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CEOs discutem cenário e perspectivas para o Brasil

Fotos: Mario Palhares/IBEF SP

O curto prazo não será fácil para as empresas, mas não se deve perder de vista as oportunidades no médio e longo – quando é esperada a retomada econômica do país após a realização de medidas corretivas como o ajuste fiscal. Essa foi a principal tônica da conversa com os executivos nº 1 de grandes corporações durante o Painel CEO’S, realizado na última sexta-feira (18), no hotel Hilton São Paulo Morumbi. Participaram do evento os presidentes Britaldo Soares (AES Brasil), Fernando Alves (PwC Brasil), Rodrigo Kede (Totvs) e Rômulo Dias (Cielo). O bate-papo com os líderes foi moderado pela jornalista Denise Barbosa, apresentadora do programa “Conta Corrente” no canal Globo News.

O evento foi patrocinado por BMW Serviços Financeiros, Carrefour, PwC e Swiss Re Corporate Solutions.

José Cláudio Securato, presidente do IBEF SP

Na abertura do painel, o presidente do IBEF SP, José Cláudio Securato, ressaltou que o país já passou por vários momentos de crise. No entanto, foram poucas as ocasiões em que teve dois anos seguidos de crescimento negativo do PIB – situação que deve se repetir neste ano como consequência da grave crise política e econômica.

A jornalista Denise Barbosa teve então a tarefa de provocar o debate com os CEOs sobre como a crise está afetando seus setores e, principalmente, quais os caminhos necessários para a recuperação.

Britaldo Soares, da AES Brasil, ressaltou que a dinâmica no setor elétrico foi muito intensa nos últimos anos, colocando as empresas sob pressão. Apesar de alguns movimentos de correção terem sido feitos, como os ajustes tarifários realizados este ano, a equação econômica é ainda um desafio interno para as companhias.

Denise Barbosa ao lado de Britaldo Soares (AES Brasil) e Fernando Alves (PwC)

 

Já Rômulo Dias, da Cielo, chamou atenção para o fato de que o índice de varejo ampliado produzido pela companhia tem demonstrado, mês a mês, a deterioração da performance do consumo – fato que reflete em todos os setores.

Mesmo reconhecendo o cenário difícil, Fernando Alves, da PwC Brasil, ressaltou que o somatório das crises vivenciadas atualmente – econômica e política – não deve fazer com que as empresas percam a perspectiva de futuro para o país. “Temos que enxergar além da crise e pensar em como podemos nos aparelhar para navegar por esse mar revolto”.

Em tom positivo, Rodrigo Kede, da Totvs, destacou que o setor de tecnologia vende soluções de eficiência e competividade e que continuará crescendo em meio à crise, ainda que em patamares inferiores aos registrado no passado. Ele observou que um dos principais fatores para o agravamento das dificuldades no plano econômico está no sentimento de incerteza gerado pela crise política.

Rodrigo Kede (Totvs) e Rômulo Dias (Cielo)

A segunda parte do painel abriu espaço para as perspectivas para 2016. Rômulo Dias afirmou que a visão da empresa é realizar os ajustes necessários e continuar investindo para se tornar uma organização ainda mais forte nos próximos anos. Já Fernando Alves, da PwC Brasil, também confirmou que a companhia pretende manter os investimentos em tecnologia e formação de pessoal. Ele destacou que o próximo ano poderá ser fortemente impactado, positivamente, se houver elevação do nível de confiança no país.

Questionado sobre quais devem ser as prioridades para que o país caminhe para a recuperação, Britaldo Soares destacou que o mínimo da agenda para o país que precisa acontecer é o ajuste fiscal. Rodrigo Kede concordou com a urgência da realização do ajuste fiscal e lembrou que o futuro do país também depende dos investimentos em educação. Ele reafirmou que sua empresa continua acreditando no país e manterá seus investimentos com perspectiva de médio e longo prazo – mas com o cuidado natural de uma maior atenção à gestão de custos.

Perspectiva econômica

Confirmado para o evento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não pode comparecer em função de compromissos de última hora em Brasília.

Denise Barbosa e Octavio de Barros (Bradesco)

O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, foi então convidado a fazer o fechamento do evento com uma profunda análise econômica. Em seu bate-papo com a jornalista Denise Barbosa, Octavio de Barros destacou quatro agendas que considera essenciais para o país.

A mãe de todas as agendas, destacou Barros, é a agenda da governança orçamentária. O desequilíbrio estrutural entre as receitas e despesa no país é óbvio. Por isso, ressaltou o economista, o país precisa enfrentar o desafio de criar um teto de crescimento para o gasto público total. As despesas não podem seguir crescendo sistematicamente acima do PIB nominal, alertou.

A segunda agenda destacada por Barros é a da produtividade. Dentro dessa agenda está a reforma tributária, considerada a “menina dos olhos” do ministro Joaquim Levy, e a educação com meritocracia. Neste último ponto, o economista citou o case de educação na cidade de Sobral, no Ceará, que conseguiu obter resultados de excelência compatíveis aos padrões europeus.

