budget, o que tornou essa atividade muito mais assertiva. “Quem desenvolveu esse último projeto foi um analista financeiro e dois estagiários, não uma pessoa de TI.”

Já Paulo Mendes destacou o uso na SAP Brasil de uma combinação de análise preditiva com machine learning para a baixa do contas a receber (cash application). ¨Imagine a francesinha do banco vindo, e você nem sempre ter a certeza de que ela vai bater com perfeição com o contas a receber. Porque às vezes o cliente reteve um tributo que não deveria ou pagou menos por não concordar com o valor da nota. Como você vai saber que aquela entrada pertence a um determinado ativo no seu contas a receber? Se a máquina entender esse  comportamento, como você fez a alocação e os parâmetros utilizados para uma determinada operação, ela conseguirá fazer aquela baixa de forma automática da próxima vez.”

Por onde começar – Mas como o CFO pode iniciar essa jornada, transformando a salada de números que a empresa possui em informações e insights úteis? Paulo Mendes deu duas dicas: primeiro definir qual é o problema de negócio a ser resolvido. Com isso em mente, a segunda dica é selecionar e tratar os grupos de dados que podem realmente virar informação útil – e base para a tomada de decisão. Depois, escolhe-se a ferramenta de PA.

Serafim de Abreu enfatizou que é fundamental ter inteligência do início ao fim, garantindo a qualidade do dado que vai entrar na ferramenta de PA. E sobre esse aspecto, compartilhou uma curiosidade: ¨Nossos estagiários não são mais estudantes de administração, economia, contabilidade…. São matemáticos e estatísticos, pois eles farão a curadoria dos dados, para que a tecnologia possa gerar o resultado analítico e o insight, na ponta, que ajudará a melhorar a tomada de decisão.¨

Retorno sobre o investimento – Como o CFO está sempre de olho na gestão dos custos e do payback, foi inevitável a pergunta da plateia sobre os custos para implantar esse tipo de tecnologia.

Paulo Mendes incentivou os executivos a verem o investimento com a perspectiva de colher mais eficiência no futuro, e não como o custo, por exemplo, de manter uma máquina funcionando. “O custo existe, mas eu diria que é menos alavancado do que ter o ativo. E é mais fácil de ligar e desligar. Hoje existe o conceito de pay as you go – se você utiliza, paga, e se não usa, não paga. É uma nova cara do investimento em tecnologia.”

Serafim reforçou que as empresas de tecnologia sabem que as organizações buscam retorno exponencial – e rápido – para esses investimentos. “Há 10 anos, para investir em tecnologia você tinha que adquirir hardware, investir no software, investir na manutenção, mesmo se aquilo ficasse boa parte do tempo ocioso…  Hoje a tecnologia é mais flexível, escalável e, com o advento da nuvem, pode estar em qualquer lugar. Hoje se consegue, muito mais, conectar o investimento em tecnologia com o dólar obtido de receita para a companhia.¨

Vitor Fabiano lembrou que o crescimento de custo fixo costuma ser um dos principais desafios de qualquer negócio. “Essa nova abordagem de precificação vai ao encontro da expectativa das empresas de poder utilizar instrumentos sofisticados, que obviamente têm um custo alto para serem desenvolvidos e disponibilizados, de uma maneira acessível e com custo variável, pagando por uso. E essa é uma tendência global; não só da área de tecnologia”, acrescentou o moderador.

Considerações finais – Serafim  de Abreu destacou que a mudança de cultura na empresa vem do topo. E o CFO é hoje um agente de transformação nas organizações, atuando de forma estratégica e tática. “Se antes o CFO era conhecido por ter “a chave do cofre”, hoje ele tem a chave dos dados. Muitas empresas colocam a função de CTO (Chief Technology Officer) embaixo do CFO, porque ele é o detentor da informação.¨

Paulo Mendes acrescentou que alguém precisa colocar a inteligência na máquina. Por mais que a tecnologia avance, assimilando atividades de hard finance, o gut feeling, a tomada de decisão é do ser humano. “A função financeira também vai se transformar. O lado das soft skills, de inteligência emocional, começa a crescer, a ser mais explorado.¨

A grande oportunidade, para os executivos financeiros, é baixar a guarda, entender todo esse instrumental que está sendo disponibilizado, e qual o gap entre acessar as maravilhas dessa tecnologia e o que pode ser feito, dentro da realidade da empresa, para chegar no mínimo para começar a usufruir seus benefícios, observou Vitor Fabiano. “Sabendo quão longe podemos ir, isso certamente vai se traduzir em estímulo para que possamos preparar nossas empresas para acessar essas tecnologias que podem melhorar tanto o nosso processo decisório e trazer benefícios, e nos ajudar como CFOs, a contribuir de forma definitiva e relevante para a geração de resultado da empresa¨, concluiu Fabiano.

 

(Reportagem: Débora Soares / Fotos: Mario Palhares)

 

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