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Andrea Spinelli, diretora financeira Latam da Netflix, compartilha aprendizados em Mentoring do IBEF Jovem

Definir valores; usar performance para criar uma reputação; investir em relacionamento; adaptar-se e ser flexível; e nunca subestimar a cultura de uma empresa ou país foram alguns dos aprendizados que Andrea Spinelli, diretora financeira Latam da Netflix, compartilhou durante Mentoring IBEF Jovem, realizado no dia 18 de novembro e patrocinado pela Antecipa. 

Ela destacou sua longa trajetória, em que passou por empresas importantes até chegar à posição atual na Netflix, contando todos os desafios que enfrentou nesse processo. “Nossa jornada não é só profissional, é uma jornada de vida”. Andrea disse ainda que além de entregar e fazer um bom trabalho, é preciso se divertir, falhar e ter aprendizados.

O primeiro desafio foi na escolha de sua formação, passando pela faculdade de comunicação social, na qual não se formou, e se graduando em 1999 em administração de empresas pela FEA/USP. “À época, pensei também em arquitetura, mas acabou se tornando um interesse pessoal”, disse, ressaltando que a escolha pelo curso de administração teve influência de seu pai. “Quando eu olho para trás, não sei se consegui exercer todas as minhas liberdades de escolha”. Ela ressaltou, contudo, que acabou se identificando muito com a parte de ficar atrás dos números e fazer uma carreira em finanças.

Início de carreira – Andrea disse que administração de empresas foi o curso mais amplo possível para depois pensar em uma especialização. E a partir do segundo ano de faculdade, ela já começou a fazer estágio. “Algo que ninguém consegue tirar de ninguém é o conhecimento. Eu criei um framework de como seria minha carreira, minhas ambições. Eu tinha o objetivo de ter uma exposição internacional, chegar a um cargo de liderança e aprender cinco idiomas antes dos 35 anos. Atingi alguns, voltei atrás em outros, e ainda tenho um idioma para aprender. Hoje, além do português, falo inglês, francês e espanhol”, contou.

Seu primeiro estágio foi na empresa de software de planejamento de recursos empresariais J.D. Edwards, atuando na área de serviços. Foi quando Andrea percebeu que alguns pontos importantes sempre despertaram sua curiosidade, como balancear o importante e o urgente, e o foco no cliente. Assim, Andrea entendeu o quanto o relacionamento é importante para saber onde alocar um recurso escasso, que era o recurso humano, para que o negócio ande. “Observando, aprendi por que determinadas necessidades geram impacto em todo o negócio”.

No estágio, Andrea criou ainda um networking que proporcionou muitas outras oportunidades na indústria de tecnologia. “Na época, ainda se almejava trabalhar no mercado financeiro, e minha ambição era trabalhar em banco. Partindo das minhas fortalezas, que incluía falar francês, apliquei e fui recrutada para trabalhar no Société Générale”, contou. Lá, ela ficou focada na parte de controle.

Na época, ela descobriu que ela não se identificava com o ambiente e com que seria esperado de sua atuação no mercado financeiro, e acabou indo para a PeopleSoft, empresa também focada em software de gestão, mas voltado para recursos humanos, convidada por seu ex-gerente na J.D. Edwards. Andrea atuou como gerente de contas júnior, acompanhando clientes que já estavam com o software em produção, em busca de oportunidades comerciais tais como upgrades de versão e renovação anual dos serviços de suporte. “Nessa época, descobri o quanto a colaboração faz com que o profissional possa ter e oferecer uma jornada, desenvolvendo espírito de trabalho em equipe, estando do lado do time como um todo”.

Andrea ainda percebeu uma característica forte de organização, fazendo com que ela mudasse o foco do cliente externo para o cliente interno, e assim teve a oportunidade de estruturar e implantar uma nova área de operações. “Tive a oportunidade de inaugurar essa área na PeopleSoft. Eu me reencontrei com planilhas, forecast, números e análises”, declarou.