Os investimentos em infraestrutura estão no centro da terceira agenda mencionada pelo economista. E a quarta agenda consiste no aumento da potência política monetária do país.

Com relação aos movimentos do câmbio, Octavio de Barros mencionou que a perspectiva, em um cenário base de recuperação econômica (supondo que não ocorram fatores adicionais de stress ou rupturas), é que o dólar não continue crescendo fortemente por muito tempo. Dentro desse contexto, a expectativa é que o dólar encerre o ano no patamar de R$ 3,70 e termine 2016 em R$ 3,80.

Barros ressaltou que o cenário de dólar apreciado, uma vez que o país conta com um grande volume de reservas na moeda estrangeira, contribui para que o Brasil esteja vivenciando o maior e mais brutal ajuste do balanço de pagamentos de sua história.

CEOs respondem: qual a orientação para o time financeiro em 2016?

“Diminuir custo e despesa. De uma forma bastante concisa essa é a linha que temos que seguir porque em um momento como esse é preciso “emagrecer” e reduzir o custo de captação da companhia”, Rômulo Dias, presidente da Cielo.

“Foco em eficiência e disciplina orçamentária, ou seja, foco naquilo que é essencial. Já é uma prática nossa e no momento atual é ainda mais fundamental focar naquilo que é essencial para a operação das companhias. Não é momento para excessos; é fazer o que é necessário, o que é prioritário. O que é nice to have pode ficar para depois”, Britaldo Soares, presidente da AES Brasil.

“Vamos manter os investimentos, mas devemos ter um nível de severidade no controle de custos maior do que o habitual”, Rodrigo Kede, presidente da Totvs.

“Nossa diretriz básica para a equipe da área de finanças é: revisitar todos os contratos com fornecedores no sentido de sua redução, ampliar os níveis de encaixe e analisar os investimentos dentro de uma perspectiva de retorno mais longínqua do que a original. Ou seja, estamos trabalhando em cima da hipótese de que nos próximos dois anos a economia continuará em cenário ruim, então vamos pensar em retorno daqui a dois anos e não em um ano. Mas não vamos deixar de fazer os investimentos”, Fernando Alves, presidente da PwC Brasil.

“Vou dizer isso não como um guideline financeiro, mas o que eu tenho falado para o time é: foca na solução e não no drama. Não perde tempo discutindo o drama; investe tempo discutindo a solução. Não estamos deixando de investir em absolutamente nada do que tínhamos planejado para este ano e o ano que vem. Óbvio, assim como todos, estamos gerenciando despesas de uma forma bastante rígida, mas não mexemos em investimento. Seguimos com a estratégia que foi definida, apesar das dificuldades do país”, Marcelo Porto, presidente da IBM Brasil.

“É legal ver que os principais líderes do Brasil estão tratando a crise com bastante serenidade e controle. A forma de lidar com a crise, olhando para o médio e longo prazo é muito importante. Muitos CEOs que participaram no palco reportam a investidores externos e percebeu-se que não há recuo ou desistência, mas uma eventual postergação ou um olhar mais atencioso para a gestão de riscos. Então, esse é um saldo importante que tiramos do evento e mais uma vez o IBEF SP traz essa discussão em um momento muito oportuno”, José Cláudio Securato, presidente do IBEF SP e da Saint Paul Escola de Negócios.

Visão compartilhada

Os CEOs convidados, o economista Octavio de Barros e membros da Diretoria Vogal, dos Conselhos e da Diretoria Executiva do IBEF SP tiveram a oportunidade de compartilhar impressões em um almoço de confraternização, reservado, após o encerramento do evento.

Entre os insights da discussão, está o de que o setor privado deve se posicionar e adotar postura mais ativa para a criação de uma agenda institucional de peso para o país. Um dos principais itens dessa agenda deve ser o apoio para a viabilização do tão necessário ajuste fiscal.

O grande desafio para o país no momento, após a perda do grau de investimento por parte da agência de classificação de risco Standard&Poor’s, no final de julho, é evitar que esse movimento seja repetido pelas agências Moody’s e Fitch. Se isso ocorrer, o fluxo de investimentos internacionais para o país será dificultado.

Sergio Rial participa do almoço (centro), na companhia de Rômulo Dias, CEO da Cielo, Rodrigo Kede, presidente da Totvs (esqu.), e Britaldo Soares, CEO do Grupo AES Brasil, e Fernando Alves, CEO da PwC Brasil (dir.).

Nesse sentido, a crise atual não deve ser “desperdiçada”, tendo em vista que nos momentos mais difíceis surge a oportunidade para a realização de reformas mais incisivas, que dificilmente encontrariam espaço em um momento de estabilidade.

Sergio Rial, presidente do Conselho de Administração do banco Santander, parabenizou o IBEF SP por ter organizado o evento e pelo mesmo ser uma tentativa para que o setor privado ajude a pensar um Brasil cada vez melhor, mostrando uma postura construtiva com sugestões concretas, e não simplesmente diagnóstico.

“Mais importante que o ajuste que precisa ser feito no país, é nós realmente pensarmos em um país competitivo; um país que estará pensando, durante essa crise, em uma agenda de produtividade”, completou Rial.

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