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Atuando na Coca-Cola há 25 anos, Bruno Sekeff compartilhou em mentoring do IBEF Jovem sua trajetória até se tornar CFO da Leão Alimentos e Bebidas, uma joint-venture entre The Coca-Cola Company e seus fabricantes no Brasil. Nascido no Rio de Janeiro, Bruno é formado em Economia pela UFRJ e inicialmente tentou conciliar a faculdade com o curso de jornalismo na parte da tarde. Contudo, ele percebeu que seria importante se dedicar à primeira faculdade e começou a trabalhar aos 17 anos, deixando, assim, a literatura como hobby.
Ele destacou que o primeiro grande aprendizado que teve foi a determinação, quando saindo da sua escola de bairro para uma escola grande, na zona sul, passou a ter aulas de francês (obrigatório na época). “Nunca havia estudado francês e tirei nota 1. Corri atrás, não podia decepcionar meus pais. Finalmente, tirei um 7 e a professora fez questão de me parabenizar em público. Passei a amar o francês. A crença dos outros em você é um grande combustível”.
Diante de sua trajetória até a Coca-Cola, Bruno teve passagem pela Arthur Andersen e BankBoston e realizou um mestrado em engenharia industrial na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, outro grande desafio que enfrentou. “Inicialmente tive dificuldade de entrar no mestrado por ser formado em Economia e não ser engenheiro. Mas o mestrado era pré-requisito para atuar na Coca-Cola”.
Com determinação, Bruno foi aceito no mestrado e começou a trabalhar na Coca-Cola de 8h30 até 20h30, estudando para sua tese no resto do dia. “Não existia life balance; empregado bom, nessa época, era aquele que ficava até tarde. Eu trabalhava muito na Coca, o que não era problema para mim, pois eu tinha prazer em estar lá”, destacou. Nesse período, Bruno passou por muitos desafios no departamento de engenharia industrial. “Eu sou muito persistente, e às vezes a persistência supera o talento, pois você nasce com o talento, mas se você correr atrás você consegue chegar lá, e a persistência e determinação muitas vezes se equiparam e superam o talento”, contou.
Carreira na Coca-Cola – Após defender sua tese no mestrado, ele seguiu sua carreira na Coca-Cola, onde está até os dias atuais. “Entrei como analista júnior, e estou há 25 anos na Coca, e na verdade não vi esses 25 anos passarem”, relatou Bruno. A sua experiência na companhia conta com oportunidades, mas também dificuldades em relação ao mercado. “A gente começou a enfrentar a concorrência das marcas locais e o market share despencou”. Diante das dificuldades, foram pensadas estratégias para consolidar o sistema Coca-Cola no Brasil, o que foi um trabalho de dois anos focado no Nordeste e, diante desse projeto, Bruno contou que teve grandes aprendizados. “Eu guardei comigo esse expertise”, disse. Na época, ele ainda atuava como especialista em finanças mas estava cercado de “gente muito competente e aquilo só me agregava conhecimentos”.
O processo de consolidação dos franqueados começou em 1998 e havia, no Brasil, muitas oportunidades para capturar em economia de escala, sinergias de estocagem e distribuição, etc… Assim, Bruno contou que houve um trabalho junto aos fabricantes que gerou muito aprendizado em sua carreira. “Aprendi que quando uma empresa quer ou quando um sistema junta forças, potências que até então eram desconhecidas são liberadas. Fizemos um belo trabalho de entender por que estávamos perdendo market share e o processo de consolidação andou. A Solar hoje é o segundo maior fabricante no Brasil e abrange todo o Nordeste”.
Ele contou com detalhes os desafio da Coca-Cola que foram superados. “A grande lição que aprendi é que o jogo parecia perdido, e na época tivemos grandes pessoas com visão de unificar o time e a força de trabalho em uma única direção e, assim, viramos o jogo”.
M&A – Na época, houve ainda uma mudança na tendência do consumo de refrigerantes, com o consumidor buscando alternativas mais saudáveis. Nessa época, a companhia começou a ver oportunidades de M&A abrangendo outras categorias. “Começamos esse processo em 2005 e eu tive esse expertise com aquisições no setor de água, suco e chá. Meu papel era liderar esse processo de aquisições, de valuation, o business case era vendido lá pra fora, fazíamos a parte de due diligence e signing, e foi muito gratificante. Quando digo que eu não vi meu tempo passar na Coca foi porque a gente foi responsável por todo esse processo”, destacou.
