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O cenário de turbulência política e crise institucional gera incertezas que ameaçam afastar o tipo de investidor que o Brasil mais necessita: o com visão de longo prazo.
A percepção de investidores estrangeiros sobre o País, em especial asiáticos, bem como as oportunidades nas relações comerciais entre China e Brasil foram abordadas na reunião da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos, realizada em 13 de abril.
O debate teve como convidado Hsia Sheng, vice-presidente do Bank of China e professor associado da FGV EAESP. A moderação foi realizada por Igor Bueno, gerente sênior de Tesouraria da Rio Tinto, e novo líder da Comissão de Tesouraria.
Investidores querem clareza – Para os investidores asiáticos não é a depreciação cambial ou a taxa de juros corrente o que realmente conta para decidir sobre realizar ou não investimentos de longo prazo em um país, por exemplo na área infraestrutura, observou Sheng.
“O que importa é a estrutura institucional do país; o quanto ela está blindada internamente por suas instituições e mercado, e a estabilidade política; isso tem que estar muito claro”, afirmou o especialista em finanças internacionais.
“Acredito que, neste momento, no Brasil, há incerteza muito grande quanto a essa questão de instituições e quanto à questão política. Isso afeta mais os investidores asiáticos, especificamente os chineses, do que outras questões”, acrescentou.
Oportunidades no atual cenário – O Brasil tem muitas oportunidades no comércio internacional, ressaltou Sheng.Para melhor aproveitá-las são necessários esforços, tanto para aumentar o investimento em tecnologia, como incentivar a internacionalização das companhias nacionais.
Dentre as oportunidades mais evidentes está o boom das commodities. “Commodities de qualquer natureza estão sendo extremamente demandadas. Inclusive isso vai dar base para o crescimento econômico no Brasil, com as exportações”, destacou.
Refutando o argumento de que commodities não agregam valor, ele observou que já existem tecnologias para mudar esse cenário. Contudo, os poucos investimentos dedicados à pesquisa, desenvolvida em instituições como a Embrapa, são insuficientes. Assim, mesmo sendo um grande player natural, o país perde a oportunidade de liderar em áreas como biotecnologia e sustentabilidade, para nações que investem mais.
Inserção na cadeia tecnológica global – Outra oportunidade ressaltada pelo professor está na área de software e o enorme mercado brasileiro ligado a fintechs, meios de pagamento e moedas digitais.
Iniciativas do Banco Central para novos meios de pagamento, a exemplo do Pix, e a implementação do “open banking” reforçam esse potencial. “O open banking cria mais custos de transação para os bancos, mas facilitará muito a vida das empresas”, ressaltou Sheng. Questões do dia a dia, como dedicar recursos humanos para acessar diferentes contas e fazer o match do fluxo de caixa, poderiam ser simplificadas.
O País também conta com diversos pólos regionais de tecnologia, mas que trabalham de forma isolada, dificultando a criação de um ecossistema. “Temos players globais que necessitam dessa mão de obra excelente do Brasil, mas é algo pouco conectado”.
Olhar para o futuro – Ligando essas pontas está a questão de infraestrutura. Sheng observou que o Brasil está atrasado em relação a outras nações, o que gera custos de transação para as empresas e dificulta o comércio internacional.
Contudo, o foco de investimento não pode ser apenas em resolver o atraso, mas também levar o país para o próximo nível na cadeia global de tecnologia. “Tenho certeza que se o Brasil quiser ter o investidor estrangeiro, fazer parceria com qualquer país do mundo, terá muitos cientistas interessados em investimento para agronegócio, agrotech, genética e outras oportunidades”.
A apesar da turbulência política – e algumas gafes diplomáticas, o Brasil não está em má situação com a China, avalia o professor. Ele destaca que as duas nações são complementares e trabalham juntas há muito tempo, independente do governo.
Já as empresas brasileiras precisam de mais apoio governamental para sua internacionalização, em questões como incentivos tributários, impacto da variação cambial nos balanços, e simplificação das contas para moedas estrangeiras.
“O Brasil tem que dar incentivo aos empresários que querem se engajar na cadeia global, ou corre grande risco de ficar de fora, principalmente na área digital”, ressaltou o professor. “A China, assim como outros países que se relacionam com o Brasil, estão dispostos a fazer parcerias. É preciso preservar isso”, completou, observando que o país deve dar mais atenção a seus parceiros internacionais.
Remodelação das Comissões Técnicas
O líder da Comissão de Tesouraria e Riscos, Igor Bueno, apresentou a nova proposta das Comissões Técnicas do IBEF SP. Esses núcleos darão suporte para uma abordagem mais consultiva do Instituto, como referência na área financeira. A nova pauta de trabalho envolve temas como transformação digital, M&A, reforma tributária, reskilling, ESG, open banking e riscos. ¨Todos esses assuntos serão abordados pelas CTs nos próximos meses, e com isso gerar maior proposição de valor no Instituto”, completou Bueno.