Ética – Passando pelos aprendizados de colaboração e trabalho em equipe, Andrea passou a atuar na organização dos fluxos de informação da PeopleSoft, que tinha acabado de fazer uma aquisição de uma companhia nos Estados Unidos e que, no Brasil, tinha um distribuidor local. “O negócio havia sido estruturado para fazer uma cessão de direitos”. Na ocasião, Andrea detectou uma fraude na transação, e isso deu visibilidade para ela dentro da empresa. Assim, ela iniciou um relacionamento de confiança com um gerente que atuava em Miami, que percebeu seu valor ético.

Nessa época, Andrea foi para Miami, e após passar por todo um processo para atuar lá, fez uma escolha pessoal de permanecer no Brasil. “Não importa o que você almeja, você precisa conciliar a vida profissional e pessoal”. Assim, tomou a decisão de postergar a experiência internacional que tanto almejava. “Essa foi uma lição difícil e inesperada, e verdadeira para qualquer etapa na carreira”, disse.

Experiência no exterior – Dois anos depois, Andrea teve novamente a chance de ir para o exterior em uma oportunidade de atuar no centro de serviços compartilhados da PeopleSoft nos Estados Unidos ou na Europa. Ela optou em ir para a Europa, dentro deste centro de serviços compartilhados estabelecido na Holanda, e sofreu o efeito colateral inesperado de ter se tornado “analfabeta” por não saber ler nem escrever holandês. “Essa foi uma experiência extremamente enriquecedora para aprender a pedir ajuda, ter mais empatia, ampliando a capacidade de repensar além da zona de conforto e a realidade conhecida previamente”, disse.

Em Amsterdã, ela teve oportunidade de melhorar a implementação de um sistema de administração de contratos e projetos, experiência da qual levou muitos aprendizados. “Um sistema nunca vai ser estático, e vai mudar porque as necessidades de negócio evoluem. Escutar seu cliente, seja ele interno ou externo, te faz identificar oportunidades de melhorias”.

Recrutamento – Em um determinado momento, a PeopleSoft foi adquirida pela Oracle, empresa que na visão da Andrea não tinha as características de um lugar onde ela gostaria de trabalhar e, assim, com transparência com seu gerente, ela decidiu voltar ao Brasil. Na busca por recolocação no mercado, ela conheceu um profissional da Michael Page que a convidou para atuar com recrutamento e seleção.

No desenho de cenários que ela tinha como opção, ela avaliou que seria positivo atuar na Michael Page, onde permaneceu por 9 meses como recrutadora em finanças. Andrea destacou que não se identificou com o trabalho por se sentir responsável pela recolocação de pessoas no mercado. “Falando de cultura, eu tenho esse inconformismo dentro de mim e sempre busco um olhar para ser mais eficiente e ou mais efetiva, e nem sempre isso vai de encontro com o que é esperado da sua função”.

Retorno à área financeira – Olhando para seus pontos fortes, com foco em colaboração, tendo atuado em estruturas de FP&A, administração de contratos e acompanhamento de lucratividade e margem, Andrea se deparou com uma vaga na Lexmark, para onde foi contratada como business controller da área de suprimentos. Lá, ela ficou por cerca de 1 ano, quando um diretor da antiga PeopleSoft, atual Oracle, a convidou para atuar na mesma função de business controller para Brasil e México, para suportar a área de negócios de consultoria da companhia. “Na época, a oportunidade era expandir seu escopo e cuidar de América Latina, e também vivenciar crescimento. A Oracle cresceu muito com estratégia de aquisição”, disse. 

Andrea foi para a Oracle, onde permaneceu de 2005 a 2011, e diz ter aprendido sobre eficiência operacional. “Tudo era focado em processo lá dentro. Nesse período, a Oracle tinha comprado 56 empresas, nem todas tinham reflexos na América Latina, mas diversas integrações foram realizadas”, disse, destacando o desafio de incorporação e mudança de controle das aquisições. “Havia todo um framework para avaliar força de trabalho, contratos, como migrar e trazer projetos em andamento para dentro de casa, de forma que muito rapidamente a empresa comprada deixasse de existir”.