Bruno contou ainda sobre todos os processos de negociação dos quais participou durante essa fase de aquisições. “Quando você está no meio de uma negociação, escolha bem que guerras quer ganhar e que guerras aceita perder. Às vezes, é preciso ceder um pouco, para ganhar muito mais lá na frente…” Com um bom background em M&A, Bruno adquiriu boas experiências na área de finanças mas percebeu que cada empresa tem suas fortalezas, seja tesouraria, sistemas, e para ser um CFO faltava preencher alguns gaps. “Faltava uma parte que era ser o dono da operação. E foi quando apareceu a oportunidade de ir para a Leão, que tem uma imensidão de funcionários, cinco plantas, e me foi oferecida essa operação”, disse. Assim, o outro desafio que Bruno enfrentou foi o de se mudar do Rio de Janeiro para São Paulo.
Transição para CFO – Bruno contou que na área de finanças já possuía bastante experiência, mas tinha uma parte que não tinha total domínio, que era controladoria, tesouraria, e isso é necessário para ser um CFO completo. “Uma coisa que aprendi é que você não pode ter vergonha de perguntar e mostrar que não sabe”, disse. “Estamos sempre aprendendo e as pessoas gostam de saber e se sentem valorizadas quando veem que você aprende com elas. Quando aprendo com um funcionário meu e ele sabe que me ensinou, aquilo é bom para mim e para ele.”
Assim, Bruno sempre buscou se manter cercado de pessoas boas. “Você não precisa ser brilhante. Em 25 anos de Coca-Cola, eu vi presidentes serem elogiados porque se cercaram de pessoas certas, tiveram humildade de deixar cada um fazer seu papel e não centralizaram o poder. Isso pode catapultar um presidente a um nível de reconhecimento, e para isso é preciso jogar com seu time e saber suas fortalezas e fraquezas. O melhor incentivo é o reconhecimento”. Bruno contou ainda que a Coca-Cola passou por grandes transformações e sempre buscou estar ligada nas necessidades dos consumidores. “Reduzimos a quantidade de açúcar em nossas fórmulas, incentivamos o portfólio de bebidas zero, e achamos soluções para melhorar a vida do consumidor”.
Diferencial como líder – Segundo Bruno, há uma tendência de centralizar decisões na medida em que se vai ascendendo na carreira. “Isso é ruim, pois quando você centraliza, acaba deixando alguma frente descoberta, tira poder da sua equipe, que se sente desprestigiada. Eu aprendi que isso não era eficiente e eu procuro descentralizar. Eu tenho uma staff meeting e deixo minha equipe livre para agir dentro de sua alçada, delegando responsabilidade”, disse.
Além disso, ele reforçou que o líder não precisa ter vergonha de perguntar ou de propor coisas malucas. “Gosto que minha equipe perceba que aprendo tanto com eles quanto eles comigo”. O terceiro ponto destacado por Bruno é que o líder deve ser acessível. “Um líder deve também elogiar seus funcionários, pois o poder de um elogio é muito forte”.
Bruno destacou que os líderes precisam ter uma agenda inclusiva, e dentro da empresa é preciso ter disposição e disponibilidade para isso acontecer. “Na Coca-Cola temos a liderança feminina e isso é perseguido e literalmente declarado. Existe uma agenda própria para que se consiga vencer essa barreira e ter mulheres, por exemplo, em posições de comando na companhia. Além disso, há diversidade sexual, racial, e isso precisa estar dentro de uma agenda na empresa, pois senão não vai ocorrer naturalmente”.
Crise – Na questão da pandemia, que pegou a todos de surpresa, o mercado sofreu muito, e Bruno destacou que, primeiramente, o que foi feito foi salvar o caixa em uma corrida com clientes e fornecedores. “Determinados consumos aumentaram muito, o que ajudou a equilibrar um pouco. A gente se valeu de tudo o que as medidas provisórias nos deram, como redução de jornada de trabalho, antecipação de férias, parcelamento de imposto, etc. e atravessamos bem. Tenho certeza que o pior ficou para trás e também aproveitamos para adequar a operação. Eu era avesso ao home office e agora eu acho que funciona, estou fazendo home office há 6 meses, mas sinto falta de estar com minha equipe. Sinto falta do tapinha nas costas e do sanduíche de mortadela toda sexta-feira”, disse.
Ele ressaltou a importância de contato com a equipe, e que há a possibilidade de se manter um meio termo entre trabalho remoto e trabalho presencial após a pandemia. “Você ganha qualidade de vida, economiza em tempo de deslocamento. A crise tem as coisas boas e eu descobri que dá pra trabalhar em casa e ser produtivo”, complementou Bruno.