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Evento com especialistas realizado pelo IBEF Mulher discutiu oportunidades de aplicação de recursos no atual momento e perspectivas para a economia brasileira.
No atual cenário de queda da taxa básica de juros, há opções interessantes para investimentos em renda fixa, fundos multimercados, fundos imobiliários e ações, afirmou Pier Luiz Mattei, sócio-fundador da Monte Bravo Investimentos. Confira as recomendações do especialista:
Renda fixa – A tendência natural para o investidor é a diversificação para títulos de crédito privado, que podem gerar rentabilidades maiores em relação aos títulos públicos. Nessa categoria, destacam-se os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e de Agronegócio (CRA), cujos rendimentos além de atrativos contam com isenção de imposto de renda. Em geral, esses instrumentos têm sido utilizados por empresas brasileiras de rating elevado para fazer captações a custos mais baixos. Em relação a segurança, esses títulos podem oferecer ao investidor garantias reais como imóveis, safra e recebíveis, a depender da operação.
Outra linha de destaque são as debêntures incentivadas voltadas para infraestrutura, também alternativas com rentabilidades interessantes e isenção de IR. Há títulos disponíveis no mercado que oferecem remuneração IPCA + taxas superiores a 6%, algo bastante atrativo neste cenário de juros menores, observou o consultor.
Fundos multimercado – Alternativa para investidores que estão dispostos a conviver com mais volatilidade nos seus investimentos visando retornos maiores. Esses fundos têm a flexibilidade de operar em diferentes estratégias e mercados, podendo investir em juros, câmbio e ações dentro e fora do País. Em cenários de queda de juros, como atualmente, esses fundos costumam apresentar melhor performance, com rendimentos que podem superar e muito a renda fixa tradicional, podendo render dependendo do perfil do fundo mais de 150% do CDI em alguns momentos.
“Como acessam vários mercados, inclusive internacionais, esses fundos podem agregar mais diversificação e sofisticação à carteira do investidor”, observou o especialista. “Hoje já é possível acessá-los com uma aplicação inicial baixa. Importante procurar fundos que comportem o nível de risco que você está disposto a assumir.”
Fundos imobiliários – Comunhão de recursos cujo destino será investimentos em ativos ou empreendimentos imobiliários como galpões, lajes corporativas, shopping centers, etc. Segundo Mattei, a beleza desse veículo é permitir ao investidor acesso a aplicações nos mais variados tipos de imóveis. “Existem fundos com R$ 1 bilhão de ativos, o que possibilita melhores negociações, e gestores especializados em mercado imobiliário.”
Dentre as vantagens dessa alternativa está a isenção de IRPF nos rendimentos mensais e a liquidez para negociação das cotas em Bolsa. “O grande atrativo é a possibilidade de ganho maior de capital associado a esse tipo de investimento, comparado ao rendimento médio obtido com um imóvel para locação, por exemplo.”
Ações – Há duas grandes razões para o momento de otimismo no mercado de capitais, destacou Mattei. A primeira está no cenário externo favorável: há perspectiva de crescimento global e a liquidez continua abundante. A segunda está no cenário interno: a taxa de juros segue em queda e atingiu seu menor patamar em quatro anos (8,25% a.a.), os indicadores de atividade econômica apontam recuperação, e o Ibovespa bateu máximas históricas em setembro.
A última safra de resultados das empresas surpreendeu positivamente, ressaltou Mattei. Ele observou que a maioria das companhias está com capacidade ociosa, o que possibilitará ganhos de produtividade com baixo investimento. Outra tendência é que a demanda por ações irá crescer, puxada por investidores institucionais em busca de maior rentabilidade. “Quem está esperando o mercado estar em uma situação melhor para investir, pode estar perdendo oportunidades”, assinalou, sem deixar de alertar que a escolha das aplicações deve estar alinhada ao perfil de risco do investidor.
Economia de volta aos trilhos
Após enfrentar dois anos da maior recessão de sua história, a economia brasileira começa a apresentar sinais consistentes de recuperação: gradual retomada da atividade industrial, desemprego em queda, e aumento da confiança por parte de consumidores e empresários.
Mas é preciso correr com a agenda de reformas para que o crescimento perdure no médio prazo e não seja mais um “voo de galinha”, alertou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, em palestra realizada no evento.
Após o desvio sofrido nas gestões Dilma Rousseff, a política econômica finalmente voltou a caminhar nos trilhos. Mas o desafio fiscal é imenso e impõe uma agenda urgente de reformas estruturantes no curtíssimo prazo.
“Existe uma regra de ouro: esta geração não pode deixar a fatura para próxima, o Estado não pode gastar mais do que arrecada. Estamos batendo nessa regra de ouro. Por isso o esforço do governo para o BNDES devolver parte dos recursos transferidos pelo Tesouro nos últimos anos”, observou a economista.
O déficit primário do setor público representa 2,5% do PIB (R$ 158 bi), e o déficit recorrente, que exclui receitas transitórias, está em torno de 3,2%. Enquanto isso, para estabilizar a dívida pública como proporção do PIB, seria necessário um superávit primário de 1%. O esforço fiscal necessário seria, portanto, equivalente a 4% do PIB.
Se o desequilíbrio não for solucionado, o Brasil corre o risco de se ver em uma situação de calamidade financeira semelhante à enfrentada pelo governo do Rio de Janeiro, onde faltam recursos para as políticas públicas e pagamento de salários e aposentadorias. “E isso é para já”, alertou Zeina.
A boa notícia é que o governo federal já deu início a essa agenda de reformas nos campos macro e microeconômico. A aprovação da emenda constitucional do teto de gastos públicos, no final de 2016, foi importante para mostrar essa nova agenda ao mercado, mas não resolve o problema. Reformas estruturantes, como a da Previdência social, não podem mais ser adiadas.
Ela lembrou que o Brasil tem se beneficiado do bônus demográfico, com uma população majoritariamente formada por jovens. Esse fator permitiu ao País acompanhar o crescimento econômico do restante do mundo, mesmo com índices de produtividade estagnados desde a década de 1970. Porém, a partir de 2023 o número de jovens começará a encolher, enquanto a população idosa seguirá crescendo. Nas palavras de Zeina, será menos gente para carregar o piano, então cada um terá que ser mais musculoso, ou produtivo.
“O curtíssimo prazo é importante. O que está em jogo nas próximas eleições é muita coisa: temos uma pequena janela de oportunidade para o País voltar a crescer em um cenário estável de inflação baixa e queda de juros”, destacou a economista-chefe da XP.
O nível do debate econômico no País já melhorou muito, e essa será pauta inevitável nas eleições de 2018, afirmou Zeina. “O próximo presidente terá que ser um político comprometido em dar continuidade à agenda de reformas, e mais que isso: contar com credibilidade para conduzi-las”, arrematou, traduzindo as expectativas do mercado.
(Reportagem: Débora Soares)