Na Oracle, Andrea também aprendeu como escalar um negócio simplificando, padronizando e centralizando atividades. “Foi a empresa que eu vejo que mais me permitiu um crescimento vertical em pouco tempo. Foi onde consegui ter um cargo de diretoria antes de atingir os 35 anos, que era meu plano no início da carreira”.

Segundo ela, como a empresa tinha processos muito consolidados, havia uma necessidade de adequação, e ela atuou para levar processos e atividades novas para seu time, ganhando recursos e crescendo, chegando à posição de diretoria com um escopo mais amplo. “Aprendi que não adianta apenas ser reativo, mas se antecipar a problemas, buscando maior previsibilidade e pensar em otimização para que o melhor resultado da companhia seja atingido”.

Andrea destacou ainda os desafios relacionados à cultura, não tão colaborativa quanto ela gostaria que fosse, e que fizeram com que ela repensasse sua atuação na companhia diante do propósito que havia estabelecido para si mesma. Assim, Andrea migrou para a Microsoft, para uma posição no Brasil, reduzindo também seu ritmo de viagens para fora do país, que estava elevado. Na Microsoft, ela contou que teve aprendizados importantes durante a reestruturação da área de negócios que atendia, controles necessários para outsourcing e compliance.

Andrea estruturou também a área de compliance da subsidiária brasileira, com uma jornada de educação e conscientização do porquê compliance deve estar embutido no desenho de processos e sistemas para obtenção de controles automatizados, uma gestão de riscos efetiva e melhor tomada de decisão em todos os níveis da organização.

Relacionamento – Em 2013, Andrea se juntou ao Facebook, onde se deparou com um volume transacional imenso na parte de publicidade online, requerendo muito mais tecnologia para pensar em automação e escala. Ela destacou que a pandemia hoje intensifica muito a questão online e de digitalização, independente do setor de atuação. Ela contou sobre o aprendizado com o uso de machine learning na parte de crédito e cobrança, além de suporte a fornecedores e clientes.

Andrea disse que sua performance nas companhias foi o que criou sua reputação, mas foram seus relacionamentos que a fizeram ter influência para mudar e ter uma trajetória profissional ascendente. “Você não vai conseguir ascender se não tiver os relacionamentos certos para ser reconhecido pelo trabalho que você faz”.

Ela destacou que o desempenho é o que leva o profissional até um patamar, mas em posição de liderança, não é isso que importa mais, e sim como todos que estão abaixo de você compartilham uma visão de futuro para atuarem alinhados e com autonomia. Hoje, Andrea está na Netflix, onde ela viu a grande oportunidade de aprender sobre o negócio de entretenimento.

Design principlesConhecer suas fortalezas, tomar cuidado com o perfeccionismo, ser humano, autêntico e genuíno, e pensar no próximo passo antes dele ser necessário foram mais alguns aprendizados que Andrea compartilhou durante o mentoring. Ela destacou ainda alguns princípios que desenhou durante sua trajetória: “nada é um problema do outro, é um problema de todos”, disse. 

Outro ponto é “done is better than perfect“, ou seja, mesmo que não seja uma solução completa, valorize a entrega parcial e repense ou repriorize já com maior eficiência em mãos. Ela citou a importância da priorização; da humildade de avaliar que é sempre possível fazer melhor, reconhecendo que aprendizados fazem parte da jornada; e de sonhar grande. “Se você não sonhar grande, talvez você fique limitado em tudo que é capaz de resolver na sua vida e na inspiração que pode trazer à equipe”.

Andrea ressaltou a necessidade de encontrar um propósito. “Atue em algo que seja significativo para você e para o seu entorno”, disse. “Se eu for pensar em propósito, é como eu sempre me transformo em uma pessoa melhor e transformo pessoas também, de acordo com os objetivos que elas têm”. Ela compartilhou sua visão de que o aprendizado vem dos erros, mais do que dos acertos. “O mais valioso é como compartilhar isso com as pessoas para que elas possam evoluir”.

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